O ex-gerente da área Internacional da Petrobrás, Demarco Jorge Epifânio, entregou, nesta quinta-feira, 10, ao juiz federal Sérgio Moro, documentação de sua conta no Panamá, aberta em nome de offshore, para a qual confessou ter transferido parte dos US$ 1 milhão que recebeu de propinas no escândalo de corrupção na estatal. A defesa dele também pediu ao magistrado para que seja criada uma conta judicial para receber o dinheiro internado no paraíso fiscal, que será devolvido. O ex-agente público relatou que restavam apenas US$ 162 mil depositados na conta da offshore. Ele viajou ao Panamá no início de agosto para obter documentos junto ao banco responsável.

CONTA DE PROPINAS

O ex-agente público requereu a Moro a indicação de uma conta Judicial para depositar os US$ 162 mil que estavam no Panamá.

“Assim, em cumprimento ao acordado em sua colaboração espontânea, requer a juntada de toda documentação relativa à movimentação das contas Quantica Investiments e Cotiguara, ambas junto ao Credicorp Bank S.A. Por oportuno, reitera o pedido para que seja aberta uma conta judicial para transferência dos valores oriundos da conta da Cotiguara”, afirmou o advogado Marcelo Napolitano de Oliveira, que representa Epifânio.

Epifânio é acusado de receber propinas no âmbito da contratação do navio-sonda Petrobras 10.000 do estaleiro coreano Samsung ao custo de US$ 586 milhões entre 2006 e 2008. No mesmo contrato e também nos negócios envolvendo o Vitória 10.000, o Ministério Público Federal denunciou Jorge Luz e Bruno Luz, apontados como operadores do PMDB, que admitiram ter intermediado propinas de R$ 11,5 milhões aos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Jader Barbalho (PMDB-PA) e ao deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE).

Em depoimento a Moro o ex-gerente da área Internacional da petrolífera negou ter participado das tratativas que levaram à ‘aprovação do negócio’ e disse ter liderado a equipe responsável por ‘transformar a carta de intenção ‘que havia sido assinada com o Estaleiro Samsung, num contrato, e um memorando de entendimento assinado com a empresa Mitsue’.

Após o trabalho, ele diz ter sido chamado por Luis Carlos Moreira, também da área Internacional da Petrobrás, que teria oferecido US$ 1 milhão como umas espécie de ‘prêmio’.

“Eu falei “Como assim, prêmio, o trabalho está feito”, e ele falou “Não, você vai ganhar um prêmio, e você tem alguma conta fora?”. Eu disse “Claro, Moreira, eu estou morando na Inglaterra, eu tenho minha conta do HSBC, minha conta salário”, “Não, não, não, tem que ser uma conta offshore”. Ele me sugeriu então, me indicou a conta no Banco Clariden Leu lá na Suíça. Eu fui à Suíça então por orientação dele para encontrar com a gerente, que ele já havia entrado em contato para me receber, e me ofereceu o valor de 1 milhão de dólares por esse trabalho que eu havia feito. Desses momentos da vida, Excelência, que a gente fica diante de circunstâncias, e sucumbi à oportunidade, talvez fiquei cego por aquilo que estava sendo me oferecido”, relatou.

Epifânio afirmou a Moro que foi informado de que os valores eram referentes à comissão do lobista da Mitsue, Julio Camargo, que também é delator na Lava Jato.

O ex-gerente ainda afirmou que inicialmente os valores foram internados em uma conta na Suíça, e, depois, tudo foi repassado para a conta da offshore no Panamá, titular da conta Quantica Investiments, no Credicorp Bank. Ele ainda atribuiu ao seu divórcio e a investimentos o atual saldo de US$ 162 mil remanescentes no exterior, inferiores aos US$ 1 milhão que recebeu de propinas. Para evitar deixar vestígios de que o dinheiro veio da Suíça, Epifânio ainda alegou ter fechado a Quantica e aberto outra conta no mesmo banco para transferir os valores.

Créditos: Estadão