Shenberg destaca que todo o tratamento é gratuito. “O tratamento é experimental, um estudo, ele não foi aprovado, está em fase de testes. Nos Estados Unidos ele está na fase mais avançada que existe, que eles chamam de ‘Estudo Fase 3’, que é a última fase de pesquisa que se faz com qualquer remédio, antes de ele ser comercializado como remédio, enfim, de ser oferecido a pacientes regularmente”.
“Aqui no Brasil estamos fazendo esta pesquisa, pela primeira vez, em pacientes, em parceria com a equipe nos Estados Unidos”, destacou.
Eduardo Shenberg é biomédico, graduado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com mestrado em psicofarmacologia pela mesma instituição, dourado em neurociência pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutorado em neurociências pela Unifesp e pelo Imperial College, em Londres.
O tratamento no âmbito da pesquisa consiste em três etapas principais. A primeira delas é a triagem, em que é feita uma avaliação psiquiátrica completa, para checar se o paciente se enquadra no parâmetro do estudo aprovado pelo Conep. Caso esteja apto, ele é submetido a exames clínicos de sangue e eletrocardiograma. Se todos os exames estiverem normais, o voluntário pode agendar as sessões de psicoterapia.
O estudo dura 12 semanas, com sessões ocorrendo uma vez por semana. Segundo Shenberg, para cada três sessões feitas sem o uso do MDMA, o paciente é submetido a uma com o uso da substância. Serão três sessões com a ingestão do medicamento. Dois meses após a psicoterapia, o voluntário volta a passar por uma avaliação psiquiátrica, aos moldes do que foi feito na triagem.
“Três destas sessões são realizadas com o paciente tomando o MDMA no consultório, sob o acompanhamento de um médico e dois psicólogos, um homem e uma mulher, necessariamente. Isso por questões de vítimas abuso sexual. Às vezes pode ser muito difícil para o paciente fazer terapia com um homem, se ele foi abusado por homem”, explicou.
De acordo com o neurocientista, nas sessões em que o paciente faz o uso do MDMA é necessária a internação, com pernoite na clínica. Segundo ele, caso haja qualquer necessidade, os terapeutas e médicos que acompanham o estudo podem ser acionados.
“Nas consultas em que o paciente toma o MDMA no consultório, ele toma o MDMA pela manhã. A consulta dura de seis a oito horas, porque a substância intensifica os processos emocionais, acelera o raciocínio. O paciente se lembra muito do trauma e consegue fazer uma psicoterapia muito profunda”.
“Ele fala muito do trauma, ele sofre muito, e os terapeutas ajudam com várias técnicas padronizadas de psicoterapia”, destacou.
Neurocientista Eduardo Shenberg é responsável pela pesquisa com MDMA, em Goiânia (Foto: Mayara Jardim/Divulgação)
Eduardo Shenberg explicou que, atualmente, os tratamentos vigentes para o transtorno do estresse pós-traumático só funcionam com eficácia para cerca de 30% das vítimas, sendo que 70% dos pacientes não melhoram. Segundo ele, a doença acaba bloqueando a pessoa, que teme falar sobre os seus traumas.
“O paciente, muitas vezes, se fecha emocionalmente. A memória é tão agressiva e tão intensa que o paciente não consegue falar a respeito. Ele vai para consultório fazer psicoterapia, acaba falando de outros assuntos. Ele não consegue narrar o trauma para os terapeutas, não consegue falar como se sente e pode até entrar em pânico se for pressionado a falar sobre o evento traumático”, pontuou.
O neurocientista explica que a substância gera efeitos que trazem à tona os traumas vividos pelo paciente, por meio de estímulos feitos ao cérebro.
“O MDMA estimula a liberação de uma série de neurotransmissores no cérebro e estimula a secreção de alguns hormônios. Com o resultado conjunto da substância, esses neurotransmissores e hormônios, ela aumenta a empatia, diminui o medo e aumenta a capacidade de raciocínio, colocando o paciente em um estado temporário de pensamentos e emoções modificados, que facilitam a terapia e permitem o paciente lembrar e sentir as emoções relacionadas ao trauma e fazer a terapia”, explicou.
Ele afirma que, neste sentido, o tratamento com o MDMA tem sido eficaz nos testes já feitos anteriormente.
“O resultado, tendo que estudos que fizeram comparação entre o MDMA com o placebo, que é uma pílula contendo nenhuma substância ativa, mostraram que, dos pacientes que tomaram MDMA 70 % melhoraram, enquanto os que tomaram placebo, só 25% melhoraram. Isso mostra que a substância tem um efeito muito grande e muito importante para facilitar o processo terapêutico”, concluiu.
Fonte: G1 / Globo