Donos de veículos flex vão notar redução da autonomia ao abastecer com gasolina; carros antigos exigem cautela

A Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que busca aumentar a mistura de etanol na gasolina dos 22% atuais para 27%, chamado de “combustíveis do futuro”. Dessa forma, a proporção do derivado de cana-de-açúcar na gasolina pode alcançar até 35% do total. A proposta agora segue para análise do Senado.

Aumentar a proporção de etanol terá consequências tanto para donos de carros com motores flex quanto movidos apenas a gasolina. É o que diz Rogério Gonçalves, diretor de combustíveis da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA).

“O governo propôs um estudo e nomeou representantes que vão avaliar a viabilidade técnica deste aumento [da proporção de etanol]”, disse o especialista. “A medida será aprovada apenas se os testes forem conclusivos”. O corpo técnico formado pelo governo inclui a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural (ANP), empresas de pesquisa energética e ministérios.

As consequências de mais etanol na gasolina

No caso dos donos de carros flex, o motorista vai sentir o impacto apenas no bolso. No caso de carros somente a gasolina, problemas mecânicos também podem surgir.

“Para o flex, o consumo de combustível vai aumentar, considerando que o poder calorífico do etanol é menor”, afirmou Gonçalves. Em outras palavras, o proprietário de um carro flex que enche o tanque com gasolina vai notar uma redução na autonomia total. Porém, a situação é mais complicada para carros a gasolina, especialmente os mais antigos.

“Alguns carros antigos não estão preparados para este teor de etanol. Podem acontecer ataques a materiais e corrosões de borrachas e elastômeros”, apontou o especialista. “Além disso, há suspeitas de que certos carros podem falhar por intervenção dos próprios sensores, que não reconhecem o combustível”.

O especialista lembrou que muitos veículos antigos foram calibrados para rodar com 22% de etanol na mistura da gasolina. Elevar a proporção a 35% vai exigir cautela, até mesmo sobre emissões. “A solução seria disponibilizar aos donos de carros antigos um combustível com mais gasolina na mistura”, analisou Gonçalves. “O problema é que a gasolina premium é mais cara”.

O grupo responsável pela análise terá 90 dias válidos a partir da aprovação do projeto de lei, no dia 13 de março, para responder ao governo sobre a viabilidade de aumentar a quantidade de etanol na mistura.

Por que mudar a mistura?

A medida faz parte do processo de transição energética que visa reduzir as emissões de carbono no Brasil. O etanol brasileiro é apontado como uma das melhores alternativas para a descarbonização mundial, inclusive em comparação com veículos elétricos europeus.

Ademais, o Brasil é o segundo maior produtor deste biocombustível no mundo, fator que levantou o interesse em pesquisas mais profundas. Fabricantes como Toyota e Hyundai estudam o uso do combustível de cana-de-açúcar na geração do hidrogênio “verde”, recurso que pode ser alternativa para futuros carros elétricos.

 

 

 

Fonte: Auto Esporte