Surtos recentes de E. coli e listeria nos EUA levantam questões sobre segurança alimentar; médica explica como se proteger dessas infecções
As doenças transmitidas por alimentos estão em ascensão nos Estados Unidos, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), que emitiu um alerta de segurança alimentar na última semana sobre um surto de E. coli ligado ao “quarterão”, sanduíche do McDonald’s. Este surto causou pelo menos 49 casos de doença em 10 estados, incluindo uma morte.
Embora um ingrediente específico não tenha sido confirmado como a causa, a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA, informou que os investigadores estão analisando cebolas fatiadas ou hambúrgueres dos sanduíches como possíveis fontes de contaminação.
Este alerta vem após um surto de alto perfil de infecções por listeria ligado ao patê de fígado da Boar’s Head e outras carnes de delicatessen. Esses casos resultaram em dezenas de hospitalizações e pelo menos 10 mortes.
Para entender melhor as doenças transmitidas por alimentos e o que pode ser feito para melhorar as práticas de segurança alimentar, a CNN consultou sua especialista em bem-estar, Leana Wen. Wen é médica de emergência e professora associada clínica na Universidade George Washington. Anteriormente, ela foi comissária de saúde de Baltimore, com responsabilidades que incluíam supervisionar a segurança alimentar.
CNN: Quais são as causas mais comuns de infecções transmitidas por alimentos?
Dra. Leana Wen: Existem várias bactérias, vírus e parasitas que podem causar infecções alimentares.
A infecção alimentar mais comum é causada pelo norovírus, que é responsável por cerca de metade de todos os surtos de doenças relacionadas a alimentos nos EUA. Esse vírus se espalha facilmente por meio de alimentos e bebidas e de pessoa para pessoa, através do compartilhamento de utensílios ou tocando objetos que uma pessoa infectada tocou e, em seguida, levando as mãos à boca.
A bactéria mais comum que causa doença transmitida por alimentos é a Campylobacter. Essas infecções são frequentemente causadas pelo consumo de carne de frango crua ou malcozida. Outras infecções bacterianas comuns incluem salmonela, E. coli e listeria.
CNN: Por que certas infecções, como E. coli e listeria, são especialmente perigosas?
Wen: A E. coli é uma das muitas bactérias que vivem nos intestinos de humanos e de outros animais. Existem centenas de cepas de E. coli. Uma em particular, chamada O157:H7, pode ser especialmente perigosa, e há surtos dessa cepa todos os anos nos EUA. Essa é a cepa que esteve envolvida no surto do McDonald’s.
Essa cepa produz uma toxina que pode danificar o revestimento da parede intestinal e causar infecção grave e diarreia com sangue. Muitos pacientes se recuperam após episódios de cólicas abdominais e diarreia, mas alguns podem desenvolver uma complicação conhecida como síndrome hemolítico-urêmica, que pode levar à falência renal e até à morte.
Quanto à listeria, ela é comumente associada a carnes frias processadas de forma inadequada e leite não pasteurizado. Não é particularmente perigosa para a maioria das pessoas saudáveis, mas a infecção pode ter consequências muito graves para certos grupos, como idosos, bebês e imunocomprometidos. Existem também perigos específicos e graves para mulheres grávidas; a infecção por listeria pode resultar em aborto espontâneo, natimorto e parto prematuro.
CNN: Quais sintomas as pessoas apresentam se contraírem infecções alimentares?
Wen: Os sintomas mais comuns são náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal. Algumas pessoas também podem ter febre, dores no corpo e outros sintomas semelhantes aos da gripe. Dependendo do organismo envolvido, pode haver outros sintomas, como diarreia com sangue no caso da cepa O157:H7.
CNN: Como é tratada a infecção alimentar?
Wen: Isso depende do organismo causador da infecção. A maioria das infecções se resolve sozinha. Os pacientes precisam de tratamento de suporte com hidratação, mas geralmente não necessitam de terapia específica. Alguns se beneficiam de antibióticos.
No entanto, há infecções, notadamente a cepa O157:H7, em que os antibióticos não são usados e, na verdade, podem piorar a doença. Pessoas com cólicas abdominais severas e diarreia com sangue ou que não conseguem manter os líquidos devem procurar atendimento médico.
CNN: O que as pessoas devem fazer para reduzir o risco de infecções alimentares?
Wen: Os surtos que aparecem nas notícias podem dar a impressão de que todas as infecções alimentares estão associadas a alimentos de restaurantes ou lojas. Isso é verdade para um pequeno número de casos, mas a maioria ocorre em casa, em nossas vidas diárias.
Como o norovírus é a causa mais comum de infecções alimentares, vamos falar sobre a prevenção do norovírus primeiro. É crucial lavar bem as mãos com água e sabão. Se isso não estiver disponível, tente usar álcool em gel após tocar superfícies comuns antes de levar as mãos à boca.
Pessoas com náuseas, vômitos, diarreia, cólicas estomacais ou outros sintomas que possam indicar norovírus não devem preparar alimentos e não devem estar em espaços públicos, como escolas e locais de trabalho.
Cozinhar inadequadamente carnes e peixes é outra causa comum de infecções alimentares. Produtos diferentes exigem temperaturas diferentes para garantir que estejam completamente cozidos. Por exemplo, frango, peru e outras aves devem ser cozidos a 74°C (165°F). Peixes devem ser cozidos a 63°C (145°F).
É importante estar atento aos recipientes e utensílios usados com carne crua. Não use esses utensílios para outros produtos, que podem ser contaminados com bactérias da carne crua.
Outro possível causador de doenças alimentares é não lavar os produtos. Legumes e frutas devem ser lavados, mesmo que sejam descascados depois. A melhor forma é enxaguá-los em água corrente. Não use detergente ou desinfetantes.
O armazenamento é outro ponto a ser observado. O limite seguro para manter alimentos fora da geladeira ou do congelador é de duas horas. No entanto, se estiver ao ar livre e a temperatura estiver muito quente, esse tempo é reduzido para uma hora.
Além disso, não beba leite não pasteurizado nem consuma produtos feitos com leite não pasteurizado. Fique atento aos avisos locais. Os departamentos de saúde locais mantêm as pessoas informadas sobre possíveis doenças transmitidas por alimentos em lojas e restaurantes da região.
CNN: Quem deve tomar mais precauções com a segurança alimentar?
Wen: Existem dois grupos que precisam tomar mais precauções. Primeiro, aqueles que trabalham na indústria alimentícia ou que, de outra forma, preparam e servem alimentos para muitas pessoas. Eles precisam garantir uma boa higiene das mãos e práticas seguras de cozimento para não infectarem outras pessoas.
O segundo grupo é composto por aqueles mais vulneráveis a doenças graves caso contraiam infecções alimentares. Estes incluem idosos, bebês e crianças pequenas, mulheres grávidas, pessoas imunocomprometidas e outras com condições crônicas graves. Eles devem tomar precauções adicionais para reduzir o risco de adoecer, como evitar carnes frias e verificar se a carne que estão consumindo foi cozida a temperaturas adequadas.
Fonte: CNN Brasil