Transtorno do neurodesenvolvimento pode ser identificado nos primeiros anos de vida

Dificuldade no contato visual, atraso na fala e não responder a chamados. Estes podem ser os primeiros sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou Autismo, que afeta o desenvolvimento neuropsicomotor e é um dos transtornos mais prevalentes na infância. No mundo, estima-se que mais de 70 milhões de pessoas tenham o diagnóstico, sendo 2 milhões delas somente no Brasil.

O autismo é caracterizado pelo comprometimento de dois domínios centrais: problemas na comunicação social e interação social; e padrões repetitivos e restritos de comportamento, interesses ou atividades.

De acordo com a neuropediatra do Hospital Anchieta, Dra. Bianca Mazete, as crianças com o transtorno podem apresentar os primeiros sinais ainda nos anos iniciais de vida. “Pode ser visível desde o primeiro ano de vida ou se manifestar posteriormente em uma criança que tinha um desenvolvimento adequado até os 12 ou 18 meses e que passa a ter uma regressão da linguagem ou das habilidades sociais”, explica a especialista.

O transtorno pode ser dividido em três níveis. No nível I, o mais leve, a criança  necessita de apoio para que as dificuldades na comunicação social não causem grandes danos; ela tem dificuldade em interagir com o outro, e eventualmente, respostas inconsistentes às tentativas de interação por parte dele. Já no Nível II, as crianças requerem apoio substancial por apresentar carência notável das habilidades de comunicação verbais e não- verbais, além de realizar poucas tentativas de interação interpessoal, o  que gera grande prejuízo social. Por fim, no Nível III, considerado o mais severo, as crianças mostram graves prejuízos na comunicação verbal e não verbal; grandes barreiras na interação com outras pessoas e quase nenhuma resposta às tentativas delas.

Causas

Diversos fatores como a genética e a presença de outras anomalias podem estar relacionadas ao surgimento do autismo. No entanto, não há causas específicas ligadas ao transtorno quando surge como forma primária ou essencial.

O TEA pode também aparecer de forma secundária, aliado a outras anomalias cromossômicas como a síndrome de Down ou de Turner, Síndromes genéticas como Rett, Angelman, a Esclerose tuberosa, X frágil, entre outras.

Fatores de risco

É possível ainda identificar os fatores de risco para o surgimento do transtorno. Eles podem ser pré-natais, quando há exposição a pesticidas, exposição à cocaína, níveis elevados de etanol, associação provável com doenças autoimunes, diabetes e pré-eclâmpsia; perinatais, quando há prematuridade; ambientais, devido à idade avançada dos pais ou mutacionais, relacionadas ao contato com mercúrio, cádmium, níquel e tricloroetileno, bem como a poluição do ar.

Diagnóstico                                                                                                

O diagnóstico do TEA é clínico. Por meio de relato dos pais, avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor e do comportamento da criança é possível fazer o diagnóstico.  Quanto mais precoce é realizado diagnóstico e iniciado o tratamento adequado, melhor é a qualidade de vida da criança autista. Alguns questionários e escalas contribuem para o rastreio precoce do autismo, como a Lista de Verificação Modificada para o Autismo em Crianças (M-CHAT) e a Escala de Avaliação do Autismo na Infância (CARS).  Quando existe dúvida, é realizada a avaliação padrão para o TEA, que é a Escala de Observação para Diagnóstico do Autismo (ADOS).

Avaliações com outras especialidades são importantes para uma melhor investigação do paciente, de acordo com a neuropediatra. “Não podemos deixar de solicitar a avaliação fonoaudiológica para analisar a qualidade da fala e da linguagem, assim como comorbidades associadas; e a avaliação sensorial, postural, das atividades de vida diária (AVDS) e socialização realizada pelo terapeuta ocupacional”, explica a Dra. Bianca Mazete. Além disso, a avaliação neuropsicológica tem um papel relevante para o diagnóstico. “Ela nos permite um dado quantitativo da cognição, tendo em vista que 50% dos autistas podem ter Deficiência Intelectual, ou seja, um Quociente de Inteligência total menor que 70”, acrescenta a especialista.

Tratamento

Assim como o diagnóstico, o tratamento permeia diversas especialidades. Uma equipe multidisciplinar formada por pediatra, psiquiatra, neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, educador físico, psicopedagogo  deverá avaliar minuciosamente e, em comum acordo com a escola e a família, propor as intervenções e reabilitações necessárias.

Algumas das intervenções utilizadas hoje envolvem Analise do Comportamento Aplicado ao Autismo (ABA), método Denver, terapia cognitiva comportamental, treinamento parental, treinamento de respostas pivotais, estabelecimento de rotinas, ensino de autocuidado, ensino de habilidades sociais, integração sensorial, entre outros.

Medicamentos também podem ser usados conforme as comorbidades e piora nos quadros comportamentais, entre eles a agressividade, irritabilidade, comportamento repetitivo, distúrbios do sono, síndromes metabólicas, desordens gastrointestinais.

A neuropediatra enfatiza que, antes de qualquer tratamento, é importante lembrar que “o autista precisa de muito amor e respeito. Ele deve ser estimulado a acreditar em seu potencial e de maneira alguma deve ser excluído do meio social”. Além disso, “a união entre família, escola, profissional médico e reabilitadores é a principal chave para o desenvolvimento da criança dentro do transtorno do espectro autista”, acrescenta a Dra. Bianca Mazete.

Dia Mundial de Conscientização do Autismo

O dia 2 de abril foi instituído o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas, em 18 de dezembro 2007 e foi incorporada ao calendário nacional em 2018 após sanção da lei nº 13.652, pela Ministra Cármen Lúcia.

Fonte: Divulgação