Na maioria das vezes, cefaleia pode ser resolvida facilmente, mas alterações e sintomas subjacentes podem indicar condições graves de saúde
A dor de cabeça, ou cefaleia, é um sintoma comum de diversas condições de saúde. Segundo especialistas ouvidos pela CNN, cerca de 96% da população mundial vai ter o sintoma alguma vez na vida. Muitas vezes, a dor pode ser resolvida com analgésicos. Porém, em certos casos, o sintoma pode ser um indicativo de algo mais grave e requer tratamento adequado.
“A prevalência da cefaleia é alta na população em geral e as condições que causam dor de cabeça são muito comuns. Assim, é esperado que uma parcela da população apresente de forma esporádica esse sintoma”, explica Cesar Castello Branco Lopes, neurologista do Hospital Nove de Julho, à CNN.
No entanto, é importante não negligenciar essa dor, nem normalizá-la. De acordo com o especialista, toda dor que gera impacto na qualidade de vida de uma pessoa deve ser investigada e tratada adequadamente.
“Considerar essas dores como normais pode impedir o tratamento adequado e precoce das cefaleias. Infelizmente, a demora na procura de profissionais capacitados ainda é muito comum e ocorre quando a dor de cabeça, que antes era considerada normal, passa a atrapalhar e impactar o dia a dia do indivíduo”, afirma.
Principais causas da dor de cabeça
Para entender quando a dor de cabeça pode ser algo grave, é preciso, antes, compreender o que pode estar por trás desse sintoma. A cefaleia pode ser dividida em dois tipos: a primária, que não é causada por uma doença subjacente, e a secundária, que acontece como decorrência de uma outra condição de saúde, desde uma infecção viral, até condições mais graves, como tumores cerebrais.
“Existem mais de 200 tipos de dor de cabeça, o que é um fato que pouquíssimas pessoas sabem”, afirma Sophia Costa, chefe da neurologia do pronto-atendimento do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, à CNN.
De acordo com a especialista, as dores de cabeça primárias estão relacionadas a um aumento da atividade de sensibilidade dolorosa em estruturas do cérebro. Os tipos mais comuns de cefaleia primária é a enxaqueca e a dor de cabeça tensional.
A enxaqueca é uma doença neurológica crônica caracterizada por episódios recorrentes de dor de cabeça, que costuma ser unilateral, pulsátil e que piora com atividades físicas, podendo ser acompanhada de náuseas, vômitos e fotofobia (sensibilidade à luz). Já a cefaleia tensional é uma “dor em aperto”, nos dois lados da cabeça, e que não vem acompanhada de outros sintomas.
“No entanto, mesmo esse tipo de cefaleia pode evoluir com piora caso não seja identificada e tratada adequadamente”, ressalta Lopes.
Quando a dor de cabeça se torna preocupante?
A dor de cabeça pode ser um sintoma grave e que merece atenção quando apresenta alguns sinais específicos, como a mudança de padrão. “É importante que indivíduos que sofrem com cefaleias primárias conheçam o padrão e frequência habitual de suas dores. Mudanças nesse padrão devem motivar investigação”, orienta Lopes.
A piora progressiva do sintoma também é um sinal de alarme, principalmente quando a dor não é aliviada com o uso de medicamentos. Dores com início por posturas específicas, como ficar muito tempo em pé ou após ficar deitado também devem ser investigadas.
Além disso, sintomas que ocorrem junto com a dor de cabeça também são alterações que indicam que a cefaleia pode estar relacionada a uma condição mais grave de saúde. É o caso de:
- Febre;
- Sonolência;
- Diminuição da força ou sensibilidade da perna ou do braço;
- Crise convulsiva.
“Todas as dores de cabeça com sinais de alarme devem ser investigadas com exames de imagem ou, a depender do quadro do paciente, outros exames complementares”, orienta Costa.
“Existem diversas condições médicas potencialmente graves que cursam com cefaleia persistente, como distúrbios da pressão intracraniana, tumores cerebrais, problemas na vasculatura cerebral, infecções e quadros inflamatórios cerebrais”, completa Lopes.
Dor de cabeça de início súbito também é sinal de alarme
A dor de cabeça intensa e de início súbito, ou seja, que começou de forma repentina, sem nenhuma causa aparente, é um sinal de alarme para uma condição grave de saúde.
“Esses quadros levantam suspeita para possibilidade de problemas na vasculatura cerebral, como rompimento de aneurismas cerebrais ou constrição de artérias intracraniana”, afirma Lopes.
Dor de cabeça pode ser sinal de AVC?
Não necessariamente. De acordo com a neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na maioria das vezes, a dor de cabeça não é um sinal de AVC. Porém, em alguns casos específicos, a causa do acidente vascular cerebral pode levar à dor de cabeça. “Por exemplo, existem alguns AVCs que são causados por espasmos nos vasos e isso também causa dor. Mas não é comum”, explica Costa.
“A dor de cabeça pode acontecer no AVC do tipo hemorrágico, que são causados por rompimento de artérias ou aneurismas intracranianos. Essas condições devem ser suspeitadas em casos de dor de cabeça de início súbito e de forte intensidade e quando vêm associadas a sintomas neurológicos, como fraqueza muscular, perda de sensibilidade, dificuldade de visão e para falar, confusão mental, incapacidade de deambular ou perda de coordenação”, completa Lopes.
Como tratar a dor de cabeça corretamente?
Ao notar qualquer sinal de alarme suspeito na dor de cabeça, é fundamental procurar um neurologista para investigar a causa. Além disso, o especialista também deve ser consultado quando a cefaleia passa a afetar a qualidade de vida e a rotina.
O tratamento pode variar de acordo com a causa, principalmente na dor de cabeça secundária. Em situações de cefaleia primária, medidas de autocuidado e medicamentos analgésicos podem ajudar, como é o caso do paracetamol, ibuprofeno ou aspirina. (Lembre-se: estes dois últimos medicamentos não são recomendados em caso de suspeita de dengue).
Fonte: CNN Brasil