O terapeuta que deseja atender um paciente com o transtorno de personalidade borderline (TPB) deve ter algumas características específicas. Sua personalidade determinará o perfil de trabalho, favorecendo ou não o bom vínculo e a evolução do tratamento de um modo geral.
A terapia é o ponto central deste tratamento que demanda um trabalho desenvolvido por uma equipe composta por diversos profissionais como psiquiatra, terapeuta individual, terapeuta de grupo, terapeuta de família, enfermeiro, entre outros.
A maior função da terapia é fortalecer a capacidade de pensar do paciente. Afinal, ele apresenta dificuldade em refletir sobre a própria vida e tudo que a envolve. Além disso, apresenta muitos comportamentos que comprometem o bom funcionamento da vida, podendo colocá-la em risco através do abuso de álcool e drogas, sexo sem segurança, relacionamentos abusivos, etc. Alguns deles podem apresentar automutilação e tentativas de suicídio.
A dificuldade em conduzir as relações de forma saudável é levada para o consultório e repetida na relação com o terapeuta. Lá, ele poderá promover inúmeros boicotes ao tratamento, apresentando muitas faltas, chegando muitas vezes com atraso, sendo agressivo no falar, permanecendo calado em terapia ou, ao contrário, falando todo o tempo, e dessa forma, impedindo que o terapeuta faça algumas colocações. Pode, inclusive, desvalorizar o profissional não pagando seus honorários ou atrasando por muito tempo.
Este cenário é frustrante para o terapeuta, que pode passar a se sentir confuso e impotente como profissional. Pode, também, reagir dando conselhos como uma mãe faria, fazendo mais por este paciente do que para outros. São sentimentos difíceis de tolerar e administrar, fazendo com que muitos profissionais desistam de atender este paciente.
Por isso, alguns destes profissionais não atendem ou fogem deste paciente, e ainda assim podem ser muito competentes para atender outros perfis. Quem decide atendê-lo, decide porque, apesar da frustração que sente em muitos momentos, sente-se impulsionado e incentivado a buscar supervisão clínica e, também, literaturas que abordem este tema.
Este possui traços de temperamento como a busca pela novidade, esquiva ao dano, persistência alta (alta tolerância a frustração) e mínima dependência de gratificação. Esses traços facilitam o vínculo e o trabalho terapêutico. Lembrando que o temperamento é herdado e por isso varia pouco ao longo do tempo e das circunstancias. (Sassi e Zito)
Normalmente é uma pessoa afetuosa e cuidadosa com o outro. Tem um olhar voltado mais para a pessoa que possui a doença, do que para a doença que a pessoa possui. (Hipócrates). É respeitosa, tem empatia, é corajosa, apresenta capacidade de ser continente (das angústias do paciente e as próprias), é paciente, possui intuição, é verdadeira e possui capacidade de sobreviver. (Zimerman, Bion, Winnicott e Gabbard).
Algumas destas características podem ser conquistadas, isto é, desenvolvidas através da terapia pessoal, supervisão de casos clínicos, cursos e leituras específicas. Sem esse tripé não se formará um bom terapeuta, independente do paciente que este escolher atender.
Fonte: Eliana Krambek – psicóloga e supervisora clínica no Ambulatório Integrado de Transtorno de Personalidade e do Impulso IPq/ HC – FMUSP, São Paulo –SP e atende em seu consultório de psicologia.