A tireoide está envolvida em diversas funções corporais, por isso, um desequilíbrio na produção de seus hormônios pode afetar o coração, respiração, digestão e até o humor. O Dicas de Mulher conversou com a endocrinologista Andressa Heimbecher sobre o tema. Acompanhe a matéria!

O que é a tireoide?

“A tireoide é uma glândula localizada na região anterior do pescoço, logo abaixo da cartilagem que chamamos de pomo de adão”, explica Andressa. O órgão tem o formato de uma borboleta e produz os dois principais hormônios que regulam nosso metabolismo – T3 e T4.

A endocrinologista explica que o T4 é produzido em maior quantidade, entretanto os dois hormônios são importantes para estimular as funções de diversos sistemas do corpo. “Juntos, eles organizam o nosso metabolismo, regulam a frequência cardíaca e a temperatura corporal, auxiliam na regulação do ciclo menstrual, ajudam no controle do peso e até no desenvolvimento cerebral do neném, entre muitas outras funcções”.

Distúrbios da tireoide: quando ela não obedece, o corpo padece

Com tantas funções no corpo, não é à toa que os desequilíbrios na tireoide afetam o organismo, desencadeando diversos sintomas (como você acompanhará adiante). A seguir, conheça as consequências dos principais distúrbios relacionados à glândula.

Hipotireoidismo

Andressa define os hormônios da tireoide como uma espécie de aditivo para o corpo. Quando eles estão em baixa, desencadeiam o hipotireoidismo, “distúrbio mais comum visto da tireoide. O hipotireoidismo subclínico chega a acometer até 10% da população, principalmente as mulheres”, explica a especialista.

A principal causa do hipotireoidismo é a tireoidite de Hashimoto, uma inflamação da glândula. Há casos que se desencadeiam “pós-retirada da glândula tireoide, quando o paciente tem um nódulo muito grande ou um câncer”. Menos comum hoje em dia, o distúrbio também pode ser desencadeado “devido à deficiência de iodo muito grave”.

Hipertireoidismo

O outro lado da moeda é o hipertireoidismo, ou seja, quando a tireoide produz hormônios até demais. “Nesse caso, o distúrbio é causado por autoimunidade, que tem o nome especial de doença de Graves – quando o corpo fabrica um autoanticorpo que acelera o funcionamento de toda a tireoide”. O aceleramento também pode ser desencadeado por um nódulo, como na doença de Plummer.

Nesses casos, o corpo está com mais aditivo, ou seja, funciona aceleradamente. Assim como no hipotireoidismo, o hipertireoidismo também é mais comum em mulheres do que em homens.

Câncer de tireoide

Como vimos, os nódulos de tireoide podem influenciar na produção de hormônios da glândula, mas isso ocorre quando eles são benignos. Se forem cancerígenos, as consequências costumam ser diferentes, já que há um crescimento desenfreado das células, que podem se espalhar para outros órgãos. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de tireoide é o mais comum na região de cabeça e pescoço, afetando três vezes mais as mulheres do que os homens.

Normalmente, as alterações na tireoide – como o surgimento de nódulos benignos ou problemas que interferem no fucionamento da glândula (a hipófise) – desencadeiam quadros de hiper ou hipotireoidismo.

Diagnóstico e tratamento dos problemas de tireoide

Os problemas de tireoide, apesar de comuns, possuem sintomas que podem ser facilmente confundidos com outros problemas de saúde. Por isso, muitas pessoas não costumam procurar o endocrinologista. Ao mesmo tempo, as doenças dessa glândula são amplamente vistas na faculdade de medicina, então, médicos de diversas especialidades, como ginecologistas, clínicos gerais, cardiologistas, entre outros, podem diagnosticam as patologias. A seguir, confira os sintomas e tratamentos.

Principais sintomas de problemas na tireoide

Como explicado, os hormônios da tireoide servem como aditivo para o funcionamento de diversos sistemas do corpo, incluindo o cardiovascular, respiratório, digestório, muscular, reprodutor, nervoso, entre outros. Por isso, os problemas desencadeiam sintomas extremamente diversos e, muitas vezes, inespecíficos. Tanto no hipo quanto no hipertireoidismo, os principais sinais são:

  • Queda de cabelo ou fios mais seco e quebradiço;
  • Unhas quebradiças;
  • Ganho ou perda de peso;
  • Ansiedade ou depressão;
  • Olhos saltados (típico da Doença de Graves);
  • Insônia ou excesso de sonolência;
  • Redução ou aumento da frequência cardíaca;
  • Menstruação irregular.

