Em meio à pandemia do COVID-19, as máscaras se tornaram um item indispensável no dia a dia. São de materiais, modelos e cores tão diversificados, atendendo todos os gostos e necessidades. Como o uso está obrigatório, venho observando cada vez mais, no consultório e nas teleconsultas, lesões de pele nas regiões de contato com a máscara. Essas lesões dependem, antes de tudo, do tipo de máscara que a pessoa está utilizando.

No caso das máscaras de tecido, que são de uso rotineiro pela população, a maior parte das lesões estão localizadas na região ao redor da boca, nariz e bochechas. Podem surgir pápulas (bolinhas avermelhadas) ou pústulas (amareladas) nessas áreas, confundindo muitas vezes com espinhas. Isso acontece especialmente se a pessoa vem usando a mesma máscara sem intervalo apropriado e limpeza adequada.

Seguindo recomendações da ANVISA, as máscaras de tecido devem ser utilizadas continuamente por até 3 horas. Porém, o que vemos são pessoas permanecendo com a máscara em contato com seu rosto por mais tempo, seja no trabalho ou em outras atividades. Dessa forma, a máscara pode acumular sujeira e suor, além de secreções vindas da boca e do nariz.

Outras lesões também podem ocorrer, como machucados no local de contato com a pele, caso a máscara ou o elástico estejam apertados. Esses machucados acontecem mais comumente em áreas de maior fricção com a pele, como nas bochechas e ao redor das orelhas. Para evitar o surgimento desses tipos de lesões decorrentes das máscaras de tecido, recomenda-se:

– manter a higiene da face diariamente, lavando o rosto com água e sabonete pela manhã e à noite.

– manter a pele hidratada, pois a pele seca se torna ainda mais sensível.

– lavar a máscara com água e sabão; a ANVISA também orienta a limpeza com hipoclorito de sódio por 20 minutos.

– sempre deixar secar bem; o uso de máscaras úmidas reduz a proteção e facilita o aparecimento de dermatites.

– guardar a máscara em local limpo e seco, como uma sacola plástica ou higienizada.

– evitar máscaras muito apertadas; o ideal é que cubram totalmente boca e nariz, sejam bem ajustadas ao rosto, sem deixar espaços nas laterais.

– nunca compartilhar a máscara com outras pessoas; isso seria um risco para contágio, não só de COVID, como também de outras infecções.

Em relação às máscaras cirúrgicas, utilizadas geralmente em serviços de saúde, elas são descartáveis, o que torna o risco de lesões cutâneas bem menor. E como o elástico é flexível, raramente incomodam em contato com a pele. Antes mesmo da pandemia, já eram de uso rotineiro por diversos profissionais de saúde em suas atividades. Por essas razões, o aparecimento de lesões com essas máscaras é mais raro.

Já a máscara N95 vem sendo muito utilizada nos hospitais, justamente por ser a que mais protege. Devido ao uso mais constante, algumas lesões na pele têm se tornado queixas frequentes dos profissionais de saúde na linha de frente de combate ao COVID-19. Pele avermelhada, pápulas, áreas machucadas e descamativas, são as alterações cutâneas mais comumente relatadas devido ao uso prolongado desse tipo de máscara. Podem ocorrer queimação na pele, coceira e dor. Os locais mais comumente afetados são o nariz e as bochechas.

Além disso, o contato prolongado com qualquer tipo de máscara pode causar urticárias de contato e pressão, dermatites de contato e agravamento de dermatites preexistentes. Por exemplo, quem já sofre com acne, rosácea e outras causas de sensibilidade cutânea, pode evoluir com piora das lesões na pele.

Algumas medidas mais específicas devem ser tomadas pelos profissionais e pacientes que necessitam usar essas máscaras:

  • higienizar a pele com sabonete líquido (preferível do que os de barra), que não resseque tanto a pele.
  • hidratar a pele diariamente com produto indicado para o tipo de pele. Nas áreas de fixação da máscara N95, onde ocorrem maior contato e atrito, deve-se proteger de forma mais efetiva a superfície da pele. Isso pode ser feito através de uma camada grossa de pomada lubrificante (tipo de assadura) ou usando curativos como micropore, silicone, hidrocolóide, etc.
  • examinar a pele de tempos em tempos, buscando sinais de que a máscara está machucando alguma região específica. Uma pressão atrás da orelha, por exemplo, pode ser aliviada com o ajuste do posicionamento da máscara.
  • não colocar a máscara diretamente sobre alguma lesão na pele.

Em boa parte dos casos, essas medidas já previnem o surgimento das lesões. Mas algumas pessoas vão necessitar de tratamento dermatológico, com cremes, pomadas antiinflamatórias ou antibióticas. A escolha do tratamento e dos produtos para cada tipo de pele deve ser feita, preferencialmente, pelo médico dermatologista. Muitas vezes, a simples substituição de um sabonete ou hidratante por um produto mais adequado já pode levar a uma melhora significativa. Por isso, em caso de dúvidas, consulte o especialista em saúde da pele, o dermatologista.

Fonte: ADRIANA ISAAC – médica dermatologista, com título de especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e membro da American Academy of Dermatology.