A atual pandemia impôs inúmeros desafios à sociedade, dentre eles o de planejar e executar, com agilidade e criatividade, estratégias para o ensino remoto de crianças e adolescentes diante da impossibilidade de prosseguir com a mediação presencial. Subitamente, professores precisaram se reinventar, mobilizando ou construindo competências que até então não lhes haviam sido requeridas. Algo semelhante ocorreu com as famílias, que precisaram conciliar atividades laborais com afazeres domésticos e ações de acompanhamento da aprendizagem de seus filhos.

Evidências científicas comprovam que a parceria entre família e escola é imprescindível para potencializar processos de desenvolvimento infanto-juvenis. Enquanto a escola é responsável pelas principais vivências que geram aprendizagem formal, a família é protagonista no tocante à aprendizagem informal – ambas de grande valia para uma formação integral.

Com o estabelecimento do ensino remoto, pais e mães passaram a ser demandados a contribuir mais fortemente para a aprendizagem formal – anteriormente, de responsabilidade quase exclusiva da escola. Esse fenômeno tem ocorrido até mesmo em instituições que dispensam momentos individuais entre professor e estudante. Diante dele, surgem perguntas como: o que devo fazer para que meu filho continue se desenvolvendo? As posturas que tenho adotado são adequadas?

Não cabe à Psicologia respondê-las de forma categórica. Primeiramente, porque estamos diante de um fenômeno inédito. Em segundo lugar, porque cada sujeito e cada família são únicos, inexistindo proposições genéricas. Contudo, também não seria apropriado ignorar os anseios e as necessidades de pais e mães. Essa postura manteria a ciência psicológica afastada dos fenômenos concretos, o que tem sido historicamente criticado.

A Psicologia, especialmente em suas áreas Escolar e do Desenvolvimento Humano, pode e deve orientar sobre como proceder diante de questões como o não engajamento no ensino remoto ou a desmotivação de estudantes do Ensino Médio após mudanças no Enem. Partindo dessa compreensão, propõe-se, como uma prática familiar inicial, explorar os sentidos atribuídos pela criança ou pelo adolescente à escola, buscando suprir de outra forma o que lhes era essencial e foi reduzido ou retirado. Sabe-se que a instituição escolar representa não apenas um espaço para socialização de conhecimentos, mas um lugar de interações e trocas afetivas.

Também é importante que o adulto pondere sobre a transitoriedade de determinados padrões comportamentais. Muitas crianças têm sido descritas como desatentas, desafiadoras ou até mesmo agressivas. Contudo, antes do isolamento social, portavam-se de outra maneira, sendo essencial considerar a possibilidade de estarem reagindo frente às mudanças, o que não é apenas algo natural, mas desejável.

Além disso, é fundamental não comparar o seu filho com outras crianças com base no que percebe nas aulas on-line. As trajetórias de aprendizagem são únicas e cada indivíduo só pode ser avaliado em relação ao seu próprio processo, que não se restringe à dimensão acadêmica. É preciso atentar para campos igualmente relevantes, a exemplo do social.

Para exercitar um olhar de sucesso, é fundamental que eventuais erros sejam compreendidos como base para futuras aprendizagens. Com isso em mente, é válido, também, tranquilizar o estudante diante de verificações da aprendizagem, explicando que o objetivo não é classificá-lo, e sim conhecer o que ele e seus colegas aprenderam no novo formato de ensino proposto, retomando conteúdos quando necessário.

Por fim, reitero: as limitações do ensino remoto fazem com que as escolas necessitem de um maior apoio das famílias. Diante dessa responsabilidade, pais e mães podem se sentir sobrecarregados. Contudo, devemos lembrar que estamos passando por um momento atípico, e que só o superaremos em parceria, havendo possibilidade de diálogos abertos e respeitosos, bem como de flexibilizações por ambas as partes. Em parceria, poderemos agir assertivamente diante de todos os tipos de dificuldades.

Fonte: Divulgação