As próximas Surdolimpíadas acontecerão em 2017, na Turquia, e até agora houve pouca ajuda financeira aos atletas
“As olimpíadas do Rio de Janeiro tiveram uma verba de R$ 30 milhões, e nós, os surdos, só precisamos de R$ 3 milhões para as Surdolimpíadas”, desabafa Deborah Dias, Presidente da Confederação Brasileira de Desportos dos Surdos (CBDS), em coletiva de imprensa no Café Le Rouge, na manhã desta quinta, 22. Ex-jogadora surda de futsal, afastada devido a uma lesão no joelho, ela já participou do Mundial na Suécia, em 2011, do PanAmericano, em 2012 e do SulAmericano em 2014, conseguindo medalha de ouro. “Na Suécia, Brasil ficou em último lugar no futsal, já nas últimas Surdolimpíadas, em 2013, na Bulgária, ficamos em segundo lugar, perdendo apenas para a Rússia. Foi um trabalho árduo”, conta.
Mas, para se ter esse trabalho árduo dos atletas, é necessário patrocínio – e ele está em falta nas Surdolimpíadas. “Os atletas paralímpicos ganham bolsa de 4 anos, já nós, os surdos, que temos olimpíadas separadas, só ganhamos 1 ano de bolsa”, explica Deborah. Ela ainda conta que o ideal seria levar todos os 220 atletas para competir em 2017 na Turquia, mas o maior número já conseguido foi apenas 33, em Sofia, no ano de 2013. São 14 modalidades inclusas nas Surdolimpíadas – atletismo, badminton, ciclismo e mountain bike, futebol, handebol, judô, karatê, natação, orientação, taekwondo, tênis de mesa, vôlei, vôlei de praia e wrestling. Além dos 220 atletas, 34 membros técnicos e 35 pessoas da equipe de apoio também precisam viajar para a Turquia. Até dezembro deste ano, é necessário ter tido boa negociação com os patrocinadores, pois, em março de 2017, as taxas de participação devem estar pagas à Delegação ao Comitê Organizador.
As Surdolimpíadas (Deaflympics) surgiram em 1924. Em 2017, será a 23a edição em Samsun, Turquia. O Comitê Paralímpico segue as diretrizes do IPC (International Paralympic Committee) para classificar os atletas e, segundo o IPC, os surdoatletas não se enquadram na categoria paralímpica, uma vez que podem participar de disputas convencionais. Outra justificativa é que o Comitê Internacional de Desportos de Surdos (ICSD) não é filiado ao Comitê Olímpico Internacional (COI) ou ao IPC. Tal como ocorre no mundo dos esportes, no campo legal os surdos também permanecem isolados. Mesmo as instituições públicas desrespeitam a legislação destinada a dar ao surdo acesso às informações. Um exemplo disso é que existem hoje 23 TVs estaduais que deveriam incluir em sua programação algum sistema que permitisse acesso do surdo aos seus conteúdos, no entanto isso não é respeitado.
Deborah Dias, João Renato, Esmeralda Castro e Tatyana Dé Carli
Créditos: Divulgação