Pesquisadores da Universidade de Oxford observaram altos níveis de proteínas ligadas à coagulação em pacientes com Covid longa
A Covid longa se tornou um problema real para as pessoas que se recuperam da infecção do coronavírus mas desenvolveram uma série de sintomas incômodos que as acompanham por meses e até anos. Um dos mais recorrentes é a névoa cerebral, caracterizada pela dificuldade de atenção, concentração, raciocínio, planejamento e memória.
Pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, descobriram que duas proteínas associadas a problemas de coagulação sanguínea durante a fase aguda da infecção – o fibrinogênio e o dímero D – podem ser as responsáveis pelo surgimento de problemas cognitivos em alguns pacientes até um ano após a infecção.
Os resultados do estudo foram publicados na revista Nature Medicine na última quinta-feira (31/8) e representam um avanço importante para desvendar os mistérios da Covid longa.
Estudo com pacientes com Covid longa
O estudo foi feito com base em dados de aproximadamente 1,8 mil adultos hospitalizados com Covid-19 no Reino Unido em 2020 e 2021. Os pacientes fizeram exame de sangue no momento da hospitalização, seis e 12 meses após a admissão. Eles também responderam a questionários e realizaram testes cognitivos neste período.
Os pesquisadores descobriram que as pessoas com níveis da glicoproteína fibrinogênio no sangue acima da média no dia da hospitalização tiveram os piores resultados em testes de memória e atenção. Esses indivíduos também classificaram suas habilidades cognitivas gerais como piores nos questionários.
Os níveis de fibrinogênio costumam subir sempre que há inflamação dos tecidos e estão relacionados com a trombose.
O grupo com quantidades maiores da proteína também avaliou seus problemas cognitivos como sendo 0,7 pontos piores em relação aos demais participantes, em uma escala de zero a sete, no acompanhamento de seis meses. Já na avaliação objetiva das competências cognitivas, a diferença foi mais sutil: cerca de 0,7 pontos mais baixas em uma escala de 30 pontos.
Junto a isso, os resultados também apontaram para níveis elevados de dímero D no sangue de pessoas com déficits cognitivos aos seis e 12 meses após a infecção pelo coronavírus. Elas eram mais propensas a relatar fadiga, dificuldade para respirar e para continuar o trabalho.
Embora o estudo não explique como as proteínas se relacionam com a névoa cerebral, o pesquisador Maxime Taquet, psiquiatra da Universidade de Oxford, acredita que o fibrinogênio possa contribuir com a formação de coágulos que atrapalham a circulação sanguínea no cérebro interagindo diretamente com receptores no sistema nervoso. O dímero D, por sua vez, tem relação com a coagulação nos pulmões, atrapalhando a respiração.
Os pesquisadores reconhecem algumas limitações do estudo, como a análise apenas de pacientes não vacinados e que enfrentaram as formas mais graves da doença — se sabe que a Covid longa pode afetar até mesmo pessoas que tiveram a forma leve da infecção.
Fonte: Metrópoles