O presidente Michel Temer recebeu ‘com alívio’ a informação de que o procurador-geral da República Rodrigo Janot revelou existência de um áudio de quatro horas que pode comprovar ‘omissão’ do grupo J&F e que este fato pode levar à rescisão do acordo dos delatores do grupo – embora a sem neutralizar as provas dele derivadas.

A informação sobre a reação de Temer foi dada pelo advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, que defende o presidente, alvo maior da delação da J&F.

Temer ligou para Mariz. O presidente está em viagem oficial à China. Ele já sabia das informações divulgadas por Janot quando ligou para o defensor.

O advogado sugere ao procurador que não apresente a segunda denúncia criminal contra Temer, que estaria na iminência de ser protocolada no Supremo Tribunal Federal. A primeira acusação, por corrupção passiva, foi barrada pelos aliados do presidente na Câmara.

ESTADÃO: Qual foi a reação do presidente?

ANTÔNIO CLÁUDIO MARIZ DE OLIVEIRA: Ele recebeu a notícia com alívio.

ESTADÃO:  Qual a consequência dessa revelação do procurador?

MARIZ: Isso muda tudo. Na verdade, nós de uma certa forma já prevíamos que a prova que serviu de base para a denúncia contra o presidente estava eivada de vícios, irregularidades, ilegalidades.

ESTADÃO: Quais?

MARIZ: Há aspectos hoje comentados pelo procurador-geral que já haviam sido denunciados por nós, como por exemplo, a absurda participação do procurador Marcelo Miller em um escritóri o de advocacia para trabalhar na leniência da própria J&F, sendo que este procurador compunha o estafe do procurador-geral.

ESTADÃO: Janot está na iminência de apresentar uma segunda denúncia contra Temer.

MARIZ: Espero que eventual nova denúncia não seja oferecida, pelo menos da forma açodada e descuidada como da primeira vez, e nem enviada à Câmara dos Deputados pelo ministro Edson Fachin sem que haja antes uma investigação a respeito da veracidade dos fatos constantes dessa eventual denúncia. Uma investigação da legalidade e licitude das provas respectivas para que não venham a se repetir os mesmos enganos, os mesmos erros e as mesmas injustiças causadas na denúncia anterior, em relação à qual nenhuma cautela foi adotada.

ESTADÃO: O sr. acredita que ainda virá a segunda acusação?

MARIZ: O que posso dizer é que seria de muito boa providência, inclusive para recuperar a credibilidade da Procuradoria-Geral da República, que Rodrigo Janot não ofereça denúncia alguma, pois é evidente a ausência de qualquer elemento para tanto. Seria correto se o procurador deixasse que a fase de transição para a nova Procuradoria (o mandato de Janot termina no próximo dia 17, quando será substituído por Raquel Dodge) ocorresse sem mais desgastes para a sua pessoa e para a própria instituição que ele dirige.

ESTADÃO: O presidente ficou eufórico?

MARIZ: Euforico não, mas estava muto aliviado, muito ciente de que foi vítima de um verdadeiro complô. Mas sabia que, mais cedo ou mais tarde, a luz da verdade iria esclarecer os fatos e demonstrar a sua absoluta inocência. Para o presidente Deus não tardou muito, a verdade apareceu.

ESTADÃO: Que providência o sr. vai adotar agora?

MARIZ: Nesta terça-feira (5) vou requerer o acesso a essas mídias (o áudio de quatro horas dos executivos da J&F). Vou aguardar o presidente chegar (quarta, 6) para conversar com ele para vermos quais outras providências devem ser adotadas.

ESTADÃO: A defesa ficou surpresa com os novos fatos divulgados por Janot?

MARIZ: Não. Existem fatos ilegais como a questão desse procurador (Marcelo Miller) sobre o qual já havíamos falado. Também o açodamento no oferecimento da denúncia (por corrupção passiva) e o envio à Câmara. Se tivessem tido mais cautela não haveria nenhum abalo à credibilidade da Procuradoria.

ESTADÃO: A credibilidade da Procuradoria está abalada?

MARIZ: Sim, a credibilidade da Procuradoria-Geral está abalada. Quero dizer que as críticas nossas ao procurador-geral estão mantidas, com a observação, no entanto, que desta feita ele (Janot) agiu como fiscal no cumprimento da lei. Eu espero que ele continue agindo assim, sem oferecer denúncia e sem atirar flechas (Recentemente, Janot declarou que até o final do seu mandato ‘enquanto houver bambu, haverá flechas’)

Créditos: Estadão