Procuramos especialistas em engenharia automotiva para esclarecer de vez essa questão que tanto aflige alguns motoristas

“A geladeira da sua casa é da cor da porta do meu carro?”. Se você é passageiro e já usou mais força do que o necessário para fechar a porta de um carro, talvez já tenha ouvido essa frase irônica de um motorista ofendido. Da mesma forma, se você é um condutor zeloso, talvez já tenha dito isso para alguém que foi violento com a porta do seu carro.

Mas será que bater a porta do carro com força danifica o veículo de alguma forma? Ou isso é apenas mais um mito do universo automotivo?

De acordo com Marcio Azuma, diretor de segurança veicular da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), o processo de desenvolvimento de carros prevê ocorrências de pancadas nas portas e, portanto, toma medidas para que elas não causem grandes danos nos veículos. “O projeto tem uma garantia de que a porta não vai quebrar com uma batida mais forte”, resume Azuma.

Ele detalha que todas as peças que compõem as portas de um carro passam por extensos testes de durabilidade. Mais especificamente, o plástico da porta deve suportar várias coisas durante o que Azuma definiu como sua “vida útil”: abrasão, temperaturas mais altas e também as pancadas. “Nenhuma parte da porta vai quebrar de uma hora para a outra por causa de uma batida mais forte”, garante.

A posição de Azuma é corroborada pelo departamento de engenharia da Toyota do Brasil. “As portas dos veículos têm batentes de borracha que garantem a absorção do impacto quando são fechadas, independente da força aplicada”. Ainda segundo a montadora, além dos batentes de borracha, o desenvolvimento da estrutura do carro como um todo já considera a absorção ideal, para evitar que o veículo acabe danificado de alguma forma por esses impactos.

Contudo, ainda que uma eventual batida de porta mais brusca não vá fazer nenhum mal ao carro, impactos constantes nas portas podem gerar algum problema a longo prazo. “Se você bate a porta do carro a vida inteira, em um determinado momento você pode começar a ouvir um ruído mais alto, mais incômodo, principalmente se as portas do veículo tiverem porta-objetos sempre cheios”, destaca Azuma.

Porém, mesmo neste cenário, há solução: o diretor de segurança afirma que uma manutenção simples, como trocar as presilhas das portas que sofreram pancadas frequentes, já deve resolver o problema do ruído.

Condições específicas

Esclarecido que bater a porta do carro com mais força do que o necessário vez ou outra não vai causar danos permanentes ao veículo, ainda fica a dúvida se, em alguma condição específica, essas pancadas podem estragar o carro. Por exemplo, caso as janelas estejam abertas, há probabilidade de dano maior?

A engenharia da Toyota afirma que não. “Um barulho maior é percebido quando as portas são fechadas com vidros abertos — o que pode dar a percepção de algum tipo de estrago em relação a quando os vidros estão fechados”, explica a montadora.

Quanto a esse “barulho maior”, Marcio Azuma comenta que, quando o vidro do carro está aberto, a sustentação é apenas lateral, enquanto se está totalmente fechado, a sustentação é maior, além de existir a pressão, que garante que o vidro fique no lugar. “Um carro em condições normais já foi feito para aguentar esse tipo de situação, então não deve acontecer nada”, reafirma.

Mas e se as condições não forem normais? Azuma destaca apenas um cenário em que bater a porta com força pode causar um dano maior — e imediato — ao carro: quando os vidros do veículo em questão são blindados. “É uma condição crítica, porque nesse caso o carro está fora das especificações de fábrica”, diz.

Assim, o que pode acontecer a um vidro blindado imediatamente após uma pancada muito forte é o surgimento de uma trinca ou quebra — algo que não ocorreria em um carro sem blindagem.

Fonte: Revista Auto Esporte