Saiba porque não se deve seguir dietas da moda

Banir o arroz, as massas, o pão e até alguma fruta provoca uma perda de peso rápida. A maior desilusão de uma pessoa que passa pela privação de hidratos de carbono não é ficar na mesma, porque, de facto, nestas dietas perde-se peso de forma rápida. A maior desilusão é voltar aos mesmos quilos (ou até mais) quando se deixa a restrição e se regressa a uma alimentação completa (ninguém pode viver sem hidratos). Além disso, se a gordura animal, consumida para compensar a ausência de outros nutrientes, não for doseada, a saúde pode sair prejudicada (os rins são os primeiros a serem afetados). Nos casos mais radicais, até se elimina a sopa, frutos (os mais açucarados) e alguns vegetais (como a cenoura ou a abóbora, por exemplo), fundamentais para ajudar na eliminação de gorduras.

Um estudo prospetivo, que envolveu 82 802 mulheres durante 20 anos, estabeleceu uma relação entre as dietas de baixo consumo de hidratos de carbono e as doenças cardíacas e também o risco de diabetes. As que optavam por aumentar o consumo de vegetais apresentaram um risco 30% menor de vir a sofrer de problemas do coração e diminuíram em 20% a hipótese de desenvolver Diabetes do tipo 2. As que insistiam na sobrecarga de proteínas e gordura animal não usufruíam desses benefícios. Outro estudo da Universidade da Califórnia, após seis meses de análise, chegou à conclusão que as mulheres com peso a mais perdiam a mesma quantidade de quilos, caso estivessem numa dieta baixa em hidratos ou baixa em gorduras – o que retirou força aos que defendem que só com um regime sem hidratos promove, de facto, um emagrecimento substancial.

JEJUM INTERMITENTE
Durante dois dias por semana não se pode ultrapassar as 500 ou 600 calorias. Nos restantes cinco, dá para comer de tudo

A proposta já tem três anos e chegou através do livro A Dieta dos 2 Dias (Fast Diet, no original), de Michael Mosley, um produtor da BBC com formação em medicina, em parceria com Mimi Spencer, jornalista na área da alimentação, também ela praticante da dieta. Surgiu como “uma estratégia sustentável para uma vida saudável e longa”.

Mas a verdade é que há muito pouca evidência acerca dos seus efeitos a longo prazo: as guidelines do NHS (serviço nacional de saúde britânico) são claras: “Apesar da sua incrível popularidade, há muita incerteza acerca da Fast Diet, com significativos lapsos de evidência”. E aponta para os possíveis efeitos secundários, como dificuldades em adormecer e em respirar, irritabilidade, ansiedade, desidratação e sonolência.
No entanto, a ciência por trás desta dieta é simples – se não se consome energia suficiente, o corpo vai às reservas de gordura. Mas a nutricionista Iara Rodrigues acentua que essa citogénese provocada pela privação altera completamente o funcionamento do corpo. “Não se trata de um programa de reeducação, nem vai regrar os hábitos alimentares. E até pode criar mais dependência da comida.”

DETOX
Sumos e sopas para “limpar” o corpo e com isso lá se vão uns quilinhos

Para começo de conversa, o corpo, desde que bem alimentado, sabe desintoxicar-se sozinho, através do fígado, rins e intestinos. Para continuação, saiba-se que não existem estudos que recomendem os sumos detox como uma alternativa saudável na perda de peso. E por isso, a discussão é sempre quente quando surge este tema. A nutricionista Mariana Chaves não se admira com o facto de as pessoas que alinham neste tipo de refeições perderem peso. “Ao ingerir muitos líquidos, perde-se muita água e músculo, logo reduz-se o volume. Mas é tudo fictício e temporário. Além disso, uma alimentação à base de sumos tem obrigatoriamente muitas carências”. Ao retirar-se a polpa dos frutos ou vegetais, vão-se as fibras e fica o açúcar, que é mais rapidamente absorvido.

Iara Rodrigues defende que este tipo de “limpeza” só pode ser utilizado em situações muito específicas, sempre com supervisão, para introduzir outro tipo de dieta. E nunca resume a coisa a uns sumos verdes. “Há que recorrer a frutos secos, sementes e superalimentos para compensar as outras supressões.”

Deve-se dar especial atenção a quem sofre de diabetes, porque este tipo de restrição alimentar pode levar a níveis de açúcar momentaneamente baixos.

PALEOLÍTICA
O princípio desta dieta é alimentar-se como homens das cavernas

Seguir uma alimentação inspirada no Paleolítico (até 10000 a.C.) até tem as suas vantagens. “É bastante saudável, porque consome-me muita fruta, vegetais, carne e peixe, não permite produtos processados nem açúcar refinado. Mas depois peca por não contemplar os grãos nem os laticínios”, nota a nutricionista Mariana Chaves.

Além disso, é preciso não esquecer que “hoje em dia não estamos nem perto da atividade dos caçadores-recoletores que inspiraram esta dieta” disse o professor Sof Andrikopoulos, da Universidade de Melbourne, ao Huffington Post, depois de ter publicado um estudo no Journal Nutrition and Diabetes, em que usou dois grupos de ratos com sintomas pré-diabéticos e pô-los a comer como os homens das cavernas. Mas, passadas oito semanas, o rato que ingeria mais altas quantidades de gordura (esta dieta é muito proteica) aumentou o peso, assim como os níveis de insulina.

SEM GLÚTEN
A ordem é para dispensar bolos, bolachas, massas e outros alimentos

O glúten é uma proteína presente em alguns cereais, como o trigo, a cevada e o centeio, e só por si não engorda ninguém. O que engorda são alguns produtos feitos a partir de cereais, como bolos e bolachas. E na verdade o glúten só faz mal a quem é intolerante ou sofre de doença celíaca. Mas como há uns anos as celebridades de Hollywood começaram a atribuir a sua magreza ao facto de terem deixado de ingerir glúten, de repente o mundo (e a indústria) virou-se para esse lado. Mas esqueceu-se de olhar para o índice glicémico dos alimentos que naturalmente não têm glúten (arroz, por exemplo) e para as letras miudinhas que descrevem a composição da maioria dos produtos que pretendem substituir os que levam glúten. “Usam cereais mais refinados, com muita gordura e açúcar. As bolachas sem glúten, por exemplo, podem ser piores das que são feitas a partir do trigo”, avisa a especialista Iara Rodrigues que desaconselha totalmente esta “moda tonta”.

Cuidado com dietas restritivas. Ingestão de poucas vitaminas, são um perigo para saúde.

Créditos: Visão