Até a década de 1970, a crença geral era que as florestas são resultado do clima. Elas existem em climas tropicais por que chove muito. O cientista brasileiro Eneas Salati quis ver se era assim mesmo e descobriu que, na Floresta Amazônica, pelo menos metade de suas chuvas é gerada por ela mesma, a partir da evaporação e transpiração das plantas.

Mas essa água toda não fica parada. Ela viaja pela atmosfera por toda a Bacia Amazônica e só termina de desaguar em partes da bacia do Rio Prata, entre Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. Também contribui, em menor volume mas extrema importância, para as chuvas na região sudeste do país.

O problema é que hoje cerca de 20% da floresta já não existe mais. São 1 milhão de quilômetros quadrados, mais de quatro vezes a área do estado de São Paulo. E quanto menos floresta, menos chuva. Até chegar um momento que o clima se torna seco demais para sustentar uma floresta tropical, e ela desaparece.

Mas que momento seria esse? Quanto precisaria ser desmatado para que a floresta não conseguisse mais, literalmente, parar de pé? O primeiro modelo a tentar responder a questão, em 2007, demonstrou que com redução de 40% dos 5,5 milhões de km² da área original de floresta, a Amazônia sofreria uma alteração em seu regime de chuvas, prolongando o período seco. Principalmente em sua área leste, viraria uma savana. Uma espécie de Cerrado degradado.

Um editorial da revista Science, publicado em 21 de fevereiro, alerta que esse ponto sem volta pode estar ainda mais próximo. O artigo, assinado por Carlos Nobre, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas, e Thomas Lovejoy, professor da George Mason University, nos Estados Unidos, afirma que o aquecimento global e as crescentes queimadas estão nos deixando próximos do limite.

Nos últimos anos, muitos estudos demonstraram que, ignorados quaisquer outros fatores, com o aquecimento de 4ºC no planeta, a floresta viraria savana. Enquanto isso, o uso de fogo para limpar áreas de pasto nas margens da floresta, contribui para secar os arredores. Aumenta assim a vulnerabilidade ao fogo no ano seguinte.

“Nós acreditamos que a sinergia negativa entre desmatamento, mudança climática e uso descontrolado do fogo indica que o limite para a mudança do sistema amazônico para um ecossistema não-florestal nas áreas leste, sul e central é de 20% a 25% de desmatamento”, afirma o artigo.

Para eles, a severidade das secas nos anos de 2005, 2010, 2015 e 2016 podem representar os primeiros sinais desse ponto de mudança. Esses eventos, junto com as enchentes de 2009, 2012 e 2014 sugere que todo o sistema está oscilando. Nos últimos vinte anos a temporada seca nas regiões sul e leste estão crescendo. Fatores de larga escala, como o aquecimento da superfície do mar no Atlântico Norte também parece estar associados à mudanças em terra.

No Acordo de Paris, em 2015, o Brasil se comprometeu a recuperar 120 mil km² de floresta até 2030. Os pesquisadores recomendam que a maior parte seja nas áreas leste e sul da Floresta Amazônica. O bem-estar de todo mundo que vive no Brasil e em boa parte da América do Sul depende de seu ciclo hidrológico.

Fonte: Revista Galileu / Globo