Além desses sintomas gerais, a pessoa pode apresentar alterações físicas na região do pescoço, onde fica a tireoide. Elas podem ser visíveis ou não, porém, ao apalpar o local, um médico conseguirá percebê-las. Entre os sinais, estão: aumento da região ou sensação de presença de nódulos na tireoide; dificuldades para respirar; desconforto ao engolir; sensação de aperto na garganta. Diante de qualquer sintoma, procure orientação médica.

Exames para diagnosticar a tireoide

Há diversos exames que podem ser feitos para verificar como está a saúde e o estado físico da tireoide. A começar pelos exames de sangue, o TSH e o T4 livre, que medem os níveis dos hormônios relacionados à glângula. Abaixo, confira quais são os indíces considerados normais de cada um deles por idade em mulheres:

TSH

 

  • 0 a 6 dias: 0,70 a 15,2 mUI/L
  • 7 dias a 3 meses: 0,72 a 11,0 mUI/L
  • 4 a 23 meses: 0,73 a 8,3 mUI/L
  • 2 a 6 anos: 0,70 a 6,0 mUI/L
  • 7 a 11 anos: 0,60 a 4,8 mUI/L
  • 12 a 20 anos: 0,51 a 4,3 mUI/L
  • Acima de 20 anos: 0,45 a 4,5 mUI/L
  • 60 a 69 anos: 0,44 a 6,8 mUI/L
  • 70 a 80 anos: 0,44 a 7,9 mUI/L
  • Acima de 80 anos: 0,48 a 10,4 mUI/L

T4 livre

 

  • 1 a 23 meses: 0,9 a 1,4 ng/dL
  • 2 a 20 anos: 0,8 a 1,4 ng/dL
  • Acima de 20 anos: 0,9 a 1,8 ng/dL

Em casos específicos, o médico pode pedir a dosagem de hormônios, como anti-TPO, anti-tireoglobulina e TRAB. “Além disso, há os exames de T3, T3 livre e T4 total, mas eles raramente são necessários”, explica Andressa. O especialista também pode pedir o ultrassom de tireoide para verificar se existem nódulos ou se houve alteração em seu tamanho. Confirma a presença, é realizada a cintilografia para observar se eles estão acelerando ou não o funcionamento da glândula.

Principais tratamentos

Medicamentos: para hipertireoidismo, são usadas duas medicações, metimazol (tapazol) e propiltiouracil, que atuam no controle da quantidade, bem como na ação do anticorpo TRAB, o causador da Doença de Graves. Normalmente, os remédios ajudam a doença a entrar em remissão. Em caso de hipotireoidismo, a solução costuma ser a reposição dos hormônios da tireoide também por meio de medicamentos.

Radioiodoterapia: quando a medicação não mostra efeito contra o hipertireoidismo ou a presença de algum nódulo de modo geral, pode-se tentar a radioiodoterapia. O paciente vai ao hospital e recebe uma dose baixa via oral de iodo radioativo. “Como a tireoide é o órgão que concentra as maiores quantidades de iodo do corpo, essa substância destrói as células”. A dosagem é baixa, pois, em grande quantidade, pode desencadear o hipotireoidismo – um quadro mais fácil de controlar com a reposição hormonal.

Retirada da tireoide: a tireoidectomia é a cirurgia em que o órgão é completamente retirado, normalmente quando os outros tratamentos não funcionaram, se a paciente tem um número muito grande de nódulos no bócio multinodular tóxico ou um câncer. Após a retirada total, é preciso fazer reposição hormonal para o organismo continuar funcionando adequadamente.

Por que os problemas de tireoide são mais comuns em mulheres?

Chama a atenção como os problemas de tireoide são mais incidentes em mulheres do que em homens, porém não existem evidências que revelem o motivo dessa desigualdade na manifestação. Segundo Andressa, “acredita-se que possa haver uma correlação entre o estrogênio, nosso principal hormônio feminino, e o desenvolvimento das doenças”.

