No primeiro artigo que publicou no ano de 2018, Fernando Henrique Cardoso sustentou a tese segunda a qual as “forças não extremadas” da política deveriam se unir para “criar consensos em favor do país e do povo.” Do contrário, “o pior acontecerá”. E o que seria o pior? Para FHC, o mais deletério que poderia ocorrer neste ano eleitoral seria a vitória de Lula ou de Jair Bolsonaro.

“Nas pesquisas brasileiras de opinião, pelo menos até agora, sem o quadro eleitoral formado, despontam um capitão irado de cujas propostas pouco se sabe e um líder populista sobre o qual pesam acusações (e mesmo condenações) que destroem o sonho que outrora representou”, anotou FHC.

O ex-presidente tucano enumerou os presidenciáveis que deveriam, na sua opinião, se juntar em torno de consensos mínimos. Citou Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (PSD). Incluiu na lista Joaquim Barbosa, que flerta com a ideia de disputar o Planalto pelo PSB.

Na opinião de FHC, esses personagens “precisam entender que os riscos” do tipo que ele enxerga por trás das pretensões políticas de Lula e Bolsonaro “se transformam em realidade pela inércia, pela covardia ou pela falta de visão dos que poderiam a eles se opor.”

As novas manifestações de FHC sobre a disputa presidencial ganharam as páginas poucos dias depois de ele ter declarado que o PSDB poderá apoiar “alguém com capacidade para juntar e que tenha princípios próximos aos nossos”, caso Alckmin não consiga atingir três objetivos: aglutinar as forças de centro, convencer o eleitorado e deslanchar como um candidato viável.

O artigo de FHC transmite mais dúvidas do que certezas. A começar pelo título: “Ainda há tempo?” Ele dedicou parte do texto às mazelas que eletrificaram o cenário de 2018 no mundo. Quanto à conjuntura brasileira, FHC só consegue se manifestar com clareza até certo ponto. O ponto de interrogação.

“Já não terá bastado o descalabro econômico-financeiro produzido pelo ‘capitalismo de laços’ que o lulopetismo patrocinou, envolvendo e beneficiando empresas e partidos políticos, para que aprendamos a lição de que não há atalhos fáceis para o desenvolvimento e que este requer o império da lei?”, ele pergunta a certa altura.

“Será que o Bolsa Família (que se originou em governos anteriores e sem tanto alarde) foi suficiente para amortecer a consciência popular e fazer crer que a esperança em dias melhores se contenta com migalhas?”, indaga o articulista, como se colocasse em dúvida a capacidade de discernimento do pedaço mais pobre do eleitorado.

FHC se absteve de oferecer respostas —“É cedo para responder”. E ainda destilou pessimismo. Disse que, se não houver uma ação vigorosa dos atores políticos, os horizontes despejarão “novas tempestades” sobre a conjuntura. “Que não se iluda o leitor: o pior pode sempre acontecer. Evitá-lo depende de cada um e de todos nós. Não há fé cega na Razão ou nos bons propósitos que barre o Irracional se não se criarem alternativas que impeçam o pior de prevalecer, pela guerra ou pelo voto.”, escreveu. “As consequências, já dizia o conselheiro Acácio do Eça de Queiroz, vêm sempre depois…”

Se alguma certeza pode se extraída do artigo de FHC é a seguinte: o presidente de honra do PSDB não leva a menor fé em Geraldo Alckmin. Se enxergasse viabilidade eleitoral no presidenciável tucano, não estaria propondo a abertura de diálago com outras forças antes do início do jogo, ainda na fase de aquecimento.

 

Fonte – Josias de Souza