“Amigo é coisa prá se guardar no lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não“, disse Milton Nascimento em uma de suas incrivelmente belas canções.
Será que 500 ou mais “amigos” cabem no lado esquerdo do peito com a força necessária para superar o tempo e a distância?
Será que com 500 ou mais “amigos” dá para ouvir a “voz que vem do coração”?
Pois é. As redes sociais revolucionaram a forma como conhecemos e fazemos amizades, “amigos” e até relacionamentos amorosos. Quando Milton escreveu a “Canção da América” os amigos nos eram apresentados por outras pessoas ou simplesmente os reconhecíamos no meio de tantas outras pessoas por afinidades em comum e/ou pelo simples prazer de estar juntos para passear, praticar esportes, estudar ou se divertir com uma das coisas que a vida tem de melhor: conversar e trocar ideias sobre emoções, sentimentos, fofocas ou notícias sérias.
Tudo isso de forma presencial, olho no olho, cada gesto e cada expressão sendo percebida e captada por todos os nossos sentidos, deixando-nos mais capazes e “espertos” para entender a linguagem corporal, mais subjetiva, muitas vezes não expressa em palavras, que só a percepção aguçada, treinada pela experiência, nos permite entender.
Sentimentos dos amigos captados ao vivo, presencialmente, não têm – nem de longe – comparação com bonequinhos amarelos chorando ou rindo. Entendemos quando algo que fizemos ou dissemos não agradou ou – ao contrário – agradou demais. Enxergamos olhos marejados de lágrimas de alegria ou de tristeza. Captamos sorrisos ocultos, ou de ironia ou de prazer. Isso não tem preço.
Foi recentemente publicado no “Americam Journal of Preventive Medicine” um estudo com adultos jovens de 19 a 32 anos de idade apontando que quanto maior o tempo dispendido em mídias sociais de relacionamento, maior a sensação de solidão das pessoas. Além disso, este estudo demonstrou também que quanto maior a frequência de uso, maior a sensação de isolamento social.
O que pode parecer contraditório à primeira vista, na realidade é bastante compreensível. Quem dispende muito tempo com uma infinidade de amigos virtuais, deixa de ter tempo para os amigos reais.
Vários estudos tentam definir um limite de “horas” para se passar plugado em redes sociais. Quem passa mais de duas horas conectado com os “amigos” virtuais pode ter o dobro de chance de se sentir solitário.
Fato é que as redes sociais estão aí e vieram para ficar. Fazem parte de nossa vida ainda o farão por muitos e muitos anos. Tudo certo. Mas, como tudo nesta vida, a “dose” com que nos conectamos com nossas amizades virtuais merece uma reflexão. O sentimento de isolacionismo social e de solidão é um rápido e eficaz atalho para a depressão.
Nunca se esqueça dos amigos reais que, estes sim, ocupam o lado esquerdo do seu peito, independentemente do tempo ou da distância. Milton sempre soube de tudo.
Créditos: Bem Estar