Depois de Belo Horizonte e Rio de Janeiro chega à Brasília a recente produção da novíssima geração de artistas radicados em Berlim, após a queda do Muro. 

Entre o caos aparente e a febre criativa, Berlim – palco de acontecimentos decisivos na história mundial recente – transborda arte por todos os lados. E a exposição Zeitgeist – arte da nova Berlim, que chega no dia 27 de julho ao CCBB Brasília reúne um panorama consistente da produção da respeitada comunidade artística que se concentra na cidade num movimento que começou com o fim da Guerra Fria. Uma palestra com o Sven Marquardt – o mais popular host do famoso Berghain, clube underground de música techno de Berlim – e com o curador da mostra Alfons Hug, agendada para o dia 1 de agosto – será uma das atrações da mostra.

Marcada por duas guerras mundiais e dividida pelo Muro durante quase três décadas, a capital da Alemanha se reergueu das cinzas. Da vida improvisada dos anos 1990, as contradições que caracterizaram a cidade, reinventada a partir de dois mundos, acabaram por formar, pouco a pouco, o Zeitgeist – espírito de uma época, a partir do qual a arte, a cultura e as relações humanas evoluem – que hoje projeta sua influência muito além da Europa Central e atrai artistas do mundo todo com seu magnetismo.

Pintura, fotografia, videoarte, performance, instalações e a cultura dos famosos clubs berlinenses, na visão de 29 artistas dentre os mais destacados da arte contemporânea, compõem o mosaico da exposição Zeitgeist, que aproximará o público brasileiro da realidade artística e cultural de uma Berlim contraditória e fascinante, plural e diversa, que desconhece limites quando se trata de pensar e viver a arte e se reinventar.

Isso sem falar das famosas festas dos clubs berlinenses com performances, Djs e Vjs que movimentarão o CCBB Brasília durante a exposição. Festas essas que tiveram um papel importante no mundo das artes em Berlim, onde os clubs ganharam status de art spaces, onde a música eletrônica divide espaço com performances, vídeos e fotografias, entre outras expressões artísticas. E o público brasiliense poderá vivenciar essas festas nos dias 19 de agosto, 16 de setembro e 12 de outubro, no encerramento da exposição.

Caminhos para a arte da nova Berlim 

O percurso concebido para a mostra Zeitgeist é uma oportunidade de vivenciar alguns dos aspectos que fazem de Berlim um lugar encantado entre extremos, e que são recorrentes no modo de existir da metrópole. Como observadores atentos da vida da cidade, do mesmo modo que o pintor Adolph von Menzel (1815-1905), um dos maiores representantes do realismo alemão, os artistas da mostra exibem aspectos marcantes da capital da Alemanha. E o curador Alfons Hug indica seis caminhos conceituais que podem ser percorridos na exposição.

Tempo que corre e tempo estagnado – Aborda questões que transitam entre aceleração e estagnação, tempo-espaço e tempo próprio, presente e futuro. Artistas como Michael Wesely e Mark Formanek aprofundam esses dilemas e lidam com as diferentes noções de tempo na terra dividida.

artista Michael Wesely foto Eduardo Eckenfels (2)

A ruína como categoria estética – A busca do sentido de beleza entre marcas de destruição, abandono, deterioração e devastação humana, explorados por Frank Thiel e Thomas Florschuetz (fotografias de grande formato), Cyprien Gaillard (vídeo) e Tobias Zielony (projeção de sete mil fotografias individuais).

Le Vele di Scampia artista Tobias Zielony foto Eduardo Eckenfels

Eterna construção e demolição – Remete a esses dois verdadeiros leitmotivs que perpassam o cotidiano de Berlim e permeiam toda a exposição, entre a fúria construtiva que deseja apagar o passado e a melancolia associada ao abandono de muitas construções e espaços em ruínas. É aí que o olhar de artistas como a dupla Julius von Bismarck e Julian Charrière, Thomas Rentmeister, Kitty Kraus e o brasileiro Marcellvs L cria novas possibilidades para tratar essa tensão aparentemente eterna.

