A BMW tem uma tradição de cupês pequenos e esportivos, uma história que remonta a 1968, quando foi lançado o 2002. Só que os modelos da marca alemã cresceram com o tempo e isso criou o nicho para uma releitura moderna daqueles cupêzinhos, reencarnados como o atual Série 2 cupê. Embora o M2 seja a variante mais desejada, o fabricante passou a oferecer no Brasil o M240i, que conta com o mesmo motor 3.0 turbo por R$ 304.950, um desconto de R$ 90 mil em relação ao M.

Após dirigir por duas voltas o cupê por Interlagos, posso dizer que o ajuste mais forte do M2 talvez valha para quem deseja fazer trackdays e encostar no mais forte M4 nas pistas, pois o M240i é mais do que suficiente para dizer auf wiedersehen para esportivos mais fortes.

Ter a letra M no nome significa que ele pode não chegar ao nível de afinamento e mudanças dinâmicas do M2, porém, foi ungido pela divisão esportiva, a responsável pela suspensão mais durinha e pelo sistema de freios a discos ventilados nas quatro rodas.

Proporções de comprimento e entre-eixos são mais compactas que no Série 3 (Foto: Divulgação)

A exemplo de outras coisas boas da vida, o contato curto não tirou a graça da experiência. O 3.0 tem turbo de duas câmaras, uma dedicada aos baixos regimes e outra para altos, além de comando de válvulas variável em abertura e fechamento, tecnologias que ajudam o seis em linha a ter força a todo o momento. Não é maneira de dizer, o torque máximo de 50,9 kgfm está disponível desde os 1.520 giros e segue pleno até 4.500 rpm. A potência máxima de 340 cv é entregue a 5.500 rpm, quase emendada no platô de torque. São 30 cv a menos que o M2, cujo torque de 51 kgfm é virtualmente o mesmo.

O câmbio é sempre o automático ZF de oito marchas, talvez não tão rápido quanto o DCT de sete velocidades de dupla embreagem do M2, mas isso pouco importa no mundo real. A transmissão chega a ser mais eficiente do que o manual de seis velocidades, capaz de ir de zero a 100 km/h em 4,8 segundos, enquanto o automático faz o mesmo em 4,6 s.

Traseira se destaca pelos para-lamas largos e dupla saída de escape (Foto: Divulgação)

Na Europa, há também a opção de tração integral xDrive, o que ajudaria a baixar esse tempo a 4,4 s, porém, no Brasil a tração traseira é padrão. A despeito do piso molhado que encontramos no autódromo no dia da avaliação, não discordo da decisão, afinal, o caráter acrobático é o que caracteriza o Série 2 desde o Antigo Testamento.

Como a fila para testar a novidade era grande e o meu tempo curto, a apreciação do design nos boxes foi rápida. O Série 2 ficou ainda mais agressivo graças aos para-choques esportivos. Eles ajudam a diferenciar por fora o M240i, junto com as rodas aro 18 calçadas em pneus Bridgestone Potenza. O tom Azul Estoril metálico dá uma esportividade extra. O cupê pode vir ainda nas cores metálicas branco, cinza, prata e preto ou em branco sólido. O problema é que o modelo reestilizado já foi apresentado lá fora e traz mudanças no desenho externo, agora com faróis de leds, e também por dentro.

Impressões ao dirigir

As grandes portas dão um acesso livre ao interior e não há moldura superior. Se acomodar no banco baixinho talvez exija um pouco dos que têm dor ciática, contudo, é o preço de sentar-se mais rente ao chão. Como a posição de dirigir é recuada, fica fácil alcançar o cinto. Os passageiros de trás tem menos conforto. Um ressalto após o teto solar até abre espaço para acomodar as cabeças dos mais altos, contudo, o vão em relação aos bancos da frente não deixa muito lugar para as pernas. Um porta-objetos no meio deixa claro que aquele lugar é apenas para dois. Ao menos o porta-malas de 390 litros oferece bom volume.

Dá para notar de cara que cabine tem a seriedade tática dos demais BMW, estamos falando de um lugar de trabalho. A combinação de teto preto e revestimentos de couro na mesma cor escurece o interior, mas dá para optar pelos tons areia, marrom e vermelho. O padrão de acabamento não fica muito distante do mais caro Série 3 e materiais macios recobrem a parte superior do painel e portas.

Comportamento dinâmico é mais afiado em comparação a outros BMW maiores (Foto: Divulgação)

A diferenciação poderia ser maior, talvez bancos tipo concha dessem o ar esportivo esperado, porém, isso fica apenas para o M2. Por outro lado, os bancos são capazes de oferecer suporte para todos os lados: há extensão para as pernas, abas laterais reguláveis e ajuste lombar, a maioria acionada eletricamente e com duas memórias para o motorista.

