A doação de órgãos no Brasil não depende só da vontade própria. Várias condições de saúde podem ser determinantes antes do transplante

Para se tornar um doador de órgãos no Brasil, não é só ter vontade: o procedimento deve respeitar uma série de regras e alguns fatores de saúde podem impedir quem quer contribuir para salvar vidas.

Algumas doenças e limites de idade, por exemplo, podem restrigir a doação para transplante. Antes de passar pelo procedimento, o doador deve passar por vários testes de saúde para avaliar se os órgãos são viáveis.

De acordo com o Ministério da Saúde, de forma geral, não podem ser doadoras as pessoas com doenças infecciosas incuráveis e câncer generalizado. Com isso, indivíduos que vivem com HIV ou com câncer em estágio 4 não podem doar nenhum de seus órgãos.

“Pacientes que passaram por jornadas de quimioterapia ou procedimentos oncológicos não podem, em teoria, doar”, afirma o hematologista Renato Cunha, líder do programa de terapia celular do grupo Oncoclínicas, em São Paulo, e pós-doutor em transplante de medula óssea.

Portadores de infecções sexualmente transmissíveis, como a HTLV 1 e 2 e as hepatites B e C, pessoas com tuberculose ativa ou doença de Chagas, por exemplo, estão restringidos de doar. Porém, se não estiverem com os patógenos ativos no organismo, podem doar órgãos que não foram diretamente afetados pela condição.

Indivíduos com doenças degenerativas crônicas, que tenham estado em coma, tenham sepse (uma infecção sistêmica generalizada) ou insuficiência de múltiplos órgãos e sistemas (IMOS), em teoria, também não podem fazer a doação.

Embora as doenças sejam um fator limitante para realizar o procedimento, o quadro pode ser relativizado, a depender da urgência da espera do órgão e da rara possibilidade de ele estar disponível.

“Algumas condições são contraindicações absolutas e outras são relativas. Uma pessoa pode estar com sífilis, por exemplo, e ser incapacitada de doar. Em teoria, deveríamos esperar a infecção estar tratada mas, na maioria dos casos de transplante, precisamos agir de forma urgente, então precisamos avaliar o risco ali no calor do momento”, aponta Cunha.

Mesmo saudáveis, em que casos não podemos doar?

Na prática, nem todas as pessoas são elegíveis para doar como imaginamos. Para a maioria dos órgãos, com exceção da medula ou rins, só é possível fazer a doação após a morte. Indivíduos que passaram por mortes violentas, porém, quase nunca se tornam doadores como ocorre nos filmes.

“Na maioria das vezes, quem doa é o paciente que está na UTI. Ele entra em morte cerebral e, assim, podemos manter os órgãos conservados até que doador e receptor possam ir ao centro cirúrgico. O prazo entre a morte efetiva e a doação é de poucas horas”, explica o hematologista.

Como é necessário um procedimento burocrático de autorizações dos familiares do doador para o início do procedimento, muitas vezes os papéis não avançam tão rápido quanto o necessário. Por isso, indivíduos que já estão em morte cerebral, mas seguem internados, costumam ser os mais indicados para o transplante.

“Depois de todas as autorizações da família, há ainda a burocracia de passar por três equipes médicas que atestem a morte encefálica, para evitar conflitos de interesse. Só aí o paciente em morte cerebral pode seguir para o centro cirúrgico”, aponta Cunha.

Qual a idade máxima para doar?

Além disso, há um limite de idade para a doação. Menores de 21 anos sem a autorização dos responsáveis não podem doar. Apenas as córneas, se saudáveis, podem ser doadas sem idade estabelecida. Além disso, os órgãos sólidos têm limites de idade muito específicos:

  • Rim, 75 anos;
  • Fígado, 70 anos;
  • Válvulas cardíacas, 65 anos;
  • Pele e ossos, 65 anos;
  • Coração, 55 anos;
  • Pulmão, 55 anos;
  • Pâncreas, 50 anos.

 

 

Fonte: Metrópoles