Agorafobia é um transtorno psicológico que está fortemente ligado a ataques de pânico. Embora possa existir agorafobia sem uma história prévia de transtorno do pânico ou ansiedade, o mais comum é que ambos caminhem juntos. Por esta razão, é necessário definir os dois conceitos e nos situarmos em um quadro conceitual mais completo. Dessa forma, o leitor entenderá melhor o que é a agorafobia.
As crises de angústia, também conhecidas na literatura científica como ataques de pânico ou ansiedade, envolvem o aparecimento súbito, de forma isolada e temporária, de medo ou mal-estar intensos. Geralmente é acompanhado por alguns sintomas característicos, tanto fisiológicos (palpitações ou coração acelerado, sudorese, tremores, falta de ar ou asfixia, aperto no peito, náusea ou desconforto abdominal, tonturas) como cognitivos (sensação de irrealidade, também chamado de desrealização, alteração na percepção de si mesmo ou despersonalização, acreditar que está perdendo o controle, que está enlouquecendo ou que vai morrer).
Obviamente, quando você experimenta todas essas manifestações fisiológicas de forma repentina, o seu padrão de pensamento adquire um tom alarmista e você experimenta uma dose ainda maior de medo. Dessa forma, estes sintomas iniciais de ansiedade aumentam cada vez mais.
Assim, o círculo vicioso está formado e fará com que a ansiedade aumente até um ponto onde a pessoa acaba pedindo ajuda ou preocupa as pessoas ao seu redor, que acabam tomando uma providência por ela. Outros comportamentos característicos deste tipo de ansiedade estão relacionados com a evitação de lugares que são percebidos como possíveis fontes de ansiedade, a fuga dos lugares onde a pessoa se encontra, tomar algum tipo de ansiolítico, etc.
Estes tipos de comportamentos são chamados de comportamentos de segurança e se destinam a evitar possíveis catástrofes que o paciente imagina na sua mente. Qual é o problema dos comportamentos de segurança? Eles somente funcionam a curto prazo.
Ou seja, se a pessoa, quando percebe esses sintomas, toma um ansiolítico, toma água ou foge da situação, perceberá que esses sentimentos desagradáveis diminuem. Assim, a fuga será um reforço negativo que fará com que essa pessoa aja da mesma forma no futuro. Na verdade, acabará se limitando cada vez mais porque essa fuga não permitirá que ela perceba que nada realmente terrível vai acontecer. Não vai morrer, nem vai perder o controle ou ficar louco.
Na verdade, o paciente faz uma interpretação tendenciosa. Equivocadamente acredita que estes sintomas podem matá-lo, porque na verdade se assemelham, em parte, aos sintomas de um infarto ou psicoses. Mas, é preciso ficar claro que o fato de parecer não quer dizer que realmente sejam.
A verdade é que são sintomas de ansiedade, que provavelmente aparecem depois da pessoa ter sofrido muitas adversidades na sua história de vida, como se fosse uma panela de pressão que acaba explodindo, enviando a mensagem de que é preciso parar um pouco e recuperar o equilíbrio e a paz interior.
Quando surge a agorafobia?
A agorafobia surge quando a pessoa que sofreu repetidamente estas crises de ansiedade adquire um medo horrível de que elas se manifestem em situações concretas. Este medo é motivado pela ideia de que esse ataque pode se repetir e de que será muito difícil conseguir ajuda.
A pessoa apresenta o que é chamado de “medo do medo”, e esse medo do seu próprio medo, metaforicamente, poderia ser comparado com a criança que tem medo da sua própria sombra e tenta escapar. Isto leva a pessoa a tentar evitar todas as situações onde o ataque ocorreu e até mesmo aquelas situações onde ele nunca se manifestou.
Finalmente, essa limitação pode até dar lugar a sentimentos depressivos, porque o paciente deixa de receber reforços positivos do seu ambiente. Sente-se cada vez mais incapacitado, com autoestima baixa, e o desespero aumenta.
Qual é a causa básica da agorafobia?
Existem alguns fatores explicativos que tentam responder a esta pergunta, embora nem todos os sintomas precisem estar presentes para configurar um caso de agorafobia (com ou sem ataques de pânico). Alguns autores falam dos seguintes fatores como facilitadores da doença:
- Atenção focada nas suas próprias sensações
Algumas pessoas possuem uma sensibilidade especial para detectar qualquer mudança corporal. São pessoas que estão constantemente atentas, seja de forma consciente ou inconsciente, às suas reações e mudanças corporais e as tomam como referência para antecipar qualquer um dos perigos que detalhamos acima.
Dessa forma, quando aparece qualquer sintoma de caráter físico, como os descritos acima, os pacientes com esta predisposição notarão rapidamente, aumentando assim o seu estado de ansiedade. Esta teoria tem um grande suporte empírico, como demonstrou o estudo de Ehlers, Margraf, Roth et al (1980), no qual os pacientes com síndrome do pânico aumentavam significativamente a sua ansiedade quando percebiam que a sua frequência cardíaca aumentava.
- A hiperventilação crônica
Com a hiperventilação ocorre a alcalose respiratória compensada (com um pH do sangue próximo ao normal), isto é, os níveis de dióxido de carbono e bicarbonato no sangue estão um pouco abaixo do normal. Estes níveis tornam as pessoas mais propensas a ataques de ansiedade e, portanto, a sofrerem de agorafobia.