H Milch II artista Thomas Rentmeister

O vazio e o provisório – Uma tentativa de elaboração das formas criativas, espontâneas e muitas vezes ilegais de ocupação dos grandes espaços baldios ou semidestruídos que o pós-guerra gerou na cidade. A grande quantidade de usos temporários que foram ocorrendo acabou se mostrando benéfica sobretudo para a cena cultural, pois onde não há nada tudo é possível.

Em sua pintura, Thomas Scheibitz se vale de extremos (formas duras e estruturas claras se mesclam com elementos flexíveis em ousadas colorações), enquanto a melancolia de Sergej Jensen espalha tons de cinza e marrom sobre restos de tecidos puídos e simples panos de saco, usados como base para as pinturas. Norbert Bisky é influenciado por uma variedade de referências, desde imagens de heróis e realismo socialista até mitologia, religião e cotidiano, como na pop art. Franz Ackermann, por sua vez, transforma mapas, anotações e cadernos de viagens em grandes pinturas a óleo.

Enclosure artista Thomas Florschuetz foto Eduardo Eckenfels

Hedonismo cruel – Descortina as peculiaridades de Berlin Mitte, espécie de “terra de ninguém” onde surgiu uma curiosa e original cena de clubs, que fez brotar das ruínas as primeiras festas em espaços improvisados e usados temporariamente. Sobre esse segmento se debruçam as fotografias que compõem a sombria série Kubus, de Friederike von Rauch e Martin Eberle. E também as instalações de Marc Brandenburg, criadas a partir de motivos extraídos do cotidiano da área e da vida nos clubs. Os vídeos de Julian Rosefeldt e Reynold Reynolds, ambientados nos anos 20 e 30, resgatam as lendárias noites de Berlim, que naquela época já tinha a fama de “Babel dos pecados”. Completa este segmento a sala “Clube Berlim” com música eletrônica de sete DJs de Berlim e uma instalação visual/sonora com fotografias de Sven Marquardt e música de Marcel Dettmann.

artista Sven Marquardt e Marcel Dettmann foto Eduardo Eckenfels

Novos mapas e os outros modernos – Investiga o redesenho da cartografia da cidade e da própria Alemanha, assim como suas relações com o resto do mundo após a queda do Muro, a partir do ponto de vista de uma arte que prefere se manifestar em terreno irregular, esburacado e incompleto. A nova Berlim se distancia do eurocentrismo e fertiliza uma arte plural, que reconhece e abarca a diversidade do mundo. Nesse panorama se insere o vídeo A caça, de Christian Jankowski, que incorpora novos elementos a uma visão diferenciada da arte.

Le Vele di Scampia artista Tobias Zielony foto Eduardo Eckenfels

Serviço

Zeitgeist– arte da nova Berlim

Coletiva que reúne obras de 29 artistas da recente cena berlinense.

Local:

Centro Cultural Banco do Brasil Brasília

SCES, Trecho 02, lote 22

CEP: 70200-002 | Brasília (DF)

Tel.: (61) 3108-7600

Funcionamento: de quarta a segunda, das 9h às 21h

Entrada gratuita

Classificação indicativa: livre

Abertura para o público: 27/07 (quarta-feira) às 9h

Performance Standard Time: 30 e 31/07 (sábado e domingo) das 9h às 21h

Palestra com o curador Alfons Hug e o artista Sven Marquardt: 1/08 (segunda-feira) às 20h no Teatro 1.

Retirada de senhas na bilheteria a partir das 19h.

Festa 1: 19/08 (sexta-feira) 21h às 3h

DJ, VJ, performance Standard Time do artista Mark Formanek e a performance

Temporary Tattoo do artista Marc Branderburg

Festa 2: 16/09 (sexta-feira) 21h às 3h

DJ, VJ, Maurício Ianês com sua performance Nãonão e a coletiva CÃO, uma

apresentação com música eletrônica e Maikon K com a performance DNA de DAN

Festa 3: 12/10 (quarta-feira- feriado) aniversário de Brasília e do CCBB

DJ, VJ, performance Standard Time, além de estrutura de foodtrucks com comidas e

bebidas alemãs.

Período: de 27/07/2016 a 12/10/2016

De quarta a segunda de 9 às 21h

Curadoria: Alfons Hug

Realização: Centro Cultural Banco do Brasil

Apoio Institucional: Goethe-Institut e Embaixada da Alemanha

Produção: Madai Produções