Saiba mais sobre a enfermidade, que tem sua incidência maior em pessoas acima de 50 anos

Envelhecer não é uma escolha, mas a forma como esse processo será vivenciado pode, de certa forma, ser planejada.

Segundo Maisa Kairalla, geriatra e presidente da Comissão de Imunização da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), ainda na juventude é preciso pensar na velhice, planejando uma estrutura de como envelhecer bem. “Programar-se financeira e socialmente, por exemplo, são atitudes importantes para viver com mais segurança e tranquilidade e evitar a solidão, um problema muito comum entre idosos”, conta.

A médica alerta, ainda, que para ter um envelhecimento saudável é preciso adotar precocemente alguns hábitos, como uma alimentação equilibrada e nutritiva, a prática de atividade física regular e a manutenção de uma boa qualidade do sono. “Essas atitudes ajudam no controle de fatores de risco, como obesidade, colesterol e glicemia, e previnem a chance de desenvolver algumas doenças mais comuns nessa fase, como AVC, infarto, hipertensão”, ela explica.

A partir dos 50 anos o organismo enfrenta um processo chamado de imunossenescência, que consiste no envelhecimento natural do sistema imune e na redução da capacidade de resposta a processos infeccios. Com o enfraquecimento natural do sistema imunológico, algumas doenças tornam-se mais comuns, uma delas é o herpes-zóster, que atinge principalmente adultos acima de 50 anos e indivíduos imunocomprometidos.

Além de ser uma doença reconhecida pela dor que suas lesões podem provocar, o herpes-zóster pode prejudicar, e muito, a qualidade de vida do paciente.1,3 A infecção, também conhecida como “cobreiro”, é provocada pelo vírus Varicela zoster, o mesmo da catapora.4 “Geralmente, a catapora ocorre na infância, mas o vírus permanece adormecido em algumas regiões do sistema nervoso, especialmente nos gânglios neurais, e pode se manifestar décadas depois, justamente por causa do declínio do sistema imune”, explica o médico infectologista Jessé Reis Alves, gerente da área de vacinas da GSK.

As chances de desenvolver a infecção não são pequenas, estima-se que 94,2% dos adultos brasileiros acima de 20 anos podem estar infectados com o vírus que causa o herpes-zóster.

Sintomas e complicações

Os primeiros sinais da infecção podem ser uma sensação de formigamento ou dor em uma área da pele, dor de cabeça ou mal-estar geral. Alguns dias depois, tipicamente, surgem erupções cutâneas, localizadas apenas em um dos lados do corpo.

“São pequenas vesículas inflamadas que se formam ao longo do trajeto do nervo, geralmente no tórax e abdômen, mas podem aparecer em qualquer parte, incluindo o rosto. Elas se tornam bastante dolorosas – os pacientes relatam que nada pode tocar a pele no local onde se manifesta a lesão, até que elas se rompem, formando pequenas crostas. A doença vai evoluindo dessa maneira ao longo de duas a três semanas em geral”, explica Alves, alertando que a pele pode ficar dolorida por semanas mesmo depois de as erupções sumirem, mas esse incômo tende a melhorar com o tempo.

Uma dor e queimação terríveis, como se estivesse pegando fogo. É assim que o advogado Ulysses de Paula Eduardo Junior descreve o que sentiu quando teve herpes-zóster, há 4 anos. “A infecção aconteceu no lado esquerdo do meu corpo, do alto das costas, passando pelo pescoço, até parte do rosto. Sofri demais, e mesmo assim acho que o meu quadro não foi dos mais graves. A experiência foi tão traumatizante que, até hoje, sinto uma leve ardência ou uma dor ligeira naquele local”, ele lembra.

Mas, além das dores, ardências, coceiras e do surgimento das lesões, o herpes-zóster pode ter consequências graves e prolongadas.

“A mais comum é a neuralgia pós-herpética (NPH), que provoca dores intensas por meses ou até anos e afeta até 30% dos pacientes”, explica Jessé Reis, destacando que a probabilidade de desenvolver a NPH aumenta com a idade.1 A dor causada por essa complicação prejudica diretamente a qualidade de vida do indivíduo, afetando o seu sono, as suas atividades diárias, sua interação social e pode levar ao quadro de depressão.

“Muitos geriatras relatam que pacientes idosos que estavam bem e eram independentes perdem essa autonomia depois da NPH. E esse declínio dificilmente é restabelecido aos níveis anteriores”, acrescenta o infectologista.

Ele conta que, além da NPH, na fase aguda o herpes-zóster pode ter uma manifestação oftálmica e atingir o nervo trigêmeo, localizado na face e responsável pela sensibilidade na região da testa, ao redor do nariz e próximo aos olhos. “Podem ocorrer danos à córnea e à retina, inclusive com riscos definitivos à visão.”

O publicitário Renato Spanghero viveu de perto esse perigo. Quando teve herpes-zóster, há cerca de cinco anos, ele sentiu, no início, apenas uma dor na frente da cabeça. “Lembro que olhei no espelho e notei uma espécie de granulados na pele, na área próxima ao cabelo, pareciam espinhas, e nem dei muita importância. No fim daquele dia, no entanto, senti uma dor no ouvido, que piorou durante a noite. Fui ao pronto-socorro e o médico logo diagnosticou o herpes-zóster”, conta.

O publicitário precisou ser hospitalizado porque o vírus havia atingido o nervo auditivo e poderia se expandir para o ocular, com risco de perda tanto da audição quanto da visão. “Tomei medicamento na veia e, depois da alta, ainda continuei o tratamento em casa. Precisei ser acompanhado por um infectologista durante meses para garantir que o nervo estava totalmente cicatrizado”, lembra Spanghero.

O cenário menos favorável da doença pode evoluir, também, para pneumonia, causar problemas de audição e danos ao sistema nervoso central, periférico ou cardiovascular.

Diagnóstico, tratamento e prevenção

Pelo herpes-zóster ter características bem definidas, o exame clínico costuma ser suficiente para que os profissionais de saúde façam o diagnóstico. “Caso sinta alguns dos incômodos mencionados, busque imediatamente orientação médica. Quando o paciente inicia o tratamento com antivirais nas primeiras 72 horas após o início dos sintomas, reduz o risco de desenvolver complicações como a neuralgia pós-herpética”, alerta Maisa Kairalla.

 

Fonte: Abril