Um dia depois da aprovação relâmpago (em 5 minutos!) da moção de dez linhas que anunciava a saída da base aliada do Governo Dilma, o PMDB celebrou, em sessão solene no Plenário da Câmara dos Deputados, o cinquentenário do partido. Vários parlamentares se enfileiraram para exaltar a “bela história do PMDB na defesa da democracia nos últimos 50 anos”, dos quais, vale ressaltar, 13 estiveram ao lado do PT.
Fingindo não estar preocupado com o abandono do PMDB, Jaques Wagner, agora chefe de gabinete da presidência, mas ainda com status de ministro, acredita que o momento é uma chance para “repactuar” o governo. A estratégia agora é tentar evitar a debandada dos outros partidos da base e conquistar parlamentares oferecendo cargos de segundo escalão no varejo. Além dos mais de 500 cargos que o PMDB prometeu devolver, o Governo disponibilizou R$ 50 bilhões no orçamento para negociar votos contrários ao Impeachment.
Receando a saída geral de partidos, o Palácio do Planalto se empenha nas negociações com PSD, PP e PR. Estes anunciaram que por enquanto não vão se precipitar, preferem aguardar o desenrolar das negociações para saberem se permanecem ou se pulam do barco.
A surpresa para a equipe de Dilma é que há dois balcões para o mesmo produto. Lideranças do PMDB já negociam a coalizão de um possível Governo Temer. A grande questão para os partidos fisiológicos que restaram na base aliada não é decidir se saem ou se permanecem no governo, e sim em qual governo querem estar.
Dilma, no entanto, está em desvantagem em relação a Temer. Os partidos indecisos poderiam numericamente salvar seu governo, mas as lideranças não conseguem manter a unidade na votação do Impeachment. Há parlamentares de partidos da base que se dizem independentes, no entanto com um discurso altamente oposicionista ao Governo, exemplo disso são os senadores Magno Malta (PR/ES) e Ana Amélia (PP/RS).
Diante do cenário notoriamente desfavorável para a presidente Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores convoca para o dia 31 de março uma grande manifestação em favor do governo. Parlamentares petistas mobilizam suas bases contra o processo que afirmam se tratar de um golpe. Embora entoem gritos de “não vai ter golpe”, governistas fieis admitem pelos bastidores que o impedimento da presidente é inevitável.
Ironicamente, o partido cúmplice e igualmente responsável por toda crise quer se apresentar como a solução para o país. Pode não ter sido um golpe contra a democracia, mas é inegável que foi um golpe baixo.
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