Mais de 30 mil brasileiros convivem com a doença que ataca o sistema nervoso

Jovens com idades entre 20 e 40 anos, e frequentemente mulheres, são os grupos mais suscetíveis ao desenvolvimento da Esclerose Múltipla. Segundo estimativa da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (Abem), a doença neurológica afeta ao menos 35 mil de brasileiros.

De acordo com a neurologista da NeuroAnchieta, Dra. Priscilla Proveti, a Esclerose Múltipla é uma doença crônica, autoimune e desmielinizante do sistema nervoso central. “Os neurônios têm uma bainha de mielina que funciona como uma capa de fio elétrico que é responsável por transmitir o impulso nervoso do cérebro para outras outras partes do organismo e vice-versa. No entanto, na Esclerose Múltipla, o sistema imunológico identifica essa bainha como uma ameaça e ataca, por isso o termo desmielinizante”, explica. A perda da  bainha de mielina prejudica a função do neurônio e gera uma inflamação que atinge diversas partes do sistema nervoso e ocasiona sintomas variados de acordo com a área do cérebro afetada.

As causas para o surgimento da Esclerose Múltipla ainda não são claras. No entanto, múltiplos fatores ambientais e genéticos já foram associados à fisiopatologia da doença. Dentre os fatores ambientais, está a imaturidade do sistema imunológico, a infecção por alguns agentes virais e bacterianos, como o herpesvírus tipo 6, vírus Epstein-Barr, retrovírus endógeno humano; baixos níveis de vitamina D e o tabagismo. A presença dos genes HLA DRB1 e HLA DQB1, que estão envolvidos na resposta imune do organismo, é um dos principais fatores genéticos para o surgimento da Esclerose Múltipla.

Sintomas

De acordo com a neurologista a doença pode manifestar sintomas sensitivos, motores, incoordenação e/ou alterações visuais, a depender da região do cérebro afetada. “Entre as queixas mais frequentes estão alterações visuais, fraqueza nos membros, desequilíbrio, incoordenação, alterações de sensibilidade e distúrbios urinários”, conta.

Quando afeta a visão, a doença pode ocasionar embaçamento visual, perda do brilho das cores, até perda visual, geralmente acompanhado da dor a movimentação ocular. os sintomas sensitivos são os mais comuns Ao menos 40% dos pacientes relatam alteração da sensibilidade em determinada região do corpo, formigamentos ou dor inexplicável.

Em alguns casos, alterações cognitivas e de memória podem ocorrer, mas na maioria das vezes, tendem a desenvolver-se tardiamente.

Diagnóstico e Tratamento

O diagnóstico da Esclerose Múltipla é feito a partir de exames laboratoriais, clínicos e radiológicos. A Ressonância Magnética é um dos exames de imagem mais importantes tanto no momento do diagnóstico inicial, quanto no acompanhamento da doença no tempo. Segundo o médico radiologista do Anchieta Diagnósticos, Dr. Felipe Landeira, o exame “permite afastar outras possibilidades diagnósticas, avaliar resposta ao tratamento e identificação de novas crises da doença, além de identificar casos em que se podem esperar melhor ou pior prognóstico”.

Para a avaliação da doença por Ressonância Magnética é necessário um aparelho de alto campo, ou seja, Tesla 1,5 ou 3. Nesses casos, pode haver administração venosa de contraste, acrescentando informações essenciais para o diagnóstico e acompanhamento, permitindo caracterizar doença em atividade. “O aparelho de 3 Tesla possibilita a aquisição de imagens mais completas, permitindo uso de técnicas mais rebuscadas e melhor identificação de lesões, destacando-se as técnicas DIR (double inversion recovery) e PSIR (phase sensitive inversion recovery) que favorecem a identificação de lesões cerebrais corticais ou justacorticais (leucocorticais), que tem impacto no diagnóstico e no acompanhamento”, conta Dr. Felipe Landeira.

Segundo a Dra. Priscilla Proveti, outro exame normalmente indicado é o de Liquor. O Líquor (Líquido Cefalorraquiano)  é um fluído corporal transparente produzido pelo cérebro. A análise feita a partir de uma pequena coleta desse líquido pode identificar diversas doenças do sistema nervoso. “Esse exame também pode auxiliar no diagnóstico, assim como pode ser essencial para o diagnóstico diferencial”.

Já o tratamento apresenta três bases principais: tratamento do surto, de manutenção e o sintomático. “O primeiro é feito principalmente com corticoides em altas doses, com duração de 3 a 5 dias. O tratamento de manutenção é o que realmente impede a progressão da doença, controlando o processo inflamatório. Existem diversos medicamentos disponíveis, sendo os imunomoduladores e imunossupressores os principais. O tratamento sintomático consiste em tratar possíveis sequelas e sintomas, como a fadiga e a incontinência urinária”.

Fonte: Divulgação