Em última análise, restringir sua alimentação não funciona. Veja por quê.
Chegou 2019. Ou seja: está na época de fazer novas resoluções. Eu não sou grande fã das resoluções de Ano Novo de modo geral; para mim, a maioria delas parece reforçar a ideia falsa e perigosa de que não somos bons o suficiente do jeito que somos e que o autoaperfeiçoamento seria o segredo da felicidade. E sou especialmente contra as resoluções que envolvem fazer dieta.
Por quê? É claro que alimentar-se saudavelmente é importantíssimo, mas é igualmente importante ter um bom relacionamento com a comida e com seu corpo. Pesquisas sobre os efeitos de curto e longo prazo das dietas alimentares mostram que eles podem ter efeitos bastante prejudiciais. Cada vez mais especialistas recomendam a seus clientes que desistam de fazer dieta e, em vez disso, façam as pazes com a comida e com seu corpo.
Em última análise, é você quem manda em seu corpo. É você quem sabe se você quer ou não fazer dieta. Mas, antes de tomar a decisão de mudar completamente seus hábitos alimentares no novo ano, veja algumas razões convincentes para desistir de uma vez por todas da ideia de fazer dieta.
1. Para a maioria das pessoas, as dietas não levam à perda de peso de longo prazo.
Nas primeiras semanas de uma dieta – que pode incluir contagem de calorias, eliminação de um alimento ou grupo alimentar, seguir um planejamento alimentar rigoroso, etc. -, a maioria das pessoas perde peso. Mas pesquisas revelam que fazer dieta geralmente não leva à perda de peso de longo prazo. Para muitos especialistas, isso se deve a um conjunto de fatores mentais e físicos.
Para começar, é muito difícil dar continuidade a uma dieta. “Temos todo um conjunto de estudos que indicam que fazer dieta pode levar à preocupação com a alimentação”, disse a dietista Kathleen Meehan, de Houston. Restringir sua alimentação leva você a querer comer mais, e é essa a razão porque a maioria das pessoas desiste da dieta após um ou dois meses.
Mesmo que você consiga perseverar, seu corpo vai resistir à perda de peso. “Nosso corpo encara uma dieta como uma forma de passar fome”, disse Meehan. “Como mecanismo de sobrevivência, nosso metabolismo fica mais lento e ocorrem alternações nos hormônios que regulam a fome e a saciedade.”
2. Fazer dieta deixa você desconectado com as necessidades reais de seu corpo.
Um problema sério das dietas é que elas nos ensinam a comer segundo regras de alimentação arbitrárias, em lugar de nos sintonizarmos com nossos próprios desejos e sinais de fome.
“Fazer dieta enfraquece nossa sabedoria interna com relação aos alimentos”, explicou o nutricionista Aaron Flores, de Calabasas, Califórnia. “As dietas prescrevem: ‘Faça isso, não faça aquilo. Coma isso, não aquilo. Seu corpo está equivocado e é isto que vamos fazer para colocá-lo em ordem.’ Mas quando rejeitamos as dietas e a cultura das dietas, descobrimos que nosso corpo possui uma sabedoria interna espantosa. Ele pode nos indicar quanto comer, quando parar de comer e quais alimentos nos dão mais energia.”
Se você quer ficar mais em contato com suas próprias ‘deixas’ alimentares internas, muitos especialistas recomendam ler o livro Intuitive Eating e se pautar pelos princípios que ele apresenta para parar de fazer dieta e, em vez disso, começar a confiar em seu corpo, alimentando-se com atenção consciente. Trabalhar diretamente com um especialista, como um médico dietista ou um nutricionista, também pode ser muito útil.
3. Fazer dieta aumenta suas chances de comer em excesso ou desenvolver a compulsão alimentar periódica.
Já lhe aconteceu alguma vez de iniciar uma dieta com as melhores intenções, mas, depois de algumas semanas, se flagrar devorando batatas chips ou sorvete? O fato é que a compulsão alimentar periódica é um efeito colateral altamente comum das dietas alimentares.
“O corpo acaba percebendo que está sendo privado de comida e então procura nutrição e energia da maneira que puder”, explicou Amee Severson, dietista da Prosper Nutrition and Wellness, na região de Seattle.
