Linguistas de diversas universidades ao redor do mundo organizaram um estudo envolvendo falantes de oito línguas para descobrir com qual frequência agradecem as pessoas por favores que elas fazem. Apesar de parecer algo simples, investigar esse trejeito pode nos ajudar a entender como nos comportamos em sociedade e como usamos a linguagem para interagir com os outros.
“Nossa perspectiva básica é a reciprocidade”, explica Nick Enfield, linguista da Universidade de Sydney que conduziu o estudo. “Quando nós pedimos para as pessoas nos ajudarem, o padrão é o que elas o façam.”
De acordo com a pesquisa, ajudamos e cumprimos serviços frequentemente — aceitar um pedido é sete vezes mais comum do que negá-lo —, mas apenas uma a cada 20 dessas ocasiões são reconhecidas com alguma demonstração de gratidão. Não que as pessoas esperem por isso também, afinal, atender a um pedido é o comportamento padrão, como mostrou a pesquisa.
No estudo, os linguistas observaram que, quando um pedido é negado, as pessoas geralmente explicam o motivo de não fazê-lo, mas isso não acontece quando ele é acatado. “É completamente assimétrico”, afirma Enfield. “As pessoas geralmente não dão explicações quando cumprem algo. Isso apenas ressalta o fato de que a cooperação é o ‘modo padrão’.”
Diferenças culturais
Prevendo que em ambientes formais, como o de trabalho, os agradecimentos são mais frequentes, os pesquisadores focaram em gravar interações cotidianas com pessoas conhecidas entre falantes de oito línguas espalhadas por todo o mundo. Foram elas o inglês, italiano, polonês, russo, laociano (língua oficial do Laos), cha’palaa (língua presente no Equador), murrinhpatha (língua aborígene australiana) e siwu (língua falada em Gana).
Entre essas línguas, os falantes de inglês e italiano agradecem com mais frequência: em uma a cada sete situações. Além dos clássicos “thank you” e “grazie”, os linguistas também consideram como agradecimentos reações equivalentes ao “muito bom” e “bom trabalho”..
Isso, no entanto, não quer dizer que ingleses e italianos sejam mais gratos do que os outros povos. “Expressar gratidão e senti-la não são a mesma coisa”, ressalta Enfield. Para ele, o comportamento apenas mostra que boa parte das culturas europeias obedecem a uma espécie de “ideologia cultural da polidez”.
Em outras culturas, no entanto, a forma de agradecer pode ser muito distinta. Algumas línguas reservam o “obrigado” apenas para atos muito grandiosos, como salvar uma vida, por exemplo. Outras culturas podem estranhar se você agradecê-las demais ou então, como no hindi, as pessoas podem achar que você está sendo sarcástico (afinal, nessas línguas, a cooperação já é algo convencionado).
O comportamento também pode se repetir em línguas de pequenas comunidades, onde os falantes sabem que podem contar uns com os outros. “Nessas línguas, você não tem o tipo de troca institucional e anônima que faz com que a polidez entre em cena”, analisa Enfield.
Fonte: Revista Galileu