Problema crescente nas famílias contemporâneas, a obesidade na infância precisa ser olhada de forma cuidadosa. Hipertensão e Diabetes do Tipo 2 são cada vez mais comuns entre os pequenos
Uma das mais completas pesquisas sobre Obesidade Infantil, feita em 2008 pelo IBGE, revelou que uma em cada três crianças brasileiras, de até cinco anos de idade, estão com sobrepeso. Destas, 20% estão com obesidade. O que mais assusta nutricionistas e profissionais de saúde de forma geral é que a obesidade não é o principal problema, mas os fatores associados, como crianças de dois anos com hipertensão e diabetes do tipo 2. “Até a década de 70, crianças sofriam de desnutrição e chegavam a morrer de fome. Hoje, devido a vários fatores, o quadro se inverteu e temos esta realidade”. O alerta é da nutricionista Mariana Olival, da NutriCoaching-Kids.
A NutriCoaching-Kids trabalha, prioritariamente, com a questão de mudança de comportamento, que para o público infantil é ainda mais determinante do que para o público adulto. Afinal, é entre dois e três anos que se forma o comportamento alimentar. Para a nutricionista, normalmente, o que consegue se conquistar de bons hábitos alimentares nessa idade são os que conseguem se perdurar até a vida adulta. “Basicamente, trabalhamos a qualidade nutricional e mudança significativa de comportamento nutricional”, pontua Mariana.
As crianças têm um modelo de aprendizagem, descrito na literatura, que se chama Modelagem. O que significa que ela aprende por meio de exemplos. Nesta fase de formação de comportamento alimentar, ela convive praticamente todo o tempo com a família. Então, nesse contexto, os pais têm um papel determinante na formação do comportamento alimentar da criança, tanto no que se consome em casa, quanto fora de casa.
Idades mais críticas
O comportamento alimentar começa a ficar crítico quando ela começa a andar. A criança começa a descobrir o mundo ao seu redor, porém é a partir dos dois anos que a criança começa a negar tudo e apresentar dificuldade de aceitação. Aprende a rejeitar alguns alimentos que antes a mãe, ou o responsável, conseguia servir com mais facilidade.
Para Mariana Olival, o que mais se discute nesse modelo de tratamento é a validade daquele modelo biomédico e quantitativo que a gente tinha. “Parece clichê, mas hoje a mudança de comportamento é mais preconizada para o público infantil. Comer respeitando a tradição, não consumir industrializados, comer comida de verdade e, especialmente, usar essas ferramentas de conscientização e mudança de comportamento para uma relação saudável com a comida são o que há de mais moderno na Nutrição. Mas, obviamente, que dependendo do caso pode ser associado ao tratamento fitoterápico e outros. E dieta calculada não é usual”, explica.
Doenças mais comuns
As duas questões mais discutidas em consultório são: “A criança come demais” e “A criança não come nada”. São dois extremos. O mais frequente é a questão do sobrepeso. Afinal, geralmente, uma coisa leva à outra. Quando a criança não come nada, os pais se desesperam e querem dar qualquer coisa só para manter a criança alimentada; e normalmente as crianças querem comer alimentos que levam ao sobrepeso. A dificuldade que a criança tem de se alimentar é o que a gente chama de seletividade alimentar e é o principal problema na faixa etária de dois a quatro anos. Esta seletividade leva ao extremo da má alimentação e causa doenças como diabetes, hipertensão e uma série de outros problemas precoces.
E como fica o papel da escola nisso?
A escola tem um papel fundamental nesse processo de saúde da criança. Lá é um ambiente que a criança vai programada para aprender coisas, absorver. “Então, ensinar sobre comportamento alimentar na escola é muito fácil da criança assimilar, porque como já foi citado, a criança aprende por modelagem, ou seja, ela aprende no coletivo. A escola é um ambiente fundamental na formação dessa educação alimentar. Inclusive, no tratamento e cultivo de alimentos”, enumera a nutricionista da NutriCoaching-Kids.
Mariana explica que embora exista o PENAI – Programa Nacional de Alimentação Escolar, que regulamenta toda a alimentação escolar, ele não tem muita aplicabilidade, infelizmente. “O PENAI é um programa maravilhoso no papel que deveria ser seguido na sua totalidade”, finaliza.
Confira as dez dicas da NutriCoaching para combater a Obesidade Infantil:
1) Seja um bom exemplo: Coma legumes, frutas, folhas, grãos integrais junto com a criança! Deixe que ela veja o quanto você aprecia esses alimentos!
2) Faça compras com as crianças: Leve seu filho a uma feira ou mercado do produtor. Deixe que ele conheça, sinta e escolha o que quer levar para casa aproveitando esse momento para conversar sobre escolhas saudáveis.
3) Cozinhe com seu filho: Deixe que ele participe do processo, seja escolhendo os ingredientes, lavando, cortando ou arrumando no prato. Incentive que ele crie novas preparações e use a criatividade para nomeá-las! Será um momento muito divertido e instrutivo!
4) Ofereça a mesma comida para toda a família: Não faça pratos diferentes para cada membro da família. É mais fácil planejar as refeições dessa forma sendo possível agradar a todos com pelo menos um prato!
5) Recompense com atenção, não comida: Mostre seu amor e sua compreensão com beijos, abraços, conversas e não com comida! Não ofereça doce como recompensa, isso só fará com que seu filho pense que esses alimentos são melhores que os outros. Se a criança não comer, ela não precisa de um substituto como doce, biscoito ou mesmo leite!
6) Aproveitem o momento das refeições para interagir em família: Conversem sobre coisas engraçadas, sobre o dia, contem histórias, tornem esse momento ainda mais agradável! Desligue a televisão, os celulares, façam com que o momento das refeições seja livre de estresse.
7) Escute seu filho: Respeite o apetite do seu filho, não seja tão duro com relação aos horários. Por exemplo, se a hora do lanche ainda não chegou e seu filho diz que está com fome, ofereça pequenas porções de fruta. Ofereça água constantemente! Essa regra funciona também para o oposto, se seu filho estiver sem apetite, não o obrigue a comer, não faça comentários negativos e frustrantes. Está tudo bem pular alguma refeição no dia (contanto que a saúde do pequeno esteja normal). Escute, sinceramente, o que seu filho diz!
8) Limite o “tempo de tela” do seu filho: Televisão, tablet, videogame, celular, computador: tudo isso faz parte da vida das crianças, atualmente. Porém, o recomendado é que elas não passem mais de duas horas na frente da telinha. O tempo de tela está intimamente relacionado a obesidade infantil, além de outros prejuízos.
9) Encoraje sua família a praticar atividade física: Andar, correr, nadar, pular, enfim, brincar! Atividade física não é, necessariamente, atividade paga! Organize, nos finais de semana, atividades em família e envolva seu filho no planejamento dessas atividades! Isso vai melhorar os laços da família, divertir a todos, e implantar nas crianças o gosto pela atividade física e uma vida mais movimentada e saudável!
10) Lanche é pra “hora do lanche”: Apesar do ajuste necessário entre o apetite e os horários, comida dever ser oferecida quando a criança está com fome, apenas! Não ofereça petiscos enquanto assiste televisão ou para passar o tempo! As crianças precisam se alimentar ao longo de todo o dia, porém de maneira consciente! Se seu filho quer consumir algo por um motivo que não seja fome, converse com ele e faça com que reflita. Ofereça sempre pequenas porções nas refeições e, caso necessário, deixe que a criança repita.
Fonte: Divulgação