Durante a gestação o útero exerce um papel central no processo reprodutivo. Anatomicamente, ele é uma estrutura oca e elástica que funciona como um envoltório onde todo o processo do desenvolvimento fetal acontece.

Composto principalmente por células de musculatura lisa, o útero pode ser dividido em três regiões com diferentes funcionalidades: a camada mais interna é chamada endométrio e a mais externa perimétrio. A primeira é revestida por tecido epitelial proliferativo e é onde o embrião se aloja após a fecundação. A segunda é constituída por tecido conjuntivo, em contato direto com o ambiente da cavidade abdominal.

A propriedade elástica do útero, porém, deve-se à composição celular da camada intermediária, o miométrio, formado principalmente por células de musculatura lisa.

O comportamento uterino como um todo responde à ação hormonal do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, especialmente estrógenos e progesterona. Durante o ciclo reprodutivo da mulher, os estrógenos atuam estimulando a proliferação do endométrio para receber um possível embrião, e durante toda a gestação multiplicando as células musculares do miométrio e perimétrio para expandir o útero.

A saúde do útero é um reflexo do equilíbrio da função dos estrógenos e é de central importância para a saúde reprodutiva da mulher, já que este é um hormônio responsável pela multiplicação celular em diversos aspectos. Sua falta pode levar à anovulação e seu excesso pode levar ao crescimento de tumores, entre eles os miomas uterinos.

Confira o texto abaixo e entenda melhor o que são miomas uterinos!

MIOMAS: UMA DOENÇA COMUM E SILENCIOSA

Os miomas são considerados tumores benignos estrógeno-dependentes e surgem quando células da musculatura lisa do miométrio se multiplicam de forma anormal, originando massas protuberantes de tecido muscular ou fibroso.

Os miomas são classificados segundo o local em que aparecem e a sua localização, bem como a quantidade de miomas. Essas são variáveis que produzem sintomas específicos.

As causas do surgimento dos miomas ainda não foram bem elucidadas pela medicina, mas sabe-se que essa é uma doença de alta incidência – cerca de 80% das mulheres em idade fértil desenvolve miomas ao longo de sua vida reprodutiva –, mas que muitas vezes não manifesta sintomas claros – 75% das mulheres portadoras de miomas são assintomáticas, fazendo com que tanto fatores genéticos como cotidianos possam estar envolvidos em seu desenvolvimento.

TIPOS DE MIOMAS

Os miomas uterinos surgem de forma múltipla e podem acometer as três camadas do útero, assumindo uma morfologia e comportamento específicos em cada uma delas.

Os miomas que se desenvolvem próximos à camada mais externa do útero, o perimétrio, são chamados subserosos e podem projetar-se em direção ao interior da cavidade abdominal, comprimindo outros órgãos.

Quando surgem no miométrio, os miomas são chamados intramurais e podem ser múltiplos e microscópicos ou macroscópicos, chegando a atingir o tamanho de uma laranja.

Finalmente, são chamados miomas submucosos aqueles que se projetam para o interior da cavidade uterina. Esse tipo de formação tumoral é mais raro, porém produz sintomas mais claros, como aumento do fluxo e da duração do período menstrual, sangramentos entre os períodos e dores abdominais.

FATORES DE RISCO E FORMAS DE PREVENÇÃO

Alguns fatores de risco aumentam a prevalência dos miomas uterinos para determinados grupos de mulheres. Sabe-se que o histórico familiar aumenta as chances de desenvolver miomas e que este acomete as mulheres negras três vezes mais que as brancas.

Como trata-se de uma patologia estrógeno dependente, as alterações na própria oscilação hormonal típica do ciclo reprodutivo podem precipitar o desenvolvimento dos miomas, que muitas vezes desaparecem após a menopausa. Mulheres cuja menarca também apresentam maiores riscos para o aparecimento dos miomas.

Além da predisposição genética, alguns hábitos de vida podem colaborar para o surgimento dos miomas. A obesidade, o tabagismo e o consumo exagerado de álcool, cafeína e carne vermelha são práticas que aumentam significativamente as chances de desenvolver miomas uterinos.

Nesse sentido, uma das melhores formas de prevenir o aparecimento dessas formações tumorais deve incluir mudanças na rotina e nos hábitos alimentares – como aumentar o consumo de vegetais verde-escuros.

Especialmente porque a maioria das mulheres portadoras de miomas uterinos são assintomáticas, aquelas que seguem com regularidade uma rotina de consultas e exames ginecológicos preventivos têm condições de descobrir a doença em seus estágios iniciais, facilitando o tratamento e aumentando as chances de cura.

SINTOMAS DE MIOMAS

Os sintomas são relacionados diretamente ao tamanho, ao número e à localização dos miomas. Os subserosos normalmente causam sensação de pressão abdominal e alterações no funcionamento da bexiga e do intestino, já que podem projetar-se na cavidade abdominal, diminuindo o espaço disponível para esses órgãos.

Os miomas intramurais costumam apresentar sintomas como aumento do fluxo menstrual e dismenorreia, enquanto os submucosos manifestam sangramentos irregulares e com maior frequência, estando também mais associados aos quadros de infertilidade que a presença de miomas uterinos pode causar.

MIOMAS E REPRODUÇÃO ASSISTIDA

Quadros relacionados à infertilidade podem ser consequências comuns à presença de miomas e variam desde a incapacidade de engravidar à ocorrência de partos prematuros e abortos de repetição.

O tratamento hormonal é indicado para todos os tipos de mioma e nos casos mais graves pode ser indicada a realização da miomectomia, especialmente se a mulher manifesta o desejo de engravidar. Sabe-se que cerca de 75% das pacientes que se submetem à miomectomia conseguem engravidar no período de um ano.

Porém, quando isso não acontece, as técnicas de reprodução assistida podem ser ferramentas valiosas na reversão dos quadros de infertilidade feminina por miomas, além de outras patologias, porém é fundamental que o tratamento para involução ou retirada dos miomas seja feito anteriormente.

Em muitos casos, métodos de reprodução assistida de baixa complexidade, como a RSP (relação sexual programada), são suficientes para levar a mulher à gestação. Quando isso não acontece, é possível recorrer a FIV (fertilização in vitro), entre outras técnicas.