A médica explica que a maioria dos problemas de tireoide em mulheres ocorre em períodos de alterações hormonais. “Não há nenhum estudo de correlação entre pacientes com síndrome do ovário policístico ou endometriose apresentarem mais problemas de tireoide. Na maior parte dos casos, o que observamos é uma coincidência”. Abaixo, saiba mais sobre a ligação entre os períodos de vida das mulheres e as doenças da glândula.

Gravidez e puerpério

Durante a gravidez, há um risco maior de crescimento da tireoide, pois o sistema imunológico da mulher fica suprimido: o bebê tem parte do DNA do homem, por isso, é considerado, em partes, um corpo estranho para o organismo.

Depois, no puerpério, o sistema imune volta à ativa. “Com isso, a gente pode ter uma exacerbação das doenças da tireoide, inclusive inflamação — a tireoidite pós-parto. Podem surgir nódulos ou a tireoide pode continuar crescendo”. Nesse período, o acompanhamento médico é muito importante.

Menopausa

Na menopausa, quando ocorre a última menstruação e os hormônios começam a mudar, há uma maior probabilidade da mulher ter problemas na tireoide. “As relações hormonais do estrogênio podem estar associadas com um maior risco da paciente ter hipertireoidismo, entretanto a idade também aumenta o risco de ter hipertireoidismo, então, não há uma associação tão clara ainda”.

Os problemas de tireoide merecem muita atenção quando o assunto é a saúde da mulher. A identificação precoce e o tratamento adequado evitam o prolongamento dos sintomas abordados no decorrer da matéria. No próximo tópico, esclareça mais dúvidas sobre o assunto.

Tudo que você queria saber sobre a tireoide

Abaixo, a endocrinologista Andressa Heimbecher esclarece as principais dúvidas sobre a tireoide, entre elas, a mais comum é: problemas na tireoide estão relacionados ao ganho de peso? Acompanhe para entender:

Dicas de Mulher – É verdade que problemas na tireoide fazem a gente engordar?

Andressa Heimbecher – O hipotireoidismo bem descontrolado leva ao aumento de peso de apenas 10%, ou seja, é pouco. A paciente fica com o metabolismo lento, não se exercita e come uma quantidade normal de comida. Então, se ela, por exemplo, pesa 60 quilos, vai para 66. Entretanto, tudo depende do valor calórico ingerido: a pessoa pode ter o pior hipotireoidismo do planeta, mas se está com o valor calórico diário ajustado, não ganhará peso. Inclusive, podemos até ver o contrário, pacientes com hipertireoidismo (que classicamente emagrece) ganhando peso por comer mais do que o organismo está gastando.

O que é a classificação TI-RADS?

TI-RADS é uma classificação radiológica para os nódulos tireoidianos, considerando a concentração de células dentro do nódulo, presença ou não de calcificação, presença ou não de vasos sanguíneos, entre outros. Assim, o médico consegue estimar o risco de malignidade do nódulo. É uma classificação nova que está sendo cada vez mais aceita.

Existem formas naturais de reduzir o tamanho de um nódulo de tireoide?

Não existe nada com evidência científica que seja natural e consiga reduzir o tamanho da tireoide. Geralmente, é o tratamento médico que atua nesses casos. Por isso, se você sente que sua tireoide está maior do que o normal, procure um médico e não tente apenas se tratar com soluções naturais.

Quais são os sintomas emocionais de problemas na tireoide?

Geralmente, o paciente com hipotireoidismo tende a apresentar um quadro depressivo, pois fica mais sonolento. Então, alguns pacientes que já tiveram depressão prévia e têm hipotireoidismo não tratado podem confundir o quadro com uma piora da depressão. A pessoa perde a vontade, o vigor e a proatividade no hipotireoidismo. Já no hipertireoidismo, como o corpo fica mais acelerado, pode exacerbar quadros psiquiátricos, como mania e psicose.

Como visto, os problemas de tireoide afetam o corpo de diversas formas, inclusive a saúde mental. Por isso, caso esteja desconfiada de um problema nessa glândula, procure um médico. Com o tratamento adequado, é possível reestabelecer o bem-estar.

 

Fonte: Dicas de Mulher