(acima) Cena de Para a minha amada morta, de Aly Muritiba

Adair Oliveira

A palavra crise pode ser escolhida para falarmos a respeito do terceiro dia da mostra competitiva do Festival de Cinema de Brasília. Ou melhor, a riqueza de camadas geradas por ela, quando percebidas e bem exploradas, potencializam a construção de personagens numa narrativa. No longa Para a minha amada morta, de Aly Muritiba, essa operação é mostrada a partir da perspectiva de Fernando (Fernando Alves Pinto). Depois da morte de sua esposa Ana (Michelle Pucci), o viúvo resume seu cotidiano ao trabalho, cuidar do filho Daniel (Vinícius Sabbag) e, todas as noites, recordar o seu amor arrumando as coisas da amada morta.

Tal idealização é elevada ao encontrar uma caixa com várias de fita VHS da com memórias da infâncias, mas, em uma delas, gravações de sexo feita com o amante Salvador (Lourinelson Vladimir). Diante disso, Fernando vai em busca de Salvador, um mecânico evangélico e entra no núcleo familiar: primeiro a partir da igreja, depois alugando a casa dos fundos. Em seguida, na intimidade da mulher de Salvador, interpretada pela atriz Mayana Neiva e da filha adolescente vivenciada por Giuly Biancato, criando a cada momento a expectativa de que algo violento irá acontecer.

“É um filme sobre luto e purgação desse luto, então, sim, há uma forte carga dramática”, conta Aly sobre o filme, que complementa, “eu quis construir uma narrativa no qual a vingança fosse pulsão e não o resultado de uma ação construída, um personagem que implodisse. E partir disso operar as tensões contidas na história.

Sobre o diretor — Aly Muritiba tem formação de ex-agente penitenciário e graduou-se em História na Universidade de São Paulo (USP). Nesta edição do festival de Brasília compete com o curta-metragem Tarântula, recentemente integrou a programação do Festival de Veneza.


Curtas

Cidade Nova, de Diego HoefelJoão (João Campos) tenta voltar para a cidade onde nasceu, mas descobre que e cidade natal foi coberta por águas. Diante disso, a condução da história mostra um personagem que acaba se tornando um estrangeiro na cidade natal, agora substituída por outra natal.

CopyLeft, de Rodrigo Carneiro — Pedro (André Nakau) acaba se confrontando com uma imagem que não o representa – uma identidade heteronormativa. No caminho da busca, as marcas da violência vão se imprimindo sobre o corpo vulnerável do jovem. “É uma filme sobre mim que vem lá atrás quando decidi fazer cinema e fui censurado pelo meu pai e a minha repressão sofrida pela minha orientação sexual”, conclui.


Logo mais !!!

A partir das 20h30, Cine Brasília (106/107 Sul)
Quintal, de André Novais Oliveira, 20min
Afonso é uma Brazza, de Naji Sidki e James Gama, 24min
Big Jato, de Claudio Assis, 93min,
Classificação indicativa | 14