Não é por acaso que as “orgias” de alimentação compulsiva periódica geralmente envolvem quitutes doces ou com alto teor de carboidratos. “Muitos clientes me dizem que são viciados em carboidratos ou açúcar”, explicou Severson. “Quando somos privados de alimentos, nosso corpo muitas vezes procura a forma de energia mais certeira e rápida: carboidratos simples, ou seja, açúcar.”
O pior é que isso pode conduzir a um ciclo vicioso de restrição alimentar seguida por episódio de alimentação compulsiva. Severson disse que, como aumenta seu desejo de carboidratos, as pessoas muitas vezes acham necessário restringir ainda mais seu consumo dos mesmos. E isso provavelmente leva a outra orgia de alimentação compulsiva.
4. As dietas definem alguns alimentos como “bons” e outros como “maus”, mas não é assim que as coisas funcionam.
Você pode sofrer deficiência de determinados nutrientes se eliminar alimentos que uma dieta classifica como “maus”.
É verdade que alguns alimentos são mais ricos em nutrientes que outros, mas a ideia de que existem alimentos “bons” e “maus” é complicada. Para começo de conversa, consumir uma variedade grande de alimentos está associado à saúde melhor; logo, eliminar alimentos que uma dieta lhe diz que são “maus” pode levar a uma deficiência de determinados nutrientes.
Além disso, rotular alimentos desse modo conduz à culpa alimentar, algo que pode realmente prejudicar sua saúde mental e emocional. Quando fazemos uma dieta, “sofremos muito sentimento de culpa e vergonha por nos alimentarmos de modo dito ‘errado'”, explicou Severson. “Isso gera estresse desnecessário. Já temos tantos motivos para nos estressar – será que precisamos realmente nos estressar com a comida também?”
5. Como as dietas fracassam, fazer dietas pode fazer você se sentir um fracasso.
Segundo Severson, as pessoas geralmente colocam a culpa nelas próprias quando suas dietas falham. Elas acabam se afastando da dieta, recuperando peso e voltando ao mesmo lugar onde começaram. “É lamentável, porque a ciência nos mostra que isso ocorre com uma grande porcentagem da população”, ele disse.
Flores observa a mesma coisa e disse que, mesmo que já tenhamos tentado diversas dietas diferentes e fracassado em todas, ainda pensamos que cada fracasso é nossa própria culpa e ainda juramos que vamos tentar de novo no futuro.
6. Fazer dieta eleva as chances de desenvolver um transtorno alimentar.
“A restrição alimentar aumenta nossa preocupação com a comida e nossa insatisfação corporal, ambos fatores de risco para o desenvolvimento de um transtorno alimentar”, segundo a Associação Nacional de Transtornos Alimentares, disse Meehan.
A Clínica Mayo diz que fazer dietas é um fator de risco no surgimento de transtornos alimentares. “Passar fome e perder peso podem alterar o funcionamento cerebral de indivíduos vulneráveis, perpetuando comportamentos alimentares restritivos e dificultando o retorno a hábitos alimentares normais”, diz a clínica em seu site na internet.
7. Mesmo que você não desenvolva um transtorno alimentar propriamente dito, fazer dieta pode conduzir a hábitos desordenados.
Fazer dieta pode levar as pessoas a sentir receio ou desconfiança em relação a alimentos.
Quando você está fazendo dieta, é fácil começar a ter comportamentos desordenados, como evitar situações sociais porque você não terá controle sobre a comida, seguir as regras da dieta obsessivamente ou exercitar-se demais para compensar por ter comido “demais”.
“Atendo muitos pacientes que, depois de passar anos fazendo dieta, desenvolveram um medo profundo ou desconfiança em relação à comida”, disse a nutricionista Cara Harbstreet, da Street Smart Nutrition, em Kansas City, Missouri. “As pessoas podem ter medo de ganhar peso com determinados alimentos ou podem autodiagnosticar sensibilidades ou intolerâncias alimentares.” A malhação compulsiva é outro efeito colateral comum das dietas, segundo ela.
Harbstreet explicou que todos esses comportamentos desordenados “geralmente têm origem em uma dieta ou outro esforço para perder peso em que a pessoa aprendeu uma estratégia ou dica que afetou seu relacionamento com a comida ou sua imagem corporal”.
