Mês de conscientização sobre a importância dos cuidados com a saúde do homem ainda enfrenta obstáculos, comenta oncologista
Historicamente os homens têm o costume de dar menos atenção à saúde. Um dos maiores desafios no combate aos cânceres que atingem a população masculina, dentre os quais se destaca o de próstata, é a quebra de tabus em relação aos exames de rastreamento e preventivos. Preconceito e vergonha são algumas das razões que os levam a deixar de lado procedimentos simples e primordiais para diagnosticar a doença em estágio inicial e que impactam diretamente na redução das chances de cura naqueles que são afetados pela doença.
Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) sobre o câncer de próstata revelam um quadro alarmante: até o final do ano estima-se que sejam diagnosticados no Brasil 71.730 novos casos da doença, fazendo deste o tumor mais incidente entre os homens depois do câncer de pele não-melanoma.
Diante dessa realidade, campanhas de conscientização, como o Novembro Azul, são importantes para que os homens entendam a importância das medidas de prevenção de doenças e promoção de saúde, além de compreenderem o impacto dos exames de rastreamento de diferentes doenças, é o que afirma o oncologista da Oncoclínicas Brasília, Daniel Vargas.
“A grande barreira para os homens é a resistência que ainda existe em buscar atendimento médico na ausência de doenças graves, de maneira regular e preventiva, diferentemente da população feminina que, em grande parte, é acompanhada rotineiramente por um médico (ginecologista, por exemplo) desde o início do período menstrual e mantido, por muitas vezes, até o final da vida. Atualmente conhecemos muito mais sobre o câncer, sobre quem são os pacientes que precisam realizar exames de rastreamento e quais medidas podemos lançar mão para reduzir os riscos, ou menos prevenir, o aparecimento de diferentes tumores. Dessa maneira, a avaliação médica de rotina é, sem dúvidas, uma importante ferramenta no combate a diferentes tipos de câncer”, afirma o médico.
Ainda segundo o Inca, por ser um tumor silencioso, a grande maioria dos homens com câncer de próstata tem o diagnóstico já em fase avançada. Cerca de 75% dos casos atingem aqueles com 65 anos ou mais.
“Um dos principais objetivos do diagnóstico precoce é podermos utilizar tratamentos menos invasivos e com menores efeitos adversos, além de aumentar as chances de cura da doença. Adicionalmente, esta estratégia precoce pode nos possibilitar que alguns pacientes com câncer de próstata inicial sejam apenas acompanhados com segurança, não necessitando passar por tratamentos mais intensos, seja a cirurgia ou a radioterapia”, ressalta o
oncologista. Daniel Vargas afirma ainda que casos familiares de pai ou irmão com câncer de próstata, antes dos 60 anos de idade, podem aumentar o risco em 3 a 10 vezes em relação à população em geral.
“É recomendável que os homens discutam com seu médico a partir dos 50 anos sobre a realização do rastreamento do câncer de próstata, preferencialmente realizado pelo exame clínico (toque retal) em conjunto à dosagem do PSA (antígeno prostático específico) em exame de sangue. Aqueles homens com história familiar de câncer de próstata devem ser instruídos a realizar o rastreamento em idade ainda mais jovem, a partir dos 40-45 anos. Além disso, hoje em dia temos a disposição no consultório testes que permitem avaliar a presença de alguma alteração genética hereditária que pode aumentar o risco do desenvolvimento de câncer de próstata e outros tumores em familiares de pacientes diagnosticados com a doença, permitindo que realizemos estratégias de rastreamento personalizadas a depender da alteração encontrada”, destaca o especialista.
Sinais e sintomas do câncer de próstata
- Sensação de que a bexiga não se esvaziou completamente;
- Dificuldade de iniciar a passagem da urina ou de interromper o ato de urinar;
- Necessidade de fazer força para manter o jato de urina;
- Sensação de dor na parte baixa das costas ou na pélvis (abaixo dos testículos);
- Dificuldade em conseguir ou manter a ereção;
- Sangue na urina ou no esperma (são raros);
- Dor quando ejacula;
Abrindo outras oportunidades no cuidado à saúde
Apesar do grande volume de informações compartilhadas sobre o câncer de próstata na campanha Novembro Azul, é importante destacar que esse momento também deve abrir novas oportunidades para os homens cuidarem da sua saúde nos mais diferentes aspectos, permitindo a disseminação de conteúdos contra o preconceito também em outros tumores, além de reforçar a necessidade de medidas de tratamento e prevenção também contra doenças mais comuns, como a hipertensão arterial e o diabetes, que contribuem para a principal causa de morte na população masculina brasileira: as doenças cardiovasculares.
Ainda que menos prevalentes, os tumores de pênis e de testículo também deixam o homem refém de seu próprio desconhecimento. O câncer de pênis é raro e tem maior incidência registrada a partir dos 50 anos de idade. No Brasil, esse tipo de doença representa 2% de todos os tipos de câncer que acometem o homem. A higiene correta do pênis é a melhor e mais eficaz maneira de prevenir o tumor. Outro fator de risco é infecção – geralmente via relação sexual – por HPV (papilomavírus humano). De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Urologia, em 2022 foram registrados 1.933 casos da doença no país, sendo que em 459 casos foi necessária a amputação do órgão (quase 25% do total).
Já o câncer de testículo responde por cerca de 5% do total de casos da doença entre os homens. Diferentemente do que ocorre com outros tumores, como os de próstata, o câncer de testículo é mais comum na população jovem, entre 15 e 40 anos de idade, o que representa a faixa etária mais produtiva dessa população. O sinal mais comum do câncer de testículo é o aparecimento de um nódulo endurecido no testículo que às vezes provoca dor. Outros sintomas que devem despertar a atenção são: aumento ou diminuição no tamanho dos testículos; dor persistente na região das costas.
“É importante conscientizarmos os pacientes também sobre esses tumores devido às ferramentas importantes no combate a essas doenças. Em relação ao câncer de pênis, por exemplo, já temos disponível no SUS a vacina contra o HPV que é indicada para meninos e meninas entre os 9 e 14 anos de idade, funcionando como uma efetiva maneira de prevenir o surgimento desse tumor tão mutilante, juntamente com a higiene íntima. Quanto aos tumores de testículo, é importante destacar que o diagnóstico precoce também possui um grande impacto nas chances de cura da doença, sendo possível ao próprio paciente avaliar as alterações neste órgão pelo simples autoexame, que pode ser realizado pela palpação durante o banho, por exemplo. É fundamental que os homens busquem um médico no momento que identifiquem qualquer alteração no seu corpo e realizem também consultas de rotina, mesmo quando não sentem nada, pois assim podemos detectar alterações de maneira mais precoce também prevenir doenças antes mesmo de elas se iniciarem”, finaliza o oncologista da Oncoclínicas Brasília.
Fonte: Divulgação