Antes da pandemia, a última vez em que o país cresceu mais de 2% foi em 2013, quando a economia avançou 3%

Em meio a uma leva de dados positivos, bancos, corretoras e consultorias estão revisando para cima suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2023, com um bom punhado deles já falando em um crescimento econômico que deve passar dos 2% neste ano.

Até a pandemia, quando a economia brasileira e a global passaram por oscilações muito fortes, a última vez em que o Brasil cresceu mais de 2% foi há uma década, em 2013, quando o PIB do país avançou 3%.

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“Apesar de esperarmos desaceleração no ritmo atual de crescimento, o consumo deve ficar mais sustentado pelo crescimento da renda, em meio ao mercado de trabalho resiliente e estímulos fiscais”, escreveu a equipe econômica do Itaú em relatório.

O banco revisou sua projeção de crescimento do PIB em 2023 de 1,4% para 2,3%, e também elevou a expectativa para 2024, de 1% para 1,5%.

Entre os impulsos do governo que devem ajudar a segurar o consumo ao longo deste ano, mesmo sob a adversidade dos juros altos, o Itaú menciona o aumento permanente para R$ 600 do Bolsa Família, os reajustes a servidores, o primeiro aumento acima da inflação em três anos para o salário mínimo e o pacote de desconto de impostos para baratear carros.

O diretor de pesquisas econômicas do Bradesco, Fernando Honorato, destaca o surpreendente desempenho da agropecuária no começo deste ano como um dos principais fatores para revisão do banco em sua projeção do PIB de 2023, que foi de 1,8% para 2,1%.

“Em nossa avaliação, os bons resultados do mercado de trabalho, o aumento da renda agrícola e os programas de transferência de renda ajudam a explicar a resiliência da demanda, ao afetar positivamente a renda disponível das famílias”, escreveu Honorato em relatório do Bradesco.

Surpresa do PIB e onda de revisões

Ajudado por safras recordes na soja e em outros grãos, o PIB da agropecuária cresceu 21,6% no primeiro trimestre deste ano, surpreendeu todas as expectativas e foi um dos principais motores que ajudaram o PIB brasileiro a ter um resultado forte e também acima do esperado nos três primeiros meses de 2023.

O crescimento da economia no período foi de 1,9% na comparação com o trimestre anterior, e foi a divulgação deste resultado, no início de junho, que abriu as portas para uma leva generalizada de revisões das projeções para cima.

No Boletim Focus, relatório semanal do Banco Central que reúne as projeções econômicas do mercado financeiro, a previsão média para o PIB já subiu de 1,26%, no fim de maio, para 1,84% na edição desta segunda-feira (12).

No início de janeiro, a projeção média dos economistas do Focus para o PIB do ano era de apenas 0,78%.

A onda de revisões também já chegou à inflação e aos juros, que passaram a receber perspectivas melhores dos economistas depois de uma alta de preços bem mais fraca do que o esperado em maio.

No entendimento de diversos bancos, corretoras e casas de análise, há uma desaceleração de preços em curso mais forte do que o inicialmente imaginado, o que já começa a aliviar o caminho para que o Banco Central possa já começar a sinalizar a partir de sua próxima reunião, ainda neste mês, os primeiros cortes de juros.

Ajuda do mercado de trabalho

A XP, que, após a surpresa do PIB do primeiro trimestre, revisou de 1,4% para 2,2% sua projeção para o ano, destaca também um mercado de trabalho que tem conseguido se manter forte.

“Os dados de emprego e renda foram positivos em abril”, disse a corretora em relatório.

“A Pnad Contínua mostra queda na taxa de desemprego, além de recuperação dos rendimentos reais. Na mesma linha, as estatísticas do Caged apresentaram criação líquida de aproximadamente 165 mil empregos formais no trimestre móvel até abril. O saldo de vagas permaneceu em patamares elevados, em que pese a desaceleração ante março.”

O Inter, que está com uma projeção de 2% para o PIB de 2023, também destaca as surpresas positivas dos dados de atividade até aqui, mas faz uma ressalva. Para o banco, a tendência de crescimento, muito concentrada no entorno dos setores exportadores, não está espalhada igualmente por todas as frentes da economia e aponta para sinais de consumo mais fraco.

“O consumo das famílias cresceu apenas 0,2% no trimestre, mesmo em um trimestre marcado por aumentos na Previdência e no Bolsa Família, juntamente com a  desaceleração da inflação”, disse o banco em relatório.

“Para o restante do ano, devemos ver a demanda ainda fraca, resultado da maior restrição do crédito, devido à alta taxa de juros, que impacta tanto o consumo das famílias como os investimentos.”

 

Fonte: CNN Brasil