Apartamento em Brasília destaca a beleza do concreto

O que era belo em 1966 ainda é trunfo nos dias atuais. Assim pensam os arquitetos Daniel Mangabeira, Henrique Coutinho e Matheus Seco, a trupe do escritório brasiliense Bloco Arquitetos. Na reforma que durou seis meses e teve o auxílio da também arquiteta Tatiana Lopes, a ordem era devolver ao apartamento de 120 m² o máximo possível de seus traços originais, desenhados pela arquiteta Mayumi Watanabe, japonesa naturalizada brasileira que trabalhou ao lado de Vilanova Artigas, Joaquim Guedes e Lina Bo Bardi.

O endereço na Asa Norte do avião de Lúcio Costa convive bem com as pequenas imperfeições do materiais brutos. Exemplo disso pode ser conferido nas paredes perimetrais de concreto, que venceram diversas camadas de tinta e reboco das reformas anteriores para que pudessem ser exibidas com orgulho. O cuidado na recuperação dos materiais mereceu atenção especial da equipe de obra. Dessa maneira, a madeira maciça do piso, as pedras de bancadas de serviço e o concreto mantiveram seu aspecto mais rústico e natural, enquanto as outras texturas que agora complementam o projeto – MDF, ladrilho hidráulico, serralheria e pintura – ganharam acabamento liso para marcar sua chegada recente ao espaço.

Com desenho do escritório, a grande estante que atravessa o estar e vai até a cozinha age como uma divisória entre a área social e o ambiente íntimo. No trecho oposto ao da sala, ela é armário de brinquedos para o quarto infantil; já do outro lado virado para a cozinha, ela abriga o roupeiro do casal. Solução que demonstra inteligência arquitetônica na distribuição dos armários (Kaizen Marcenaria) e capricho no design.

Um amplo sofá modular aproveita a área livre do estar sem pesar no ambiente – camuflar o tom caramelo da peça entre os tacos de peroba-mica dispostos no padrão espinha de peixe torna o visual mais leve e elegante. No espaço de refeições, os traços simples das cadeiras de Marcel Breuer combinam-se com a mesa de jantar Caetano Fox, assinada por Aristeu Pires, completando o conjunto. A tela na parede leva a assinatura do artista brasiliense Bruno Goldenberg.

O lavabo ganhou piso de ladrilhos hidráulicos da Dalle Piagge e brinca com o efeito geométrico das peças para alegrar a base neutra. O mármore branco também aparece no banheiro social, desta vez na companhia do porcelanato hexagonal que reveste pisos e paredes – a cor, aqui, ocupa apenas o laminado melamínico do armário sob a pia, também desenhado pela equipe do escritório.

Créditos: Casa Vogue