De um lado da Via Paradisi, em Fiesso d’Artico, na região metropolitana de Veneza, está a Villa Pisani, casarão histórico do século 18 que já pertenceu a Napoleão Bonaparte, hospedou diversos nobres europeus e foi o local do primeiro encontro entreMussolini e Hitler. Do outro, está a sede da René Caovilla, marca fundada em 1934 e conhecida na Itália por produzir scarpe gioelli (sapatos-joia).

Na fábrica, cerca de 80 pessoas de idades diferentes se dividem entre o trabalho que ainda é praticamente todo manual: dos vários processos de colagem – muitos calçados nem costura têm – à aplicação dos cristais, elementos-chave nos itens da grife, cada peça passa por pelo menos 34 etapas até chegar ao produto final.

Por ano, saem de lá 100 mil pares, a maioria de couro e renda. Todos embalados cuidadosamente dentro de caixas vermelhas com detalhes em dourado.

Edoardo, 41 anos, integrante da terceira geração dos Caovilla e habituado a brincar no chão da fábrica desde a infância, é quem comanda a empresa como COO (chief operating officer) e diretor criativo. Ele circula por lá calmo, sorridente e conversando com os funcionários, que chama pelo nome.

“Minha formação é em economia, então assumir o lado dos números foi bem fácil”, conta com o típico sotaque cantado dos venezianos, durante a visita da Vogue ao local. “Apesar de me considerar uma pessoa expansiva, que sempre tocou instrumentos e cozinha muito bem, achei melhor fazer um teste antes para ter a certeza de que seria apto a substituir meu pai (René Caovilla) na parte criativa”, completa.

Calça e blazer Dolce & Gabbana e sandália René Caovilla (Foto: Laura Sciacovelli)

A pedido de René, em 2009 Edoardo passou a tomar conta da área administrativa da empresa e desenhou 25% da coleção que estava sendo desenvolvida na época. Na seguinte, assumiu 50%. O número subiu para 75%, até que, em 2011 foi nomeado diretor criativo no lugar de seu pai – que mantém ainda o cargo de CEO.

Desde que Edoardo começou na dupla função, o faturamento da empresa quadruplicou. E os planos de crescimento não param, incluindo o Brasil: na próxima quarta-feira (22.11), será inaugurada a primeira loja da marca no País, no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo.

“A beleza e a sensualidade das brasileiras desde sempre fazem o mundo sonhar”, diz Edoardo. “Amo ver nossos sapatos sendo usados por essas mulheres que além de lindas, são fortes e vivazes, assim como nossas peças”, complementa. As maiores apostas da marca para a loja brasileira são os itens de cores fortes, tanto em flats quanto em high heels.

René Caovilla e seu filho Edoardo, atual diretor criativo, em março deste ano (Foto: Toni Thorimberg e Divulgação)

Pelas mãos de Edoardo Caovilla – pai de René e avô do atual diretor criativo -, a marca deu seus primeiros passos nos anos 30, quando se chamava apenas Caovilla. Recém-chegado de Paris, onde fez um curso de design, René começou em 1955 a tomar conta do negócio familiar. Foi ele quem desenhou, em 1968, o maior sucesso da marca até hoje: a sandália Snake, que hoje não sai dos pés de Rihanna e Joan Smalls, só para citar algumas fãs.

Até 1999, os calçados da marca eram vendidos apenas em multimarcas e lojas de departamento como a Harrods, em Londres, e a Bergdorf Goodman, em Nova York (a extinta Clube Chocolate, em São Paulo, chegou a comercializar itens da grife).

Devido a um novo posicionamento, foi inaugurado o primeiro endereço próprio em Milão, na Via Bagutta, no chamado “quadrilátero da moda” na cidade. Atualmente, a grife tem 13 lojas entre Xangai, Taipei, Dubai e Veneza – em sua cidade natal, o espaço fica ao lado da Balenciaga, da Saint Laurent e a poucos metros do icônico Harry’s Bar.

Ano que vem, a René Caovilla inaugura sua primeira loja nos Estados Unidos, fincando os pés na Madison Avenue, em Nova York. Estão nos planos da empresa aterrissar nos próximos anos também em Miami e Los Angeles.

O modelo Snake, best-seller da grife.  (Foto: Toni Thorimberg e Divulgação)

De olho nos novos tempos, em que o conforto está acima de tudo, Edoardo desceu do salto e resolveu apostar em flats decoradas, para se usar até em festas mais luxuosas, que se tornaram objeto de desejo. O sucesso foi tamanho que a Snake ganhou versão pé no chão. A marca passou a ter também uma linha diurna, com botas, tênis e rasteirinhas mais casuais.

Outra sacada foi perceber que cada mercado tinha um perfil muito diferente, e que isso pedia, consequentemente, produtos específicos. “Criamos a coleção inteira e depois dividimos os modelos de acordo com cada ponto de venda”, diz Edoardo. Na prática, isso significa que cerca de 50% do que chega às lojas é exclusivo. “Se você viu algo em Milão, por exemplo, não deixe para comprar em Paris. Muito provavelmente não irá encontrar a mesma peça por lá”, avisa. O plano garante o elemento surpresa, proporcionando em cada butique uma experiência especial para as clientes. Outra característica da marca é a pequena produção de cada modelo. Se gostou, é pegar ou largar. Benvenuto!

Styling: Viviana Volpicella
Beleza: Arianna Campa
Cabelo: Davide Diodovich
Manicure: Annarel Innocente
Assistente de fotografia: Jacopo Contarini
Operador digital: Mattia Lotti
Assistente de styling: Mariangela Filippin

Créditos: Vogue