Pesquisadores australianos revelaram que 53 milhões de novos casos de depressão foram registrados no mundo em 2020. O estudo, que avalia os impactos da covid-19 em 204 países e foi publicado no periódico The Lancet, demonstra que mulheres e jovens foram os grupos mais afetados e que o Brasil está na lista de lugares mais atingidos por esse fenômeno.

A pandemia elevou os casos de esgotamento físico e mental no ambiente de trabalho. De acordo com o relatório da McKinsey & Co. em parceria com a LeanIn.Org, divulgado em outubro, um terço das mulheres consideraram reduzir a carreira ou abandonar o ambiente corporativo por completo no último ano. Elas também são mais propensas a identificar e relatar a síndrome de burnout.

Cuidar da saúde mental vai muito além de se priorizar e permite reduzir problemas de saúde a longo prazo. Mas, com sintomas semelhantes, como identificar as diferenças entre estresse, burnout, depressão e estafa? Convidamos Edwiges Parra, psicóloga organizacional e especialista em recursos humanos, para desmistificar as causas de cada um destes que são classificados e tratados de formas distintas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e que podem acometer pessoas de todas as idades.

“Todos podem assumir o protagonismo da sua saúde, principalmente nesse cenário pós pandemia, em que nos percebemos mais frágeis e ansiosos. Começar agora e não se negligenciar é um ato de amor próprio”, diz a psicóloga que ressalta a importância da avaliação médica e o uso de medicação, quando necessária, prescrita por um especialista.

ESTRESSE:

Resposta fisiológica do corpo às circunstâncias do dia-a-dia que geram instabilidade e que na maioria das vezes exigem ajustes comportamentais, podendo ser o indício de uma doença ou apenas uma reação pontual à alguma situação ou condição emocional externa negativa ou positiva.

A longo prazo, acontece quando há sobrecarga dos nossos recursos de enfrentamento prejudicando a saúde física e influenciando na vulnerabilidade. Quando ocorre de maneira excessiva, pode causar problemas e a percepção constante que o nosso meio ou as situações são sempre desafiadoras ou ameaçadoras.

Entre as principais causas estão: conflitos no ambiente familiar, dificuldades financeiras, problemas de saúde, instabilidade no trabalho ou a falta dele, relacionamentos tóxicos, divórcio, pandemia, excesso de responsabilidade, entre outros.

Apesar de não ser uma doença é um gatilho e pode desencadear comer, beber, fumar, trabalhar em demasia, sendo esses motivos para fugir da realidade, também procrastinação e falta de sono. O tratamento consiste em identificar o fator estressante e prevenir o desgaste emocional com alimentação saudável, atividade física, meditação, técnicas de respiração, ritual do sono, trabalhos manuais e atividades prazerosas que estimulem o lúdico.

Anitta - Blusa Brunello Cocinello. Calça YES I AM. Brinco Montecarlo  (Foto: Vivi Bacco (THINKERS))
Anitta foi diagnosticada com estafa em 2019 (Foto: Vivi Bacco (THINKERS))
BURNOUT:

De acordo com a OMS não é uma condição médica, mas uma síndrome ligada ao ambiente e tipo de trabalho, que tem início, meio e fim e pode se desenvolver de maneira gradual.

Entre as causas estão o estresse crônico gerado pela alteração de gerência, liderança ofensiva, cultura corporativa opressora, ausência de segurança psicológica, prazos curtos, carga horária excessiva, falta de reconhecimento, cansaço profundo, sensação de ameaça e um ambiente pouco saudável.

Sintomas: cansaço extremo (físico e mental), irritabilidade, alterações repentinas de humor e apetite, dores de cabeça frequentes, insônia, agressividade com amigos e familiares, sensação de ineficácia constante e sudorese, podendo deflagrar transtornos futuros como pânico e ansiedade.

Tratamento: é realizado por uma equipe multidisciplinar, com atendimento de psiquiatra, endocrinologista, nutricionista e profissional de educação física, para que a pessoa ressignifique e crie novas estruturas para voltar ao ambiente colaborativo.

DEPRESSÃO:

Classificada como uma doença psiquiátrica crônica, pode ser causada por determinantes sociais, genéticos ou traumáticos, provenientes de complicações e estágios de tristeza resultantes de grande estresse.

A diminuição e escassez da serotonina, neurotransmissor que produz a sensação de bem estar vital para o funcionamento do organismo, influencia na qualidade do sono, humor, alimentação, vida sexual e relações interpessoais. Por isso, alguns dos sintomas são a perda de prazer, irritabilidade constante, dificuldade para dormir, apatia, cansaço inexplicável, falta de memória e problemas para se concentrar.

Segundo a OMS, a depressão tem diferentes níveis e por isso precisa ter a avaliação constante de um profissional, principalmente para o tratamento que pode consistir na ingestão de antidepressivos, que tem como principal objetivo combater o desequilíbrio químico no cérebro e restabelecer a produção de serotonina. Além disso, acompanhamento psicológico, alimentação saudável, exercícios e atividades prazerosas fazem parte do tratamento.

ESTAFA:

É a sensação de esgotamento mental, muito semelhante à síndrome de Burnout porque também pode acontecer no ambiente de trabalho e que pode não ser diagnosticada. O que a caracteriza, além do cansaço extremo, é a falta de energia e motivação para tarefas simples, como se relacionar com pessoas, estudar e finalizar tarefas profissionais.

Entre os sintomas estão falhas de memória e concentração, dificuldades na digestão, palpitações nas pálpebras, irritabilidade, fadiga, desânimo prolongado e esgotamento presente. O tratamento é feito com psicoterapia e acompanhamento médico.

 

Fonte: Revistamarieclaire