Frequentemente encontramos informações sobre os benefícios de diversos ingredientes, porém nem sempre elas consideram todas as questões levantadas pela comunidade acadêmica. Por isso, muitas vezes há a impressão de que um mesmo alimento transita entre o papel de herói e vilão. Isto é o que vem acontecendo com o açúcar e o edulcorante. Usados com a mesma finalidade (adoçar), são substâncias diferentes e erroneamente colocadas em comparação.

A nutricionista Marcia Daskal, da Recomendo Assessoria em Nutrição, explica que a sacarose, mais conhecida como “açúcar de mesa”, é um carboidrato simples, composto por glicose e frutose, natural da cana-de-açúcar ou de outros vegetais (como a beterraba ou o coco), sendo responsável pelo fornecimento de energia. Já os adoçantes são variadas substâncias não-calóricas com maior poder de dulçor, produzidas a partir de fontes naturais ou artificiais.

“De maneira geral, eles têm poder adoçante de 100 a 500 vezes maior do que o açúcar e, por isso, podem ser utilizados em menor quantidade. Possuem uma quantidade desprezível de calorias, enquanto o açúcar, como qualquer carboidrato, fornece quatro calorias por grama”, comenta a nutricionista.

Essas são razões para que o edulcorante seja considerado mais saudável por grande parte da população, pois não fornece calorias e adoça. Porém, isso não pode ser considerado como uma verdade absoluta. “Não há evidências científicas sobre a existência de características mais ou menos saudáveis de um ingrediente para o outro”, ressalta. “Também é necessário enfatizar que os adoçantes são utilizados em preparações que podem ter calorias de outros ingredientes. Isto é, ele não traz calorias adicionais, mas não tira as calorias de um suco, um bolo, um pudim ou um chocolate, por exemplo”, completa Marcia.

A substituição

Os edulcorantes são comumente utilizados na substituição da sacarose com o objetivo de reduzir o valor calórico dos alimentos e bebidas. No entanto, essa substituição não necessariamente garante uma redução de calorias, já que alguns produtos têm uma maior quantidade de gordura na formulação. Assim, algumas pessoas aumentam o consumo dos alimentos light e podem comer até mesmo mais calorias. No controle do peso, ambos podem ser utilizados, pois o importante é a alimentação como um todo.

Os profissionais da saúde costumam indicar o uso de edulcorantes para os diabéticos, já que os adoçantes não requerem insulina para sua absorção. Isto não quer dizer que diabéticos não possam consumir açúcar, desde que com orientação e acompanhamento de nutricionista e médico, a critério do profissional de saúde.

Em teoria, a atitude de dispensar bebidas e alimentos açucarados e substituir por versões com esses outros tipos de adoçantes não resolveria o problema relacionado ao balanço energético. “Nossa sociedade foi educada a pensar que engordamos apenas quando consumimos mais calorias e, inversamente, emagrecemos quando ingerimos menos alimentos. A questão é muito mais complexa e essa substituição não traz resultados imediatos. Junto com a alimentação, é necessário mudar o estilo de vida”, afirma o educador físico Marcio Atalla.

Atividade física

A relação do uso do açúcar e do adoçante para quem pratica atividades físicas também gera muitas dúvidas. O ideal é ter em mente que a combinação entre dieta equilibrada e atividade física regular é sempre a melhor base para se viver de forma saudável e evitar doenças.

Para quem se exercita regularmente, o consumo de açúcar ou adoçante também depende de um amplo contexto. Para um atleta, o consumo de açúcar pode ser necessário, dependendo do tipo, duração e intensidade da atividade física. “A recomendação é ingerir um carboidrato simples no pré-treino, pois vai dar energia para fazer os exercícios propostos. Sendo assim, uma fruta ou um pão com geleia são boas opções. Para depois da atividade, recomenda-se ingerir um carboidrato e uma proteína, sendo que a última ajudará na construção dos músculos. Não há uma regra certa, mas é essencial se alimentar antes e depois do treino”, comentou Marcio Atalla.

O cardiologista e nutrólogo do Instituto Dante Pazzanese, Dr. Daniel Magnoni, salienta ainda que, em média, 73% da população que consome açúcar e pratica atividade física está com o peso adequado. “Isto reforça o conceito errôneo de ‘vilanizar’ ingredientes, além de comprovar a possibilidade do uso de açúcar dentro de um estilo de vida balanceado”.

Cultura

O consumo de ingredientes também passa por questões sociais e culturais, pois escolher o que se deve comer está aliado a diversos símbolos. Para o antropólogo Raul Lody, alimentar-se vai muito além de apenas saciar a fome. “Para o brasileiro, o açúcar é uma referência não só cultural mas também emocional, visto que está presente no trajeto das relações sociais, como nascimento, aniversários, casamento e outras motivações. Sempre haverá um doce como um marco gastronômico nos diferentes momentos de sociabilidades”.

Além dessa questão, é fundamental entender que não existe um tipo de adoçante que seja mais ou menos saudável do que outro, ou ainda mais vantajoso que o açúcar. “As principais agências reguladoras de alimentos, como o FDA, aprovam o uso de seis adoçantes diferentes e ainda incentivam o uso de açúcar para aqueles que o preferem”, reforçou Daniel Magnoni.

Portanto, a ausência de açúcar ou o uso constante do adoçante não torna a alimentação mais saudável, pois o que importa é a forma e a quantidade com que o ingrediente é consumido e de que maneira isso se encaixa no estilo de vida de cada pessoa – que não é definido por um ou alguns ingredientes consumidos isoladamente. Saúde e bem-estar dependem de um extenso conjunto de fatores, imprescindivelmente acompanhados e orientados por especialistas, caso a caso.

Créditos: Notícia ao Minuto