Às cinco horas da manhã, muitas horas antes de os parques da Universal Orlando abrirem as portas, o chef executivo Steven Jayson já está coordenando os cerca de 100 funcionários na cozinha central, de onde saem as preparações de base que abastecem os cerca de 100 pontos de alimentação, entre restaurantes, bares e quiosques, do complexo de diversões, em Orlando (EUA).
Quem vai em busca de adrenalina nas montanhas-russas do parque Islands of Adventure e de emoção com os personagens marcantes do cinema e da tevê, como Minions e Homem-Aranha, que povoam as ruas fictícias da Universal Studios, pode nem notar na grandiosa operação que envolve a restauração local – são cerca de 11 mil pessoas que frequentam diariamente os parques e por lá fazem suas refeições. “Sem contar o serviço de catering que oferecemos, já que Orlandoé um dos destinos favoritos para empresas fazerem convenções”, avisa Jayson. Para se ter uma ideia, a cidade recebeu mais de 66 milhões de visitantes só em 2015.
Tirar a gastronomia de um papel coadjuvante na Universal tem sido parte dos esforços do grupo. “Queremos que experiência aqui seja completa, por isso temos tratado a alimentação como assunto de extrema importância para nós”, afirma Ric Florell, vice-presidente executivo de operações. “Vamos fazer o melhor dia para os visitantes. E a comida faz parte desse dia”, completa Jayson.
Mas não pense que, pelo grande volume de comida preparada, a qualidade dos ingredientes seja deixada de lado. O bacalhau fresquíssimo, que compõe o tradicional fish and chips oferecido no restaurante Leaky Cauldron, no parque The Wizarding World of Harry Potter, vem do Alasca. Cerca de 97% de toda a carne que vai nos hambúrgueres servidos na Universal – que são mais de 50 tipos e nenhum é congelado, todos são processados na cozinha central –, é de black angus certificado. “A infraestrutura dos EUA nos possibilita ter ingredientes frescos facilmente, de diferentes cantos do país”, conta Jayson.
Para quem acha que pode ser maçante trabalhar em uma cozinha multifacetada, Jayson, que completou 28 anos de carreira na empresa, mostra que a criatividade sempre precisa estar tinindo: os cardápios de todos os restaurantes do parque são alterados três vezes ao ano. Vale lembrar que cada um traz um conceito diferente, para atender a um público tão eclético: vai desde o Mythos, que foca na cozinha mediterrânea, com pratos como spanakopita dip (combinação de queijo feta, espinafre, limão e ervas, com cubos de pepino, tomate e azeitonas, servido com pão pita frito, temperado com zaatar), até nas famosas rosquinhas servidas no Moe’s Tavern, ponto de encontro favorito do personagem Homer Simpson, do desenho animado The Simpsons.
Embarcar na história de tantos desenhos animados e filmes é um desafio para lá de divertido, mas com boa dose de adrenalina para Jayson. Afinal, é grande a responsabilidade de recriar receitas que são conhecidas por tantos fãs, mas nunca antes saboreadas. “A expectativa é enorme não só do público como também dos criadores dos personagens”, conta. Uma das maiores emoções vividas pelo chef foi quando viajou até a Escócia para apresentar à J. K. Rowling, autora de série de Harry Potter, a butter beer – na história, a bebida é servida principalmente no pub Three Broomsticks, em Hogsmeade, famosa vila dos magos. “Lembro-me exatamente das palavras dela: ‘eu escrevi sobre isso, mas nunca imaginei qual sabor teria. E vocês conseguiram’’’, relata ele. A aprovação também veio do público. Para provar a bebida de sabor caramelado e creme amanteigado bem doce, que imita colarinho da cerveja, 38 mil pessoas estavam aguardando na fila quando abriu o parque dedicado a Harry Potter, em junho de 2010.
Por se tratar de um ambiente voltado para um público infantil, em sua maioria, existe uma grande preocupação com questões nutricionais na alimentação oferecida em todo o complexo. Uma das ações do grupo foi banir qualquer tipo de gordura trans nos cardápios, há 10 anos. “Mas sabemos que as pessoas querem comer coisas gostosas, afinal, elas estão aqui de férias”, pondera o chef executivo, que se formou pelo Culinary Institute of America e nos anos 1970 trabalhou com o renomado chef francês Pierre Verger.
Além de comandar todos os pontos de alimentação do Island Of Adventure e do Universal Studios, Jayson coordena os 24 chefs que atuam nas casas da chamada City Walk, área externa aos parques (que não precisa pagar ingresso). Exceto pelos restaurantes Emeril’s, Hard Rock e Bubba Gump, todos passam pelo crivo da equipe de Jayson. “Aqui é um destino gastronômico e de entretenimento, com casas noturnas, bares e restaurantes. Temos muitos hóspedes dos hotéis (são quatro dentro do complexo) e turistas na cidade procurando locais para comer bem”, explica Ed Colleran, chef executivo do City Walk.
Há opções para todos os gostos. Se quiser algo mais sofisticado, fique com a massa fresca, como a feita com tinta de lula, preparada no próprio restaurante italiano Vivo. Para brincar e desafiar o paladar, peça por uma das opções de “burgushi”, misto de hambúrguer com sushi, no Cowfish. Se é fãs de esportes e de carnes, a parada obrigatória é o NBC Sports Grill & Brew, com direito a uma larga variedade de cervejas fabricadas em parceria com cervejarias locais. E não dá para deixar a Universal sem passar pelo Toothsome Chocolate Emporium & Savory Feast Emporium, última novidade do complexo, aberto no ano passado. Depois de provar pratos criativos com chocolate, como as costelinhas de porco com mole de chocolate amargo e batatas lyonnaise, guarde espaço para saborear um dos 13 tipos de milk-shakes, como o de bacon caramelizado, o de cheesecake de morango e o de manteiga de amendoim. A diversão está, de fato, garantida.
* Reportagem publicada na edição 215. E a jornalista viajou a convite da Universal Orlando Resort
Créditos: Revista Menu