Ações do paciente podem ser uma tentativa de comunicação, afirma especialista.

O diagnóstico de demência descortina uma nova realidade para todos os envolvidos. Comportamentos atípicos preocupam e angustiam familiares, amigos e cuidadores que, muitas vezes, não sabem lidar com a situação. Que tal reformular a visão sobre essa condição e adotar uma abordagem mais acolhedora em relação a tais atitudes? É o que propõem a terapeuta ocupacional Emily Briggs e a fonoaudióloga Laurie Walther, da Empowering Care Partners, em seminário que acompanhei on-line.

“Por trás de um comportamento, há um sentimento. Por trás desse sentimento, há uma necessidade. Quase sempre as pessoas estão tentando dizer algo. Que necessidade não foi atendida? Quando focamos na necessidade, em vez do comportamento, lidamos com a causa, e não com o sintoma”, afirmou Emily.

As duas, que oferecem assistência e treinamento para famílias e cuidadores, preferem usar a expressão “care partners”, que significa “parceiros no cuidado”. O motivo? Indicar que o paciente não é apenas um ser que recebe atendimento, que há uma troca. O declínio na habilidade do indivíduo de entender o que se passa ao seu redor agrava a sensação de desconforto, e a forma como reagimos pode piorar o quadro.

“O objetivo é monitorar o conforto do paciente e se antecipar a suas necessidades, tentando enxergar com os olhos daquela pessoa. O que aconteceu antes, durante e depois do comportamento? A aproximação também deve ser sempre de forma calma e respeitosa”, completou Laurie.

A cartilha das especialistas tem um roteiro que começa pela checagem das necessidades físicas: há alguma questão médica, fome ou sede, ambiente gerando estresse? Em seguida, as demandas emocionais, buscando uma atividade que traga alívio e tranquilidade. Por último, avaliar o que funcionou, ou não, para ajustes futuros. Ambas enfatizaram a importância de se manter uma rotina, incluindo atividades prazerosas: andar, molhar as plantas, passear de carro – ou mesmo um “trabalho”, como dobrar roupas ou colocar coisas em caixas, que dão um senso de propósito. Sugerem ainda identificar as portas dos cômodos, como banheiro e cozinha; e as dos armários, com seu conteúdo. Quando o paciente apresenta um quadro de angústia e agitação, não reconhecendo pessoas e lugares, ou de suspeita, acusando os outros de furto, a orientação é validar aquele sentimento:

A agressão, verbal ou física, é muito perturbadora para quem cuida de um portador de demência. No entanto, apesar de imprevisível, não é intencional. Para as duas, é comum nos primeiros estágios da doença, estando relacionada à frustração com a perda do controle da própria vida. A repetição é outro tipo de comportamento que causa estresse.

“Uma ação repetitiva pode estar associada a uma atividade relevante no passado, ou indicar a necessidade de um pouco de atividade física. É possível canalizar para uma tarefa que traga alívio? Seja curioso!”, Emily aconselha.

Por último, mas não menos importante, o cuidador não pode esquecer de cuidar de si mesmo: buscar “respiros”, pedir ajuda, e usar um roteiro semelhante para atender às suas necessidades físicas e emocionais.

 

 

 

Fonte: Globo.com