Prazer, eu sou o mala da mala. Eu acredito piamente que viajar mais leve é um upgrade pra qualquer viagem. Diminuir primeiro o tamanho e depois o peso da mala transforma não só a viagem, mas o viajante.
Acredite: há malas que vêm para o bem. No caso, são a mala M (até 65 cm de altura) e a mala P (até 55 cm de altura).
A mala G (de 75 a 85 cm de altura) é um dinossauro que não cabe mais nesse planeta. Darwin ficaria surpreso de ainda existirem malas G no nosso ecossistema.
A evolução das espécies de malas
Por falar em Darwin, vamos analisar a evolução da espécie mala nos nos últimos 50 anos. Você sabia que a primeira mala com rodinhas só foi aparecer na década de 70, e mesmo assim demorou para pegar?
Dados históricos: quando eu fiz meu mochilão em 1985 (olha como eu sou vintage — a palavra mochilão nem existia) eu viajei 4 meses pela Europa arrastando uma malona sem rodinha da minha mãe. Era uma mala de Neanderthal.
A mala de duas rodinhas só foi começar a pegar nos anos 90, quando ganhou uma haste retrátil e passou a ser carregada de pé, na vertical. Surgia a mala erectus.
Mas a grande evolução mala só se tornaria completa em 2004, quando apareceram as malas de 4 rodinhas independentes e multidirecionais. Nascia a mala sapiens. É uma malavilha. Tirando subir escada, as malas de hoje fazem tudo praticamente sozinhas.
Mas… posso ser mala? A mala G é a única que não funciona bem nesse formato.
A mala G continua pesadona. A mala M te acompanha, mas a mala G você ainda precisa carregar. A mala G não gosta de metrô e tem dificuldade pra subir e se acomodar no trem.
Estatística mala: repare só na sua próxima viagem. 100% dos turistas atrapalhados que você encontrar pelo caminho estarão a bordo de uma mala G.
A mala G está fadada à extinção porque ela é de outro tempo. Apesar das 4 rodinhas, ela é o resquício evolutivo de uma época em que os viajantes contratavam carregadores nos aeroportos e nas rodoviárias. Um tempo em que qualquer hotel tinha um rapazinho pra subir as malas para o seu apartamento, um tempo em que as cias. aéreas deixavam você trazer o outlet inteiro de Orlando na mala.
Você sabia que algumas cias. aéreas, como a Air New Zealand, nem sequer mais aceitam malas com mais de 23 kg?
A mala G é uma espécie de droga que leva o viajante para o mau caminho. Tem gente que deixa de viajar de trem porque está com muita mala. Tem gente que aluga carro onde o carro só atrapalha, só porque precisa carregar mala. Tem gente que deixa de aproveitar passagem low-cost porque está viajando com mala pesada.
A boa notícia é que, se você não trabalha com muamba nem precisa transportar o closet de sapatos da Imelda Marcos a cada viagem, você não precisa de uma mala G.
Lembra da sua última viagem, quando você cruzou com vários viajantes lépidos e felizes a bordo de malas M? Você também pode ser um deles.
Como diminuir a bagagem
Basta fazer uma reeducação malamentar.
A receita é clássica, anterior à invenção da mala de rodinhas. O conselho pra viajar mais leve sempre foi:
- 1. Colocar sobre a cama todas as roupas que você acha que vai usar na viagem
- 2. E então: tirar metade
Esse conselho continua atualíssimo.
Porque, olha só: por mais longa que seja a sua viagem, você só precisa carregar roupa pra 8 dias.
Use lavanderias automáticas!
A cada 7 dias, você investe duas horas numa lavandeira self-service para lavar e secar jeans e roupas de malha. Não são duas horas perdidas: você vai usar esse tempo pra atualizar suas redes sociais (muito papo mala no Facebook) ou, melhor ainda, para checar os planos pros próximos dias.
Ah, mas eu vou viajar no inverno!
Acredite, é mais fácil ainda: o casaco sempre vai do lado de fora da mala. Você não estava pensando em levar mais de um casacão pra viajar, estava?
O que não falta na internet são tutoriais pra você arrumar uma mala como profissional. Tem várias técnicas para dobrar e pra acomodar as roupas, inclusive aqueles saquinhos a vácuo.
Mas essas técnicas só funcionam depois que você toma coragem e usa aquele método de cortar a roupa pela metade, levando peças que combinem entre si e acessórios pra variar o look.
Próximo passo: a mala P
Sabia que enquanto eu estou aqui com essa reflexão-mala tentando convencer você a trocar a mala G por uma mala M, tem muita gente que está experimentando viajar só com mala P? Por que, você sabe: das malas, a menor.
Mas cada coisa a seu tempo. Se você conseguir trocar a mala G pela mala M já vai ser um grande passo.
Não há mala que sempre dure. Troque já sua mala G por uma mala M (ou por uma mala P!), viaje mais leve e mais feliz.
Fonte: Viaje na viagem