Muitas pessoas acreditam que tomar uma ou duas doses de vinho diariamente faz bem ao coração. Entretanto, em uma pesquisa recente, divulgada pela Revista da Associação Médica Norte-Americana (Jama), é possível constatar que o hábito não protege contra enfermidades cardiovasculares nem ajuda a viver mais.
No artigo desenvolvido com dados de 5 milhões de pessoas, as quais nutriam a crença de que a bebida fazia bem à saúde, os especialistas desmistificam a questão através de 107 estudos epidemiológicos realizados em 108 países de 1980 a 2021. Fora isso, os profissionais também avaliaram a associação entre o consumo frequente de álcool e a mortalidade de maneira geral. A conclusão principal foi de que quanto menos álcool, melhor para a saúde do coração.
A análise não se concentrou apenas no vinho, mas em qualquer tipo de bebida consumida diariamente em níveis moderados, com menos de 25g. Para comparação, uma dose de destilado tem 25g e uma taça de vinho de 90ml tem 10g, mesma quantidade de uma lata de cerveja. Segundo os autores, pesquisas antigas que atestavam benefícios do álcool não faziam ajustes de idade, sexo e estilo de vida, como prática de exercícios, tabagismo e dieta, o que pode distorcer os resultados. Agora, todos esses fatores foram calculados, garantindo, de acordo com os especialistas, um quadro mais acurado.
Para o cardiologista intervencionista do Instituto do Coração de Taguatinga (ICTCor), Ernesto Osterne, o consumo excessivo de álcool sempre foi claramente prejudicial à saúde, até mesmo quando consumido moderadamente.
“Pesquisas como essa são de grande importância para a promoção da saúde, já que fica claro que não existe menor risco de morte para o consumo baixo ou moderado, mas um risco maior para o alto consumo. E vale ressaltar que, além disso, nas mulheres, a vulnerabilidade começa a aumentar com menores quantidades de álcool, algo que já é conhecido e se reflete em limites de risco mais baixos do que para os homens”, explica.
De acordo com Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), em 2020, a cada hora cerca de duas mulheres morrem em razão do uso nocivo de álcool. Ao todo, 15.490 brasileiras perderam a vida por motivos atribuídos à bebida. A faixa etária mais afetada foi a das mulheres de 55 anos ou mais (70,9%), seguida pela faixa de 35 a 54 anos (19,3%), 18 a 34 anos (7,3%) e de 0 a 17 anos (2,5%).
Segundo o levantamento, as principais causas desses óbitos foram: doença cardíaca hipertensiva (15,5%), cirrose hepática (10,4%), doenças respiratórias inferiores (8,7%) e câncer colorretal (7,3%).
O consumo abusivo de álcool pelas brasileiras aumentou 4,25% anualmente, de 2010 a 2020. A tendência foi registrada em 12 capitais e no Distrito Federal. Os maiores aumentos no consumo foram verificados em Curitiba (8,03%), São Paulo (7,34%) e Goiânia (6,72%). O levantamento é realizado pelo Cisa, com dados do Datasus 2021.
“Uma das questões relevantes neste cenário é a vulnerabilidade biológica, pois as mulheres têm menor concentração de enzimas que fazem a metabolização do álcool, o que faz com que ele seja mais tóxico para o organismo feminino do que para o masculino. As mulheres, com menos tempo de uso crônico de álcool que os homens, já apresentam mais prejuízos para a saúde, como hepatite, cirrose e envelhecimento, diz o cardiologista do Instituto do Coração de Taguatinga (ICTCor).
Para Ernesto, conclusões como essas contidas na pesquisa estão levando sociedades médicas a destacar, cada vez mais, o potencial maléfico do álcool. Em 2022, a Federação Mundial do Coração publicou um relatório sobre o impacto do consumo de álcool na saúde cardiovascular, com mitos e medidas, e concluiu que, ao contrário da opinião popular, o álcool não é bom para o coração. “Por falta de informação as pessoas podem permanecer acreditando que esse tipo de bebida não é prejudicial, mas nesse caso só quem está sendo beneficiado é a indústria do álcool, que não é punida ao enganar o público sobre o perigo de seu produto”, finaliza.
Fonte: Divulgação