- Ansiedade de separação na infância
Autores como Silone, Manicavasagar, Curtis e Blaszczynski (1996) consideram que a agorafobia se assemelha às reações de ansiedade de separação que ocorrem na infância. A ansiedade de separação pode tornar a pessoa mais vulnerável a comportamentos evitativos que se desenvolvem durante os ataques de pânico e, consequentemente, a sofrer de agorafobia.
- Maior número de fatores de estresse
Existem alguns fatores ambientais de caráter estressante, como a perda de um emprego, uma separação ou a perda de um ente querido, que também podem atuar como fatores que facilitam o surgimento de uma crise.
- Fatores genéticos
Em irmãos univitelinos, se um tem o transtorno, o outro é muito mais propenso a sofrer do mesmo problema. Os parentes próximos de pessoas com transtorno do pânico têm uma probabilidade entre 25 e 32% de desenvolver um transtorno de ansiedade.
Qual é o tratamento para a agorafobia?
Por tratar-se de um medo do nosso próprio medo, o tratamento baseia-se na superação desse medo para ser capaz de levar uma vida normal. Este objetivo geral deverá incluir outros objetivos mais específicos que o paciente irá cumprindo durante o tratamento.
Embora o tratamento psicológico não seja exatamente o mesmo quando se trata de ataques de pânico com ou sem agorafobia ou apenas agorafobia sem ataques de pânico, eles compartilham alguns pontos em comum. Neste artigo vamos nos ater ao tratamento da agorafobia. Em primeiro lugar, o paciente precisa saber o que é que lhe acontece, e para isso precisamos usar a psicoeducação (é uma estratégia psicossocial de grande importância por possibilitar um processo de conhecimento e conscientização da doença). A psicoeducação não é uma técnica psicológica em si, mas ajuda a pessoa a entender o que acontece e a controlar os ataques de pânico.
Uma vez que o paciente conhece o seu transtorno e quais são as opções de tratamento, podemos começar com a terapia. De nossa parte, vamos nos concentrar na terapia comportamental cognitiva por ser a que mais recebeu apoio empírico. O tratamento terá duas partes distintas: uma parte cognitiva e outra comportamental.
O objetivo é, por um lado, que a pessoa mude as suas crenças e conceitos errados sobre os seus sintomas e as situações que facilitam as crises; por outro, que seja capaz de se expor a essas mesmas situações sem os comportamentos de segurança, com o objetivo de diminuir a ansiedade e modificar os seus pensamentos distorcidos.
A reestruturação cognitiva é a técnica de escolha quando trabalhamos com os pensamentos. Consiste em fazer perguntas aos pacientes com a finalidade de acabar com os pensamentos negativos e irracionais que fazem parte da manutenção do transtorno.
Desta forma, o paciente é forçado a modificar estas ideias e substituí-las por outras mais ajustadas à realidade. Por exemplo, se o paciente diz que sente medo porque antecipa que é muito provável que tenha um ataque cardíaco, algumas perguntas que você pode fazer seriam: “Que dados você tem a favor deste pensamento?” “Como você sabe que vai sofrer um ataque do coração?”
O paciente anota tudo o que acha que pode acontecer e conduz o experimento. Depois disso, observa e reflete se o que aconteceu realmente tem algo a ver com que ele acreditava que iria acontecer.
Embora as técnicas cognitivas sejam essenciais para ajudar a pessoa com agorafobia a enfrentar as situações que geram ansiedade com mais tranquilidade, as técnicas comportamentais, mantidas ao longo do tempo, são as que realmente ajudam a eliminar a doença completamente. Quando falamos de técnicas comportamentais no contexto da agorafobia, estamos falando da exposição a situações reais.
O paciente, juntamente com o seu terapeuta, deve desenvolver uma hierarquia de situações indutoras de ansiedade: desde aquelas que causam menor ansiedade até as que causam mais ansiedade. São avaliadas com base em Unidades Subjetivas de Ansiedade (USAS), que variam de 0 a 10. Algumas situações incluem os comportamentos de segurança, mas, gradualmente, eles devem ser eliminados, até que a pessoa seja capaz de lidar com as situações como qualquer outra pessoa que não sofra do transtorno.
A situação estará superada quando o paciente notar que a sua ansiedade diminuiu significativamente e pode se desenvolver sozinho. Só então podemos passar para a próxima situação, nunca antes disso. Caso contrário, podemos causar sensibilização em vez de uma familiarização, o que não é o nosso objetivo.
Se a exposição for bem-sucedida, o paciente conseguirá se habituar e a sua ansiedade ficará em níveis normais. Além disso, aprenderá e internalizará a ideia realista de que nada tão terrível como imaginava vai acontecer.
Em termos gerais, este é o tratamento mais comum para a agorafobia. No entanto, dependendo do caso a ser tratado, podemos incluir outras estratégias, como treinamento de habilidades sociais, abordando os sintomas depressivos se for o caso, a eliminação de ganhos secundários, etc. Em alguns casos específicos ou com mais tempo de duração, pode ser aconselhável combinar a psicoterapia com medicamentos.
Créditos: A mente é maravilhosa