Um dos raros toques da M está no emblema do volante de três raios, de ótima pega. Ficar alinhado perfeitamente com pedais e direção é uma qualidade esperada dos BMW e o M240i manteve em pé a tradição, até mesmo no acelerador articulado a partir do assoalho. O sistema multimídia de 8,8 polegadas manteve o comando no console. A interface é bem intuitiva e os gráficos claros e bem definidos.

Ao dar a partida no botão, o seis cilindros ronca grave. O uso de turbocompressão tirou apenas um pouco da sonoridade metálica. Como o terreno estava escorregadio, os modos mais esportivos do seletor de comportamento foram proibidos pelo instrutor ao meu lado. Em outras situações, você poderia optar pelos modos Eco, Sport ou Sport+ por um botão no console, algo que altera as reações de direção, motor, câmbio e suspensão. Logo ali também está o botão do ESP, que se junta aos seis airbags (frontais, laterais dianteiros e de cortina) na segurança.

O painel mudou no facelift europeu, mas ainda mantém o bom padrão de acabamento (Foto: Divulgação)

Reajustadas pela M, as suspensões McPherson na dianteira e multilink na traseira apostam em barras antirrolagem e amortecedores adaptativos para rolar o menos possível. A construção em alumínio dos componentes ajuda a baixar o centro de gravidade, enquanto o peso é distribuído de maneira quase igual entre ambos os eixos.

Na saída dos boxes, deu para encher o motor e aproveitar a reta oposta para irmos além dos 170 km/h. As enormes borboletas no volante facilitam as passagens, suaves no modo automático e instantâneas no manual-sequencial. A primeira frenagem pesada não desequilibrou o carro, que escapou apenas na subida do lago, mesmo estando no modo de ajuste Sport. As escapadelas acompanham o Série 2 a todo o momento, sempre sob comando do motorista. A direção direta ajuda na tarefa e oferece toda a precisão direcional. Ele aponta que é uma beleza e tem diâmetro de giro de apenas 10,9 metros.

A velocidade máxima é limitada eletronicamente a 250 km/h e o cupê foi além dos 220 km/h na reta principal, contudo, os trechos travados foram os mais divertidos. Curvas como as da ferradura, laranja, pinheirinho e bico de pato e junção se tornaram o território preferido do cupê, cujo entre-eixos de 2,69 metros é relativamente curto em relação aos 2,81 metros do maior Série 3. Somado a isso, a direção eletromecânica M Servotronic é adaptativa e exige menos movimento do volante para virar em altas velocidades. A inserção nas curvas é maníaca e o motorista sempre está informado sobre o que está acontecendo.

Custo-benefício

Pelo preço pedido, o cupê traz ar-condicionado digital com duas zonas, revestimentos de couro premium, bancos dianteiros elétricos (com memória para o condutor), entrada e partida sem chave, som Harman Kardon, multimídia com câmera de ré e GPS, teto solar elétrico, faróis de xenônio direcionais com assistente para não ofuscar o tráfego contrário, frenagem automática com reconhecimento de pedestres (entre 10 e 60 km/h), sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, controle de cruzeiro, Connected Drive (capaz até de chamar socorro em caso de acidente automaticamente), auxílio de manutenção de faixa, sensores de chuva e de luminosidade, retrovisores externos rebatíveis eletricamente e interno eletrocrômico, entre outros.

Sistema Connected Drive inclui assistente capaz de comunicar automaticamente um acidente (Foto: Divulgação)

É um pack que poderia incluir controle de cruzeiro adaptativo e outras salvaguardas. Ao menos em diversão o valor ainda é coerente. Ao menos em diversão o valor ainda é coerente.Ainda mais se lembrarmos a diferença de preço em relação ao M2 – ainda que o superesportivo seja bem mais colecionável. O grande senão é a proximidade da reestilização.

Ficha técnica

Motor: Dianteiro, longitudinal, 6 cilindros em linha, 3.0, turbo, 24 válvulas, injeção direta, gasolina
Potência: 340 cv a 5.500 rpm
Torque: 50,9 kgfm entre 1.520 rpm e 4.500 rpm
Câmbio: Automático de 8 marchas, tração traseira
Direção: Eletromecânica
Suspensão: McPherson na dianteira e multilink na traseira
Freios: Discos ventilados
Pneus: 225/40 R18 na frente e 245/35 R18 atrás
Dimensões
Compr.: 4,45 m
Largura: 1,77 m
Altura: 1,40 m
Entre-eixos: 2,69 m
Capacidade do tanque: 52 litros
Peso: 1.574 kg
Central multimídia: 8,8 polegadas, sensível ao toque
Porta-malas: 390 litros

Créditos: Autoesporte