Quem gosta de viajar de carro costuma ser radical: quer fazer todas as suas viagens de carro. No entanto, por mais autonomia que as quatro rodas proporcionem, o carro não funciona igualmente bem em todas as viagens.

Existem viagens que é melhor NÃO fazer de carro. E mesmo nas viagens que ficam melhores de carro, a gente tem que prestar atenção em detalhes importantes para não cair em roubada.

Aqui vão três erros que você não deve cometer. Como eu já cometi todos eles, sei do que estou falando.

1 | Não dirija em cidade grande

Pegadinha número 1: não dirija em cidade grande. Com raríssimas exceções que eu vou mencionar daqui a pouco, dirigir em cidade grande é roubada.

Porque a única coisa pior que o trânsito da sua cidade onde você mora é o trânsito da cidade que você não conhece.

Além disso, cidades no mundo inteiro só fazem aumentar as restrições à circulação de carros nas áreas centrais. Encontrar vaga para estacionar é um suplício, e muitas vagas são exclusivas para moradores.

Na Itália, o coração do centro histórico de muitas cidades é proibido a veículos não-autorizados, incluindo o seu carro alugado.

E em toda cidade grande mundo afora brotam faixas exclusivas pra ônibus, às vezes não tão claramente demarcadas como as daqui do Brasil, resultando em multas pra quem entra sem querer.

No fim das contas, o carro é o meio de transporte mais lento e ineficiente que você pode usar numa grande cidade. Metrô, ônibus, bonde, táxi e Uber te levam onde você quiser ir com maior rapidez e menos perrengue.

Cidades onde o carro vale a pena

No exterior, são pouquíssimas as cidades grandes onde vale a pena estar de carro.

Os dois casos mais evidentes são Orlando e Los Angeles, cidades bastante espalhadas que foram feitas para andar de carro e têm estacionamento relativamente fácil.

Miami também: se você se hospedar naquele pólo de hotéis em conta perto do aeroporto, você vai precisar de carro.

Agora, se você se hospedar em South Beach, pode se virar com o transporte público no bairro e chamar Uber quando for mais longe. Pro outlet Sawgrass Mills você pode ir de shuttle, um ônibus expresso.

E no Brasil? Eu acho bastante útil alugar carro nas capitais do Nordeste — sobretudo nas que oferecem mais chance de viagens de carro às redondezas, como Maceió, João Pessoa, Salvador e Fortaleza.

Mas lembre-se da lei seca e avalie se no seu grupo vai ter sempre um abnegado que resista àquela cervejinha na praia.

Hoje com táxi de aplicativo e Uber já tá bem mais fácil circular nessas cidades sem alugar carro. E para passeios às redondezas, se você não gosta de fazer com tour (eu não gosto), dá para negociar com algum taxista do ponto do seu hotel. Eles são de confiança e estão acostumados a esse tipo de passeio.

2 | Não tenha pressa

Pegadinha número 2: a pressa é inimiga das boas viagens de carro.

Para serem realmente proveitosas, viagens de carro têm que ser feitas com calma, com tempo sobrando.

A tendência de todo viajante, sem exceção, e eu me incluo nessa, é planejar mais atividades do que cabem no tempo que a gente tem. Quando a gente está passeando na cidade, o que acontece é que lá pelas tantas você tem que deixar os últimos passeios para o dia seguinte.

Mas quando você está de carro e programou uma série de paradas no caminho durante a viagem, e essas paradas levam mais tempo do que você programou, é pior. Pode chegar o fim do dia e você ainda estar longe de onde você vai dormir. Cai a noite, sobe a adrenalina, você se cansa mais, às vezes tem que comer na estrada porque não sabe se ainda vai ter restaurante aberto quando chegar…

Não imprima um ritmo de excursão às suas viagens de carro. Por conta própria a gente faz tudo mais devagar, e é bom que seja assim. Poder fazer paradas, planejadas ou inesperadas, durante um trajeto é a maior vantagem de viajar de carro. Vamos usar essa vantagem com inteligência.

Programe trechos curtos, tipo assim, idealmente uns 250 km por dia, 300 km estourando. Assim você vai ter tempo de fazer paradas sem correria e sem stress.

