Dietas geralmente dizem respeito sobre o que comer. E faz sentido, já que não se pode esperar ter uma vida saudável indo à lanchonete todo dia ou comendo toneladas de açúcar.

Mas descobertas recentes apontam que, tão importante quanto o que comer, é quando comer, se a ideia for ter um metabolismo que funcione bem, como mostra um artigo no jornal The New York Times.

Best-seller sobre saúde e bem estar e especialista jornal sobre o assunto, Anahad O’Connor escreve sobre o livro The Circadian Code (o Código Circadiano, em tradução livre. A obra ainda não tem edição brasileira), novo lançamento do professor Satchidananda Panda, um dos principais especialistas em pesquisas sobre o ciclo circadiano no mundo.

O ciclo que dá nome à obra é o que norteia nosso corpo durante as 24h em que repetimos incessantemente: acordamos numa certa faixa de horário, desenvolvemos nossa atividade durante o dia e dormimos à noite. Adotamos essa rotina bastante cedo em nossas vidas. Com ela nosso corpo se acostuma não só com as horas de acordar e dormir, mas também de comer.

Panda pesquisa sobre a relação do metabolismo humano com o ciclo circadiano. Ele afirma que boa parte dos problemas relacionados ao ganho de peso, problemas metabólicos e deterioração da saúde ligada à alimentação está relacionada a estendermos demais o intervalo entre a primeira e a última refeição do dia.

Para ele, esse período entre o café da manhã e a última coisa que ingerimos antes de dormir deve ser de, no máximo, dez horas. Ou seja, se você toma café às 8h, deveria parar de comer às 18h. Em sua pesquisa, no entanto, Panda descobriu que o intervalo normalmente praticado pelas pessoas é de 15 horas.

O problema, afirma, é que o padrão de alimentação acaba conflitando com o ritmo biológico do corpo humano. O pâncreas, por exemplo, produz muito mais insulina durante o dia do que à noite, para controlar o nível de glicose no sangue. Da mesma forma, a flora intestinal tem seu próprio horário para atuar com mais intensidade emitindo enzimas, assim como outros órgãos.

Assim, comer aquele sanduíche à meia-noite, quando nosso corpo já está programado para descansar, provavelmente vai levar não só a um intenso mal estar, mas também a um desajuste metabólico que pode não tratar da forma correta os ingredientes ingeridos.

“Somos feitos para ter ciclos de 24 horas em nossa fisiologia e metabolismo. Esses ritmos existem porque, assim como nosso cérebro precisa do sono durante à noite para reiniciar suas atividades, os órgãos precisam desse tempo para reparar a si próprios”, diz o especialista.

Perigo sério

E o pior é que os problemas em desrespeitar nosso relógio corporal podem ir além de uma dor de barriga, o que muitos consideram suportável. Segundo Paolo Sassone-Corsi, diretor do Centro de Epigenética e Metabolismo da Universidade da Califórnia, desafiar constantemente nosso metabolismo pode levar a graves doenças.

Trabalhadores que têm seu turno à noite, por exemplo, são obrigados a trocar os horários e dormir durante o dia. Comendo mais quando seus corpos não têm condições de tratar os nutrientes, aumenta nessas pessoas a chance de desenvolver obesidade, diabetes, alguns tipos de câncer e problemas cardíacos.

café da manhã saudável alimentação (Foto: ThinkStock)

SEGUNDO OS NUTRICIONISTAS, MELHOR DO QUE SE ENCHER DE COMIDA À NOITE, É COMER UM CAFÉ DA MANHÃ REFORÇADO (FOTO: THINKSTOCK)

Regular os horários das refeições pode até permitir às pessoas ser mais indulgentes com o que comem. Em um estudo conduzido com camondongos em 2012, Panda separou voluntários em dois grupos e deixou que ambos comessem grandes quantidades de gordura e açúcar. Mas um dos grupos fazia isso em um intervalo de oito horas, enquanto o outro comia durante todo o dia. Apesar de todas as cobaias terem comido a mesma quantidade de calorias, o grupo que não teve os horários regulados ficou obeso e doente rapidamente, diferentemente do outro.

Mais tarde, outro experimento, este conduzido com humanos por Courtney Peterson, professora do departamento de nutrição da Universidade do Alabama, submeteu um grupo de homens pré-diabéticos (quando o nível de açúcar no sangue já está acima do normal, mas ainda não nos níveis considerados diabéticos) a dois tipos de dietas: um com a janela de 12h entre a primeira e a última refeição do dia, e o outro com o tempo reduzido pela metade. Foi observado que, na dieta mais restrita, as pessoas tiveram um menor nível de insulina, estresse oxidativo (excesso de radicais livres no organismo) e pressão sanguínea.

E, se a rotina diária envolvendo trabalho e demais atividades não permite reduzir tanto o intervalo das refeições, comer alimentos mais leves á noite já ajuda, segundo os especialistas. Para compensar, você pode caprichar no café da manhã, e seu corpo dará conta da digestão durante o dia.

 

Fonte – Epoca Negócios