8. Fazer dieta reforça o estigma do peso e a ideia falsa de que ser mais magro é melhor.
A maioria das pessoas que faz dieta quer perder peso. A questão é que a perda de peso nem sempre é algo positivo e não necessariamente significa melhora da saúde.
“A relação entre peso e saúde é muito complexa”, disse Meehan. “É muito problemático enxergar o peso como sinal de saúde, pois isso frequentemente nos leva a classificar pessoas maiores como pouco saudáveis. Temos pesquisas que indicam que um corpo mais enxuto não é indício automático de saúde melhor. Estudos também revelam que perder peso não melhora automaticamente a saúde e o bem-estar das pessoas.”
9. O que leva à saúde melhor são comportamentos saudáveis, e não dietas ou emagrecimento.
Fazer dieta e emagrecer não vai necessariamente deixar você mais saudável, mas isso não quer dizer que seja impossível melhorar sua saúde. Na realidade, adotar hábitos mais saudáveis sem fazer dieta é uma ótima ideia.
“As pessoas de qualquer tamanho podem praticar hábitos saudáveis e modificar seus hábitos para que se encaixem sustentavelmente em sua vida”, disse Harbstreet.
Esses hábitos saudáveis podem incluir coisas como a prática de exercícios físicos de maneira prazerosa e energizante, não com a finalidade de perder peso; consumir alimentos deliciosos e que fazem você se sentir bem; cultivar relacionamentos de amizade e intimidade e engajar-se com a comunidade em volta; evitar comportamentos de risco, como o consumo de drogas ou álcool.
10. Não existe dieta perfeita, de qualquer maneira.
É crucial aprender a comer intuitivamente e confiar em seu corpo para lhe transmitir quais alimentos fazem você se sentir bem.
“Cada pessoa tem um modo de alimentar-se que é mais adequado a ela”, disse Meehan. “Isso se descobre através da experiência pessoal.” Ou seja: somos todos diferentes, então não faz sentido pensar que uma maneira de se alimentar vai funcionar para todo o mundo.
Aprender a comer intuitivamente, da maneira que funciona melhor para você, é o segredo para você se sentir melhor, opinou Severson. Quando você para de fazer dieta e começa a confiar em seu corpo, aprende muito sobre como os diferentes alimentos fazem você se sentir física e mentalmente.
11. Quando você finalmente parar de fazer dieta, é possível que adquira muito mais autoconfiança.
“Uma coisa boa que ocorre quando as pessoas param de fazer dieta é que sua autoconfiança e autoestima aumentam”, disse Severson. As dietas vêm acompanhados da mensagem sutil de que sua vida vai poder começar, finalmente, a partir do momento em que você atingir determinado peso ou aparência. Rejeitar essa ideia significa que “você está mais disposta a viver a vida como você quer, agora”, disse Severson.
12. Seus relacionamentos também podem melhorar.
“Às vezes a obsessão com emagrecer e fazer dietas restritivas pode causar problemas em relacionamentos, porque você passa a ter menos tempo para dedicar às outras pessoas”, disse Severson. Pense em todo o tempo e a energia dedicados a uma dieta e imagine-se dedicando essa energia, em vez disso, às pessoas que você ama.
“Abrir mão das dietas abre oportunidades para estar plenamente presente com amigos e familiares, criando lembranças que não envolvem pensamentos ansiosos ou estressantes envolvendo comida ou seu corpo”, disse Harbstreet.
Para concluir: prometa a si mesmo que vai parar de encarar seu corpo como algo que precisa ser consertado.
É melhor prometer honrar seu corpo que ficar obcecado em tentar transformá-lo.
Nosso corpo é uma das únicas constantes na nossa vida, disse Flores. Precisamos tentar manter um relacionamento saudável com ele, tratando-o com respeito, e não nos castigando ou restringindo.
“O surpreendente é que, quando paramos de ficar obcecados com a comida e pensar constantemente no que comer, passamos a fazer coisas mais positivas por nosso corpo, porque passamos a tomar decisões baseadas no respeito, na compaixão e na isenção de julgamento, em vez de nos pautar pelo medo e a vergonha”, disse o nutricionista.
Fonte: Huff Post Brasil