Não se assuste se, de repente, os marrons parecerem mais interessantes ao seus olhos, se o verde musgo (ou militar) se tornar, sem aviso prévio, sua cor favorita ou se o rosa claro passar a te acompanhar por onde você for. Quem gosta de decoração e moda já deve ter percebido: os tons terrosos estão com tudo, são uma tendência absoluta em 2017 e prometem nos acompanhar pelos próximos anos que estão por vir – pense em pelos menos mais 6 anos!
O que até mesmo os olhares mais atentos podem deixar passar despercebido é que essa paleta cromática ressurgiu nas nossas vidas por um motivo bem claro: trazer mais conforto para a correria contemporânea e nos reconectar com nossa ancestralidade.
“O movimento que acontece agora é muito similar ao dos anos 1970, quando surgiu no mundo o conceito de sustentabilidade. Mas o fenômeno de hoje vai mais a fundo. Antes, falava-se em salvar a natureza. Hoje, além disso, precisamos nos reconectar profundamente com ela”, explica Ana Kreutzer, consultora de cores, dona do Estúdio Prisma.”A busca por tonalidades terrosas é apenas uma dos aspectos da nossa reaproximação com a Terra”.
E é verdade. Nunca se falou tanto de alimentação saudável e sustentável. Todos buscam por comida orgânica, tanto que alguns até passaram a cultivar hortas em casa para colocar as mãos na terra. Aprender a cozinhar, ou mesmo a fazer os próprios cosméticos, virou, mais que necessidade, um hobbie. Na decoração, a tendência da floresta urbana trouxe para os interiores uma verdadeira selva verde. Na hora de fazer compras, a palavra “consumo” ganhou o complemento “consciente”. Gerar menos resíduo e lançar mão de uma cadeia de produção socialmente responsável passa a ser pré-requisito – isso sem falar no movimento que incentiva o consumo de pequenos produtores em detrimento a grandes cadeias. Meditação, ioga e espiritualidade são assuntos frequentes. Tudo isso para se ter uma vida mais humanizada e equilibrada.
“Além de certo êxodo rural que está acontecendo, passou a ser um desejo comum na sociedade trazer o rural para o ambiente urbano ao mesmo tempo que se verticaliza o campo.”, completa Lili Tedde, trendhunter que representa Li Edelkoort no Brasil. “Cores básicas e neutras compõem esse ambiente de espírito humilde e honesto.Móveis e materiais feitos de madeira, vime, cera de abelha, barro e fibras naturais completam essemood“.
A conexão entre as nuances terrosas e a busca por uma vida mais saudável e partilhada com a natureza fica mais fácil de entender se lembrarmos das técnicas de tingimento natural usadas no trabalho criativo manual. Quando se usa matéria-prima não industrializada, as cores mais fáceis de se alcançar são aquelas presentes nos minerais e nos vegetais. “Para entender uma tendência como funcionam as tendências, é bom evocar a imagem de um pêndulo, objeto que sempre busca o equilíbrio. Se algo pesa para um lado – como aconteceu nas duas últimas décadas com o aceleramento da alta tecnologia – é natural que busquemos o extremo oposto para voltar ao conforto”, exemplifica Ana Kreutzer. E se olharmos ao redor, os objetos que nos reconectam com nossas origens, feitos artesanalmente, nunca foram tão valorizados – Tanto que a filosofia do wabi-sabi voltou a ser tendência!
Mas isso não significa que a sociedade está se voltando contra a progresso. O que acontece no âmbito comportamental é apenas um reposicionamento. A tecnologia facilitou a comunicação e distanciou a conexão humano. A ordem agora é retomar valores que foram se perdendo e ressignificar a tecnologia para que ela também seja usada em prol do bem estar ao ser humano.
Podemos esperar uma temporada repleta de tons mais sóbrios que remetem à argila, de laranjas terrosos e rosados, rosas queimados – como o millennial pink, rosa claro que carrega consigo um verdadeiro manifesto social – e também orgânicos, que têm característica similar, como o mostarda, o verde abacate e os verdes com uma grande carga de amarelo na composição, como o Greenery, eleito pela Pantone como a cor de 2017.
“Como o próprio nome diz, eles surgem da terra, da superfície do nosso planeta, são compostos de matérias orgânicas decompostas, nutrientes primários da planta. A terra é maleável, solida e flexível, atraente para tocar, cheirar e lidar. É aonde encontramos o equilíbrio e está associada ao amor, segurança e planejamento. Símbolo de regeneração. Trata-se de uma busca do homem em se reconectar com a natureza’, finaliza Lili Tedde.
Veja abaixo uma seleção com vários ambientes que trazem os tons terrosos na decoração.
Créditos: Casa Vogue