Indicadores apontam uma nova onda da doença nos Estados Unidos; especialista diz que ela deve ser mais leve e apontar para perfil cíclico das infecções

Dados recentes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs) dos Estados Unidos sugerem que uma onda de Covid-19 pode estar em andamento no verão norte-americano, embora ela não seja tão significativa quanto as que ocorreram nos verões anteriores.

Segundo alguns indicadores, o número de infecções por coronavírus está aumentando, juntamente da porcentagem de positividade dos testes, visitas às emergências pessoais e — o mais alarmante — internações hospitalares.

Por que esse aumento pode estar ocorrendo? Quão preocupadas as pessoas devem estar? Que medidas preventivas fazem mais sentido? Quem deve considerar a mudança de planos, incluindo viagens de verão? E como tudo isso pode impactar o retorno às escolas, que já está ocorrendo em algumas partes dos Estados Unidos?

Para nos guiar por essas questões e muito mais, conversei com a analista de saúde da CNN, Dra. Leana Wen, que é médica de emergência e professora de política e gerenciamento de saúde na Escola de Saúde Pública do Instituto Milken da Universidade George Washington. Ela atuou anteriormente como comissária de saúde de Baltimore.

CNN: Por que pode haver um aumento nas infecções por coronavírus neste momento?

Dra. Leana Wen: Estamos agora no quarto verão da pandemia de coronavírus. Em todos os verões até agora, os Estados Unidos viram um aumento nos casos de Covid-19.

Parte disso pode ser devido à natureza cíclica do coronavírus — vimos um aumento nos casos, seguido por um período relativamente mais calmo, seguido por outro aumento. Esse pode muito bem ser o padrão daqui para frente, com duas ou mais dessas ondas de infecções todos os anos.

Uma das razões para o aumento de casos durante o verão, especificamente, pode ser que as pessoas se reúnam em casa quando o tempo está muito quente. Isso também pode explicar por que há aumento de infecções nos feriados, quando as pessoas se reúnem em grupos maiores em espaços fechados.

É importante observar que esse aumento atual não parece ser impulsionado pelo surgimento de uma nova variante. Segundo os CDCs, todas as variantes existentes são ramificações da cepa Ômicron, que surgiu pela primeira vez no final de 2021.

CNN: Quão preocupadas as pessoas deveriam estar?

Wen: Depende do indivíduo e de suas circunstâncias médicas e pessoais.

Aqueles que geralmente são saudáveis ​​e tiveram Covid-19 ou foram vacinados — ou ambos — provavelmente não ficarão gravemente doentes se contraírem o coronavírus.

Embora as infecções por Covid-19 tragam a possibilidade de sintomas de longo prazo e algumas pessoas ainda optem por priorizar evitar a infecção, muitas outras decidiram que, se estiverem bem protegidas de doenças graves, desejam retomar todas as atividades pré-pandêmicas.

As pessoas nesta categoria devem saber que, se as infecções estão aumentando, elas têm maior probabilidade de contrair o coronavírus, mas provavelmente não precisam mudar seu dia-a-dia porque evitar a infecção não é mais seu objetivo.

Aqueles que devem considerar tomar precauções adicionais são pessoas vulneráveis ​​a resultados graves. Isso inclui indivíduos mais velhos e pacientes com condições médicas subjacentes, como problemas pulmonares, renais e cardíacos crônicos. Essas pessoas devem se certificar de que tomaram todos os reforços da vacina.

Essas pessoas também devem conversar com seus profissionais de saúde e saber o que fazer se contraírem o coronavírus. Os pacientes devem perguntar se são elegíveis para Paxlovid, o tratamento antiviral, e onde podem acessá-lo. Se não forem, quais são as alternativas?

Pessoas com alto risco de infecção e aquelas que priorizam evitar a Covid-19 também devem considerar o uso de uma máscara de alta qualidade e bem ajustada (idealmente uma máscara N95, KN95 ou KF94) em espaços fechados lotados.

CNN: Podemos ver um retorno ao uso de máscaras para todos?

Wen: Não, acho que não. Decisões tomadas de cima para baixo, como mandatos de máscara, devem ser reservados para emergências verdadeiras, nas quais os EUA não estão inseridos agora.

Dito isto, quero enfatizar a eficácia do uso de máscaras unidirecional, o que significa que alguém que deseja se proteger pode fazê-lo usando uma máscara de alta qualidade, mesmo que outras pessoas ao seu redor não estejam mascaradas.

As pessoas com alto risco de doenças graves e que não desejam ter Covid-19 devem usar máscara para reduzir o risco de contrair o coronavírus e outras doenças respiratórias.

CNN: Quem deveria considerar mudar os planos de verão, incluindo viagens e grandes encontros?

Wen: Mais uma vez, acho que isso deve ser limitado àqueles com alto risco de infecção, embora mesmo as pessoas nessa categoria possam modificar seus planos em vez de cancelá-los completamente.

Por exemplo, indivíduos de alto risco podem manter o uso máscaras durante os voos e optar por jantar ao ar livre ou em ambientes externos. As reuniões também podem ser planejadas principalmente ao ar livre, com pessoas de alto risco optando por evitar áreas internas.

As pessoas que viajam devem sempre ter um plano para o que acontecerá se contraírem o coronavírus. Traga testes de Covid-19 de casa durante a viagem. Saiba onde acessar os tratamentos. E caso alguém precise de internação, tenha um plano de onde ir.

CNN: Aqueles que consideram a dose de reforço da vacina devem obtê-la agora ou esperar até que uma nova seja lançada no outono?

Wen: Essa é uma boa pergunta. A maioria das pessoas provavelmente pode esperar até o lançamento do reforço atualizado, que as autoridades federais de saúde disseram esperar até o final de setembro ou início de outubro. Este novo reforço terá como alvo as ramificações XBB da Ômicron, que são as cepas dominantes.

Um grupo de pessoas que pode considerar receber o reforço mais cedo são aqueles na categoria de alto risco que ainda não receberam seu reforço bivalente — aquele lançado no outono de 2022. Se eles também não tiveram Covid-19 no ano passado, sua imunidade contra doenças graves diminuiu muito.

Em consulta com seus provedores de cuidados de saúde, eles devem considerar obter o reforço bivalente agora e, em aproximadamente cinco meses, obter o novo reforço direcionado ao XBB.

CNN: Como o aumento de casos pode impactar o início do ano letivo, que já está em andamento em algumas partes do país?

Wen: Não acho que essa onda de verão deva afetar o retorno às escolas ou os tipos de precauções tomadas pela maioria dos alunos, professores e famílias.

Enquanto alguns indicadores — incluindo hospitalizações — sugerem que os casos podem estar aumentando, outros — que são os níveis de vírus nas águas residuais — apontem que a onda pode estar se estabilizando. O aumento atual também não é tão severo quanto o que vimos, por exemplo, durante o surto inicial de Ômicron.

É possível que este aumento de verão reflita a cadência de infecções daqui para frente — ou seja, veremos vários períodos a cada ano de taxas de infecção mais altas. Uma postura sensata é proteger aqueles que correm maior risco, ao mesmo tempo em que minimiza a interrupção para o resto da sociedade, inclusive para as escolas.

 

 

 

Fonte: CNN Brasil