O Brasil se tornou o terceiro país com o maior mercado de estética no mundo, ficando atrás, apenas, dos Estados Unidos e da China. Os brasileiros são muito vaidosos, e isso não mudou em tempos de pandemia. A busca pela saúde, pela beleza, pelo bem-estar e pela melhora da auto-estima inclusive se intensificou em 2020. O auto-cuidado está em alta, e a estética está ligada diretamente com ele.

As pessoas em casa, isoladas, se sentiram privadas de cuidados externos, como uma ida ao salão de beleza, à academia, a um spa ou à uma clínica. O foco de tudo se voltou para dentro de casa e para as mídias sociais. Com isso, houve uma busca de soluções mais imediatas que pudessem ajudar ali mesmo, em casa. E os tratamentos caseiros se tornaram uma tendência.

Máscaras capilares e faciais, por exemplo, são divulgadas nas mídias sociais como opções de tratamentos estéticos para serem feitas em casa. Misturas à base de produtos encontrados facilmente em casa, como banana, abacate, iogurte, aveia, mel, açúcar, café, entre outros. Aparentemente inofensivos, não? A questão não é somente se não causam alergias ou reações inesperadas, mas também se realmente possuem algum efeito benéfico para a pele ou os cabelos.

Por um lado, tratamentos estéticos caseiros tem a grande vantagem de custo baixo e acessibilidade. Produtos de fácil alcance, baratos e aparentemente com nenhum risco envolvido se tornam tentadores. Mas do ponto de vista dermatológico, várias misturas como máscaras e soluções feitas em casa podem não ter eficiência, ou seja, não servirem de fato para um determinado objetivo.

Temos o exemplo das máscaras caseiras hidratantes, para os cabelos ou para a pele. Para um produto servir de fato como hidratante, ele precisa ter uma textura e composição que o permita ser absorvido pela nossa pele ou pelos fios. Isso depende, entre outros fatores, do pH da fórmula e do tamanho das partículas. Hidratantes industrializados passam por inúmeros estudos e testes para atingir o efeito da hidratação. Já os caseiros podem não atingir o resultado esperado. Ou seja, uma mistura que faz uma meleca na pele e nos cabelos, mas que na verdade não hidrata nada!

Já as máscaras caseiras esfoliantes podem ter benefício. Geralmente possuem algum ingrediente que estimulam a renovação celular quando friccionados sobre a pele, pelo próprio atrito, como sal, açúcar, pó de café ou aveia. E de fato, eles servem como esfoliantes, combinados a outros ingredientes, removendo células mortas. Mas em excesso, podem causar ressecamento e irritação.

E quanto ao risco? Realmente produtos caseiros são inofensivos? A resposta, infelizmente, é não! Atendo casos no consultório e por meio das teleconsultas de pacientes que tiveram problemas com fórmulas feitas em casa. As alergias e dermatites podem surgir pelo contato da pele com alguma substância irritante, mesmo sendo “natural”. Existem inúmeras receitas caseiras na internet com o uso da babosa, uma planta que possui indicações para tratamento de caspa e queda de cabelo. Mas em muitas pessoas, ao ser aplicada diretamente na pele e no couro cabeludo, ocorre uma irritação intensa, deixando a região avermelhada e coçando bastante. Isso exige tratamento médico muitas vezes, com uso de loções calmantes e antialérgicos. O famoso “barato que sai caro”.

Pior ainda são as milagrosas fórmulas clareadoras, que prometem tratar manchas difíceis. Algumas receitas divulgadas por aí possuem até limão, uma fruta que, quando exposta ao sol, pode causar manchas! Imaginem o risco enorme de receitas como essa serem usadas por pessoas sem o devido cuidado e piorarem a situação.

Então, como tudo na vida, as receitas caseiras podem ter 2 lados. Podem ajudar, como também podem atrapalhar. Tudo depende de quem indicou (se a origem da receita é confiável), de quem está aplicando (se a pessoa está fazendo o uso correto e não tem nenhuma sensibilidade a algum ingrediente) e do que está sendo aplicado (se realmente será efetivo e não tem riscos de piorar a situação). O mais confiável, seguramente, é um produto testado dermatologicamente, tanto quanto aos seus riscos e benefícios.

Fonte: Dra Adriana Isaac –  Médica Dermatologista especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e American Academy of Dermatology.