Adair Oliveira
John Brickman um dos maiores construtores da Inglaterra do século XIX e criador do sistema hipotecário. Marlon Brando um dos grandes astros do cinema americano. Em comum, a necessidade por um lar. E a partir desse mote da vida desses dois personagens parte a peça Brickman Brando Bubble Boom, da Agrupación señor Serrano e co-produzido pelo Centre d’Arts Escèniques de Terrassa, um dos grupos estrangeiros que fizeram parte da programação da 16ª edição do Festival Internacional Cena Contemporânea.
A dramaturgia documental é construída por meio de fotos, vídeos, mapas a respeito dos personagens e projetos em placas de isopor que vão sendo transformadas em uma casa pelos quatro atores em cena. A partir desse inventário ocorre o cruzamento das vidas de Marlon Brando (a pessoa e não o ator): da problemática infância com os pais, os vários casamentos, compras de mansões e ilhas que não preencheram o vazio deixado por essas experiências. E John Brickman: nascido em um barraco pintado de azul que contrui carreira e fortuna no ramo imobiliário, mas terminou seus dias sozinhos trancado em um quarto de seu palácio vivendo em um barraco pintado de azul construído no mesmo espaço.
Dentro desse eixo o espetáculo abre uma terceira via para discussão à crise econômica que afetou o setor imobiliário na Espanha, iniciada no ano de 2008. O problema vem afetando inúmeras famílias por meio de ações de despejos, que argumentam o fato do país possuir mais de dois milhões de casas vazias que poderiam ser ocupadas.
No final a casa é destruída, com isso remetendo a violência sofrida pelas pessoas que foram despejadas de seus imóveis. Brickman Brando Bubble Boom é um desses trabalhos da arte contemporânea, cuja liberdade da criação narrativa lança um olhar para debatermos a política contemporânea.