Nem todos os países se preocupam em elaborar estatísticas sobre a solidão e o isolamento. Os Estados Unidos são um dos poucos que o faz. E os últimos resultados mostram uma realidade assustadora: o número de pessoas que diz estar sozinha duplicou nas últimas 3 décadas. De 20%, passou a 40%.
Estes dados parecem coincidir com o que acontece em muitos outros países. São cada vez mais as pessoas que decidem ser solteiras para sempre; cresce o número de indivíduos maiores de 65 anos que vivem no isolamento, por indiferença e desinteresse dos seus familiares. Os vizinhos cada vez falam menos entre si. Até as crianças permanecem hoje mais sozinhas do que nunca antes na história.
Todos estes fenômenos, em conjunto, são o preço do individualismo. Projetamos sociedades onde se dá um valor desmedido à independência, à autonomia, ao indivíduo. Muitas pessoas estão mais preocupadas em se diferenciar dos outros do que em encontrar semelhanças. A exaltação do ego é uma prioridade para muitas pessoas.
Os efeitos do isolamento social
Não podemos assumir que o isolamento social seja simplesmente um estilo de vida. Existem pesquisas em todo o mundo que chegam à mesma conclusão: as pessoas que estão ou se sentem sozinhas têm maior probabilidade de adoecer e de morrer mais cedo.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Chicago aponta que as crianças que crescem em solidão têm maior risco de padecer de problemas severos de saúde 20 anos mais tarde. Outra pesquisa aponta que aqueles que vivem em isolamento tem 30% mais probabilidade de morrer nos próximos 7 anos.
Também se apontou o fato de que as pessoas em isolamento começam a desenvolver padrões de sono deficientes. Da mesma forma, sofrem de alterações do sistema imunológico, têm maior risco de sofrer infartos e apresentam níveis mais elevados dos hormônios do estresse.
Os grupos mais afetados
O isolamento social aparece em ambos os sexos, com uma leve vantagem para o percentual masculino. O mais preocupante é que também está presente em todas as idades e em todas as classes sociais. Só sabe-se que as pessoas com estudo universitário tendem a se isolar menos.
Contudo, existem grupos específicos onde se concentra o isolamento social. Quase todos eles correspondem a pessoas em estado de vulnerabilidade. Quem corre mais risco de se isolar são os filhos únicos, os adultos de mais de 65 anos e aqueles que padecem de algum tipo de doença ou limitação física.
O mais grave é que em quase todos eles existe uma barreira que os impede de falar da sua solidão. E ainda é muito mais difícil pedir ajuda. Sentem que se declarar como pessoas em isolamento implica deteriorar a sua própria imagem, e temem as consequências do que os outros possam fazer diante da sua condição.
É possível combater o isolamento?
Assim como tem se promovido a ideologia do individualismo, também vem se criando lugar para uma forte tendência a padrões colaborativos. Este fenômeno apareceu primeiro na economia: o verbo ‘ter’ começou a ser substituído pelos verbos ‘alugar’, ‘emprestar’, etc. Um exemplo disso é o serviço do automóvel compartilhado.
Também tem se ampliado com as casas (AIRBNB), as ferramentas, a comida e até as próprias experiências. Deste mundo de produção, pouco a pouco vem surgindo também um sentido colaborativo para a solidariedade na vida cotidiana. A Fundação Médica de Palo Alto (EUA) criou uma plataforma chamada linkages, onde se oferece um intercâmbio de serviços intergeracionais.
Em plataformas como estas, cada membro diz qual é a sua necessidade. Por exemplo, aprender a cozinhar, levar o cão para passear, ter uma companhia para ir ao médico. Quem estiver disposto a satisfazer essa necessidade, o fará voluntariamente. Depois, também pode receber ajuda em alguma outra atividade ou simplesmente se sentir satisfeito pelo serviço prestado.
Assim parece ser a solidariedade moderna: via internet. Embora a própria internet tenha sido um forte nutriente do isolamento social, também pode ter um uso como este. Desta forma, serviria para recompor os vínculos perdidos com o mundo. Iniciativas como esta nos dão uma pista sobre as possíveis soluções para esse isolamento contemporâneo. São uma luz diante de um mal que parece crescer sem que ninguém faça algo a respeito.
Créditos: A mente é maravilhosa