O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) orientou os diplomatas brasileiros na presidência do Conselho de Segurança da ONU a não aceitarem “ficar adiando indefinidamente” a votação de uma resolução para criar um corredor humanitário na Faixa de Gaza, para permitir a entrada de suprimentos e a saída de estrangeiros, crianças, mulheres e idosos da região.

Lula espera que o texto seja aprovado em reunião do conselho. Segundo o presidente, a situação tende a se agravar e adiar a votação acaba contribuindo para a piora da situação.

A votação do texto estava prevista para segunda-feira (16), mas foi adiada depois que 13 dos 15 membros do Conselho de Segurança pediram para que a votação da resolução costurada pelo Brasil ficasse para esta terça.

A mudança foi vista como positiva pelo Brasil, para permitir ajustes no documento que possam garantir a sua aprovação, sem riscos de veto dos cinco países que têm esse poder (Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia).

Segundo diplomatas brasileiros, o adiamento deu tempo para novas negociações, principalmente com a Rússia, que se mostra mais crítica e disposta a usar o seu poder de veto por causa de sua rivalidade com os Estados Unidos, agravada após o conflito na Ucrânia.

O governo russo tem dito que Israel está violando o direito internacional e adotando uma reação desproporcional, em um modo de vingança contra o Hamas, atingindo indiscriminadamente os palestinos.

“Mas não é possível aceitar novos adiamentos, há o risco de uma invasão por terra, tornando a situação catastrófica na Faixa de Gaza. Ficar cozinhando a votação contribui para agravar a tragédia na região”, disse um diplomata ao blog.

O Brasil teme que os adiamentos sejam usados por aliados de Israel para permitir que os israelenses façam a invasão por terra antes de qualquer condenação oficial e determinação de criação de um corredor diplomático.

Apesar das dificuldades em torno das negociações, o governo Lula considera “viável” aprovar a resolução. Hoje, inclusive, já há maioria para aprová-la mas, sem garantir que não haverá vetos, não adiantaria colocar o texto em votação sem tentar a negociação.

Tragédia humana

Na busca de aprovar a resolução nesta terça, o Brasil está reforçando o alerta de organizações de saúde e ajuda humanitária, como OMS e Crescente Vermelha, sobre o risco de uma tragédia humana sem precedentes na região, se não for aberto o mais rápido possível um corredor humanitário.

Nas palavras de um assessor de Lula, a Faixa de Gaza pode se transformar em um grande cemitério a céu aberto com a falta de alimentos, medicamentos, combustível e energia para hospitais.

O embaixador Celso Amorim lembra de ter acompanhado as últimas crises na região e diz nunca ter visto nada parecido, com o risco de se alastrar pelo Oriente Médio.

“Temos de tomar muito cuidado. Estamos lidando com um barril de pólvora atômica. Temos de cuidar da questão humanitária imediatamente, para não se tornar um desastre maior do que já está sendo”, disse o embaixador, lembrando que é preciso cuidar de estrangeiros, palestinos e israelenses como um todo.

E terá de ser uma negociação política, porque a possibilidade de uma intervenção humanitária geraria mais conflito na região.

Fonte: Globo.com