Conforme divulgado pelo Olhar Digital, as baixas temperaturas chegam de vez esta semana. A presença de um ciclone extratropical no litoral do Rio Grande do Sul deve provocar um fenômeno raro para essa época do ano, causando uma frente fria histórica.
Para esta terça-feira (17), foram reveladas chances de nevar no país, principalmente na Serra Catarinense. De acordo com o Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri/Ciram), uma onda de frio intensa pode levar a temperatura para até -3ºC no estado.
No Rio Grande do Sul, são esperadas fortes rajadas de vento, de 80 a 100 km por hora, na madrugada desta quarta-feira (18).
E não é só a região sul do Brasil que vai sentir os efeitos da frente fria. A capital e o interior de São Paulo correm risco de geada, com mínimas entre 2ºC e 5ºC, conforme informações da Metsul Meteorologia.
No Centro-Oeste, as temperaturas poderão chegar a 7ºC entre quarta e sexta-feira (20), em capitais como Campo Grande (MS), Cuiabá (MT) e Goiânia (GO). No Distrito Federal, a previsão é de mínima de 5ºC.
Com o frio se antecipando e chegando com força, muitos podem estar se perguntando se isso é um sinal de que o inverno de 2022 vai ser extremamente rigoroso, com poderosas massas de ar polar e frio constante.
Frente fria intensa nem sempre é sinal de inverno rigoroso
A Metsul Meteorologia fez um levantamento sobre como foram os invernos na região Sul em anos em que as temperaturas caíram atipicamente entre os meses de março e maio.
Nos últimos 60 anos, o frio incomum para essa época encontra paralelo em 1964, 1976, 1990, 2000 e 2012. Indo mais atrás na história, a menor temperatura em março em Porto Alegre (RS) durante a primeira metade do século passado (1909-1948) foi de 9ºC em 16 de março de 1916. Naquele ano, o inverno foi rigorosíssimo na cidade: junho teve média de 10,2ºC com mínima absoluta de 0,5ºC, e julho registrou média de 10ºC com mínima de 0,8ºC.
Em 1964, no geral, o inverno foi muito frio, com temperatura muito abaixo da média em grande parte da América do Sul. Apesar disso, não foi um inverno em que a neve tenha se destacado no sul do país. O Instituto Nacional de Meteorologia registrou uma única ocorrência, em 17 de junho, no Planalto Sul Catarinense.
Naquele ano, os meses de junho, julho e agosto apresentaram temperatura abaixo da média na maior parte do Centro-Sul do Brasil. Julho, principalmente, chamou a atenção por ter sido um mês extremamente frio com marcas muito abaixo da média nos termômetros, no que se pode definir como um inverno muito rigoroso.
Em 1976, a história se repetiu, porém sem o rigor do inverno de 1964. Os três meses da estação apresentaram temperatura abaixo da média na maioria das áreas do Centro-Sul do país. Julho e agosto, em particular, tiveram grandes desvios negativos de temperatura com destaque para São Paulo, o Centro-Oeste e parte do Sul do Brasil.
No ano de 1990, mais uma vez, o inverno foi bastante frio. E, novamente, julho foi o mês mais marcante em termos de temperatura baixa com anomalias fortemente negativas. Fez muito mais frio do que o normal, especialmente no Oeste da Região Sul, no Mato Grosso do Sul e em parte do Mato Grosso, indicando a atuação de ar polar de trajetória continental de grande intensidade.
Aquele foi um ano de muita neve na região Sul, com registros em maio, junho, julho, agosto e setembro. O fenômeno foi observado em muitas cidades e foi mais forte no mês de julho, com temperaturas abaixo de zero o dia todo em alguns municípios de maior altitude.
Em 2000, a região viu neve nos dias 11, 12 e 13 de julho. Após um breve período com tempo aberto que trouxe mínimas excepcionalmente baixas no amanhecer de 14 de julho, um reforço de ar polar voltou a provocar neve entre os dias 16 e 17.
Em agosto, no dia 11, nevou no Nordeste do Rio Grande do Sul e no Planalto Sul de Santa Catarina. A surpresa, porém, estava reservada para o mês seguinte. No dia 25 de setembro, já em plena primavera, nevou em Bom Jesus, Cambará do Sul e em São Joaquim.
Segundo a MetSul, os anos de 1999 e 2000 foram influenciados por um intenso episódio do fenômeno La Niña, que favoreceu fortes ondas de frio e eventos de neve relevantes no Sul do país.
Já em 2012, último ano em que o inverno chegou forte em março, diferentemente dos demais, o inverno esteve longe de ser rigoroso. Julho foi frio, mas junho não teve grandes desvios de temperatura média mensal, e agosto foi um mês absurdamente quente com anomalias de temperatura positivas mensais que jamais se tinha observado.
Além do fator histórico, outras variáveis influenciam na queda das temperaturas
“É importante enfatizar que este não é o prognóstico da MetSul Meteorologia para o inverno, que levará em conta, quando da sua divulgação, outras variáveis além da analogia histórica”, explicou a meteorologista Estael Sias, mestre em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP).
Segundo ela, trata-se de mero exercício de recuperação de precedentes históricos de frio cedo e sua correlação com os meses de inverno (junho, julho e agosto, na climatologia). “Muitas vezes o passado oferece pistas sobre como vai se comportar o tempo no futuro a partir da observação de determinados padrões, de variáveis como La Niña ou El Niño a episódios de calor, chuva ou frio”.
Estael destaca que o ano de 2012 é uma amostra de como a analogia não pode ser fonte única de um prognóstico climático de longo prazo, considerando as diferenças enormes para os demais precedentes de frio intenso cedo.
A analogia se torna ainda mais complexa se considerarmos que o aquecimento global acelerou depois de 1990 e principalmente na última década, o que tem reflexos no clima por estarmos em um planeta diferente daquele dos anos de 1964, 1976 ou 1990.
“O que se pode antecipar é que a manutenção da La Niña pode trazer novos episódios de frio intenso mais cedo neste outono e, persistindo o fenômeno no inverno, poderá favorecer algumas incursões de ar gelado de grande intensidade”, disse a meteorologista.
Fonte: Olhar Digital