Cuidado ao calcular o tempo de trajeto

Se você vai somente sair de uma cidade pra ir direto para outra, não calcule o tempo das suas viagens de carro dividindo a distância pela velocidade máxima permitida.

Na vida real a gente perde tempo pra sair e pra entrar nas cidades e mesmo na estrada não mantém essa velocidade constante, além de estar sujeito a pequenas bobeadas. Então acrescente aí uns 30% a mais de tempo como margem de manobra.

Aplicativos como Waze e Google Maps são mais precisos quanto ao tempo de deslocamento. Mas como o trânsito muda a todo momento, não dá para calcular hoje o tempo de deslocamento exato de um trajeto que você vai fazer em outro dia.

Base é melhor do que pinga-pinga!

Sempre for possível, em vez de fazer uma viagem pinga-pinga, uma noite em cada lugar, pense em montar bases. Você escolhe uma base central na região que vai visitar. Daí você se hospeda 3 ou 4 dias e sai a cada dia para explorar as atrações até uns 150 km de distância.

Essa estratégia tem duas vantagens:

  • Você perde menos tempo com entrar e sair de hotel, que é uma chatice
  • Você passeia com muito mais tranqüilidade, porque fazer paradas com bagagem no carro é sempre estressante (é bom lembrar que existem quadrilhas especializadas em furtar bagagem de carros de turistas)

É sempre mais tranqüilo quando a gente pode ir direto para uma base, se instalar e ficar os próximos dias passeando leve, sem bagagem, sem hora hora para chegar no próximo hotel.

3 | Não escolha carro pelo motivo errado

Pegadinha número 3: cuidado para não escolher viajar de carro pelos motivos errados.

O único motivo que realmente determina a escolha do carro é o percurso — o tipo de itinerário.

Se você vai com calma, sem tempo cronometrado, sem passar por cidade grande, viajando por regiões onde haja estradas secundárias (que são as estradas realmente bonitas), então carro vai ser a melhor escolha, sem dúvida.

Agora, os motivos errados.

Não alugue carro porque ‘é mais rápido’

Carro só é mais rápido que ônibus. Desde que você não se embanane pra sair de uma cidade e entrar na outra.

Se tiver trem, o carro perde sempre paro trem.

Não alugue carro porque ‘é mais econômico’

Em boa parte das vezes, é ilusão. OK: a passagem aérea ou de trem pode estar cara, ainda mais quando você multiplica pelo número de passageiros.

Mas quando você soma à locação o custo de combustível, pedágios, estacionamentos e eventuais multas, sempre sai bem mais caro do que a conta inicial. Esse custo total seria o que você deveria usar na comparação. (Mas, ainda assim, se o percurso não for ideal para carro, não há economia que valha a pena.)

Não alugue carro só pela sensação de dirigir numa auto-estrada bacana

Está bem: um carro pode também ser uma experiência top, como um hotel de luxo ou um restaurante gastronômico.

Se você quer ter a sensação de dirigir numa estrada perfeita a 130 km/h ou até mais, se for na Alemanha, inclua essa experiência no meio da sua viagem.

Mas só faça uma road trip inteira em auto-estrada se você tem certeza de que os passageiros vão curtir passar horas e horas por dia numa estrada sem graça e sem paisagem como são 95% das auto-estradas.

Não alugue carro por causa da bagagem

Essa eu ouço todo dia: gente que resolve fazer de carro viagens que ficam perfeitas de trem só por causa das malas.

Está indo viajar com muita bagagem? Antes de pensar em alugar um só pra carregar bagagem, pense em viajar mais leve. Você consegue. Todo mundo consegue.

Se o seu itinerário não for ideal para andar de carro, o carro vai ser a sua bagagem mais pesada da sua viagem.

Não alugue carro porque está com criança ou com idoso

Se o itinerário da sua viagem não for propício para uma viagem redonda de carro — se tiver cidade grande no trajeto, se as distâncias forem muito grandes, se você estiver apressado — o carro vai ser mais um passageiro pra você cuidar.

Fonte: Viaje na Viagem