Não é sobre rosas, é sobre direitos.

Como tantas outras datas comemorativas, o Dia Internacional da Mulher é hoje só mais um pretexto para comerciais temáticos, felicitações mecânicas e todo aquele protocolo de praxe. O chefe dá uns bombons aqui, o maridão vem com flores, o Facebook é só meiguice, rola descontinho nas lojas de cosmético e por aí vai.

Lógico que todo mundo – mulheres e homens – gosta de ser mimado de vez em quando, mas a questão aqui é outra. É sobre o quão vazio de significado se tornou a coisa toda. Pois, afinal, o que a gente comemora nessa data? É só um dia criado para desencalhar rosas nas floriculturas? Com certeza não.

Então bora falar um pouco sobre história. Como o nome já diz, o 8 de março é uma data internacional e a sua origem tem a ver com sofrimento e luta por direitos. Neste dia, em 1857, houve uma grande greve numa fábrica de Nova York por parte de operárias que pediam melhores condições de trabalho. Elas pararam a fábrica exigindo redução da carga horária (que era de 16 horas por dia) e pagamento digno (pois faziam o mesmo trabalho que os homens e ganhavam um terço do salário).

Em resposta, essas mulheres foram trancadas dentro da fábrica e o prédio foi incendiado. Estima-se que 130 operárias morreram carbonizadas naquele dia. Mais de um século depois, em 1975, a ONU oficializou o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, em homenagem às vítimas da chacina.

Mas quantas pessoas conhecem o real significado dessa data? O que dizem as homenagens impressas em papel cor de rosa que nós recebemos todos os anos do RH? “As mulheres constituem a metade mais bela do mundo – Jean-Jacques Rousseau” ou algo que o valha. Já reparou como as felicitações do dia 8 de março adoram enaltecer o nosso papel decorativo no mundo? É uma ode à nossa feminilidade, sempre associada a batom e salto alto. Experimente fazer uma rápida pesquisa no Google Images, ou mesmo no seu feed do Facebook.

Só que na essência essa data carrega um significado totalmente diferente. Na real, devia ser um dia para que a gente justamente questione essa idealização do que é ser uma mulher digna de homenagens.

Esse também deveria ser um dia para que a gente reflita um pouco sobre as lutas diárias. Sobre os incêndios simbólicos que ainda temos de enfrentar. Sobre o fato de que as mulheres estão lutando há séculos, e de que muito já foi conquistado, mas ainda há muita luta pela frente. É também sobre a importância do coletivo. Tem mulher que ~chegou lá~ e que já não precisa mais reclamar o salário injusto. Mas teve mulher que queimou na fogueira para que as coisas mudassem. E tem mulher que ainda queima! Seja no chão de fábrica, no relacionamento abusivo, na maternidade compulsória, na culpabilização pós-estupro, no assédio diário…

Lógico que essa é uma reflexão para ser feita todos os dias, mas já que temos uma data para simbolizar a nossa história de lutas, então que ela seja honrada à altura. Pois bem, mundo: valeu pelas flores, mas ao invés de um simples (e passivo) “obrigada”, a gente tem muuuuuito mais a dizer. E a fazer!

Créditos: M de Mulher